Resistência: uma forma de viver

A ideologização funciona porque a sociedade, as famílias e as escolas estão (estamos) deixando de estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.

Por Nei Alberto Pies*

Vivemos tempos onde ocorrem sucessivas avalanches políticas e sociais, eventos que destroem, sem pudor e sem piedade, tudo o que dignifica as humanidades e o que promove humanização. Por isso, urge que sejamos Resistência, sempre e em todo lugar, em toda e qualquer circunstância em que seja possível afirmar a dignidade, a criatividade e a liberdade humanas.

O sistema, o mundo, tenta destituir, ao máximo, a ideia de que todos somos Sujeitos. Sujeitos são aqueles que promovem ou organizam a sua ação. Por mais que os ambientes e contextos sejam hostis, carregados de arrogância, uivados de medos e de repressão, os sujeitos se insurgem, se impõem, mesmo que não apareçam, imediatamente, seus protagonismos. Os sujeitos agem, mesmo à margem dos caminhos traçados. Trata-se de uma teimosa e corajosa resiliência, que estes alimentam para não sucumbir e não morrer, a partir da negação da dignidade, liberdade, criatividade e criticidade.

Uma das estratégias mais bem elaboradas que se vê por aí é transformar os sujeitos em manada, em bando, em seguidores, em meros reprodutores de informação. Nada de pensar, de organizar, de questionar, de perguntar.

Sujeitos se tornam fortes e mais perigosos quando organizados, quando somam-se em diferentes lutas e causas, quando se juntam a outros para demonstrar o poder e a capacidade que têm as suas ideias. Mais do que nunca, as sucessivas avalanches sociais e culturais destituíram e deslegitimaram todas as formas de organização social.

Nada, ou muito pouco do que se anuncia por aí, tem essência libertadora. Tudo é muito manipulado, maquiado, pré-estabelecido. As humanidades ainda se impõem, apesar do sutil e sofisticado patrulhamento ideológico. A ideologização funciona porque a sociedade, as famílias e as escolas estamos deixando de estimular e incentivar pensantes mentes brilhantes.

Por que resistem, os sujeitos têm sua existência sempre questionada. E são severamente temidos e combatidos. Apesar de tudo, entretanto, muitos sujeitos agem nas sutilezas e brechas do sistema.

Até quando existirão sujeitos? Até quando os mais sensatos, sábios e destemidos lutarem por eles. Até quando eles próprios não cansarem de resistir e lutar pela sua existência.

O sistema é cruel e a resistência tornou-se uma nova forma de viver. Quem viver, verá! ν

* Nei Alberto Pies é professor da rede pública no Rio Grande do Sul e ativista ambiental.

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