O processo do envelhecimento

“A velhice é um presente, um dom de maturidade e sabedoria. A Palavra de Deus ajudar-nos-á a discernir o sentido e o valor da velhice”. (papa Francisco)

Por Fátima Bazeggio*

Vivemos tempos de mudanças significativas em todas as áreas da sociedade. O processo de envelhecimento da população mundial tem chamado a atenção de profissionais e especialistas de diferentes áreas de atuação. Entre tantas publicações que tratam sobre o tema do envelhecimento, também a Igreja tem se pronunciado fortemente, chamando a atenção para a necessidade de se rever posições e dar novo sentido e valor à velhice. O envelhecimento é um fator que ocorre de forma progressiva e sob determinadas condições, como biológicas, psicológicas e sociais. Nas sociedades modernas há uma tendência de olhar o processo do envelhecimento, como incapacidade para exercer funções ou atividades sociais, fazendo dessa forma prevalecer uma imagem decadente e negativa do idoso. Por outro lado, existe uma forte corrente que liga o envelhecimento ao momento da vida fecundo de maturidade, sabedoria e experiência de vida, que acrescenta valores tanto para as novas gerações como para toda sociedade.

“A qualidade de uma civilização, julga-se pelo modo como se tratam os idosos e pelo lugar que lhes reservam na vida comum. A atenção aos idosos distingue uma civilização. Numa civilização presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente se souber respeitar a sabedoria, a experiência dos idosos. Numa civilização em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte”.(Papa Bento XVI)

O idoso nas diferentes culturas

Todo indivíduo traz consigo uma identidade étnica e cultural, que se baseia em conceitos, que acompanha a história do grupo ao qual pertence, portanto, formular juízos e opiniões sobre a concepção de velhice de um modo geral, traz grande perigo e demonstra falta de respeito por expressões culturais e religiosas, diferentes das que conhecemos.

Vivemos em um país, que assim como uma grande Mãe, acolheu povos de todas as raças e culturas e que busca conviver em harmonia, com todo o diferente que se encontra, tanto na figura de um vizinho, como de um profissional de saúde, como de um professor ou de um empresário. Viver e conviver com diferentes grupos culturais, permite um crescimento e possibilita conhecer para entender melhor, o seu específico e como cada indivíduo reage a ele. Esse contexto é complexo e nos leva a formular a teoria de que a velhice, como uma fase da vida humana, deve ser entendida e acolhida com respeito, compreensão e acima de tudo, cuidado no amor.

Na China, um país de tradição confucionista existe uma lei que ordena, sob pena de multa e até de prisão, que os filhos devem visitar seus pais idosos, não importando o quão longe eles vivam. O código civil da França de 2004 exige que os filhos adultos mantenham contato com seus pais idosos, em resposta a um estudo que mostrou a alta taxa de suicídio de idosos na França. Na Índia e no Nepal uma tradição recente diz que, o casal jovem deve viver com a família do noivo. A linguagem local também revela sufixos que são adicionados às palavras indicando títulos de grande honra, como “JI” na Índia. Mahatma Gandhi é muitas vezes referido como “Gandghiji”. EmKiswahili, falado em muitas partes da África, a palavra "MZEE'' é usada para comunicar um alto grau de respeito aos mais velhos. A palavra havaiana “KUPUNA” significa ancião, com acentuação de conhecimento e experiência. No Japão o sufixo “SAN” é usado para revelar a profunda veneração da nação para o mais velho.

Daí ao nosso coração sabedoria

Independente da visão que se tenha da velhice, a família é de vital importância na vida do idoso e o ambiente familiar o melhor espaço para dispensar os cuidados e atenção que são necessários para o seu bem-estar. Os filhos sentem que cuidar dos pais é sua responsabilidade, em retribuição aos cuidados recebidos na infância. As alterações na vida das famílias, por si só, já geram longos períodos de ausência do lar, o que pode provocar no idoso, sensação de abandono e de solidão. Apoiar e dar suporte emocional a um idoso é muito mais do que ficar ao seu lado. As necessidades do idoso são de ordem afetiva, emocional, mas também social, para que ele se sinta seguro, amado, operativo e valorizado.

E quando se trata de idoso em situação de fragilidade física ou mental, dependências que exijam cuidados específicos e o lar não tem estrutura suficiente para suprir as suas necessidades? E quando a situação sugere a institucionalização? Quem pode julgar uma atitude, sem saber ou conhecer, o que realmente vai no íntimo de cada família? O Lar São Vicente de Paulo, na nossa cidade, é uma instituição que tem a missão de acolher idosos e oferecer várias modalidades de serviço, buscando a excelência, tanto para a manutenção do lar, como para a sua administração e proporcionar, cuidados, bem-estar, dignidade e respeito. “Se à velhice não for restituída a dignidade de uma vida humanamente digna, está destinada a fechar-se num desânimo que rouba a todos o amor. Este desafio de humanidade e de civilização requer o nosso empenho e a ajuda de Deus. Com esta catequese sobre a velhice, gostaria de encorajar todos a investirem os seus pensamentos e afetos nos dons que ela tem em si e proporciona às outras idades da vida. A velhice é um presente, um dom de maturidade e sabedoria. A Palavra de Deus ajudar-nos-á a discernir o sentido e o valor da velhice”. (Catequese do papa Francisco sobre a velhice)

* Fátima Bazeggio é Leiga Missionária da Consolata, LMC.

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