Educar é um ato de amor!

Campanha da Fraternidade 2022 reflete sobre duas lições: a pessoa humana como centro do processo educativo e a amorosidade presente na ação educadora.

Por Fátima Manoela Pastor de Albuquerque Pires *

Foto: Arquivo Pessoal

A Campanha da Fraternidade 2022 aborda a realidade da Educação em diversos âmbitos da sociedade e propõe significativa mudança de paradigma. Essa mudança deve ocorrer no campo das relações interpessoais para que a Educação seja verdadeiramente transformadora. Nessa perspectiva, nos ajuda a refletir sobre duas lições relacionadas ao ato de educar. A primeira coloca a pessoa humana como centro do processo educativo e a segunda se refere à amorosidade presente na ação educadora, processo que orienta e conduz a pessoa ao caminho de uma vida que se renova pela escuta e acolhida. A Educação precisa ser compreendida em seu sentido mais amplo, sentido que abrange a pertença e a participação das pessoas no mundo, de forma integral e solidária.

Educar é um ato de amor e o amor é exigente! Ao amor se unem muitas outras emoções, quando quem pensa que educa é aquele que talvez mais aprenda. Educar é via de mão dupla, onde vidas se cruzam e se transformam deixando profundas marcas naqueles que se encontram. Nosso esforço é para que essas marcas sejam positivas, ajudem a sonhar, crescer e realizar, façam a diferença e gerem mais Vida e preservem a Vida!

Modelo a seguir

Mas nessa jornada educacional, qual é o modelo a seguir? No campo da Pedagogia, temos muitos: desde educadores renomados, inúmeras teorias, tendências, até linhas pedagógicas e métodos diversos, todos de valor em sua época e contexto social, político e cultural. Contudo, para o cristão, o grande modelo de educador é Jesus! É Ele o mestre e o primeiro caminho a ser seguido! A Pedagogia é a do encontro! Podemos dizer que por essa ótica, educa de verdade quem gosta de estar com gente! Quem gosta de gente! Quem gosta de ensinar sabendo ouvir, ouvir muitas vezes aquilo que não é dito!

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Foto: Arquivo Colégio Consolata

A educação cristã precisa conduzir as novas gerações à construção de um projeto de vida e impulsioná-las a assumirem o protagonismo de suas próprias vidas. Deve educar a sensibilidade e confrontar a “idolatria do eu” (egolatria), buscando caminhos e palavras assertivas para devolver a todos, sem exceção, a originariedade e a beleza da vocação humana no encontro com o outro.

É seguindo o Mestre e Educador Jesus Cristo, que pela terceira vez a Igreja do Brasil se une para “VER”, “JULGAR” e “AGIR” a Educação em nosso país, iluminando, à Luz do Evangelho, o nosso compromisso, especialmente diante dos irmãos e irmãs em situação de vulnerabilidade. Em 2022, esse compromisso é reforçado pela dinâmica do “Ver” na perspectiva do escutar; do “Agir” seguindo o caminho do propor; e do “Julgar” com o olhar de discernimento, verdadeira sabedoria.

Fazendo memória dos temas e lemas, temos:

  • 1982-Educação e Fraternidade - A verdade vos libertará;
  • 1998-Fraternidade e Educação - A Serviço da Vida e da Esperança;
  • 2002-Fraternidade e Educação - Fala com Sabedoria, ensina com amor – Cf. Pr 31, 26.

Nas reflexões propostas no Texto-base deste ano, somos nós, discípulos missionários educadores, que seguem aprendendo com o Cristo e buscam, humildemente, restaurar as relações rompidas a partir de uma profunda vivência quaresmal. A Campanha também nos coloca em comunhão com uma iniciativa ainda maior, de âmbito mundial: a convocação feita pelo Santo Padre, o papa Francisco, em 2019/20, para a realização de um Pacto Educativo Global.

Pacto Educativo Global

O Pacto Educativo Global consiste em um chamado da Igreja ao mundo inteiro, para que em todas as esferas sociais, as pessoas de boa vontade nas diferentes instituições, igrejas e governos valorizem e priorizem a Educação humanista, integral e solidária, compreendendo que é somente por meio da Educação que poderemos transformar verdadeiramente a sociedade, mudando os rumos da humanidade. A necessidade de uma educação integral, como base da ecologia integral, já havia sido profundamente abordada pelo Santo Padre na belíssima Carta Encíclica Laudato Si, em 2015.

É fundamental que todos nós tenhamos consciência de que fazemos parte de uma infinita rede de relações. Seguimos conectados uns aos outros e a toda a Criação, como nos diz poeticamente a canção de padre Cireneu Kuhn, Svd: “Tudo está interligado como se fôssemos um, tudo está interligado nesta casa Comum”.

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Foto: Arquivo Colégio Consolata

Vivemos tempos de profundas transformações e sabemos que são muitas as pandemias que a humanidade enfrenta. O mundo precisa de nós! Não podemos nos acomodar à realidade que por vezes nega a vida plena proposta por Jesus. A esperança, fruto da educação cristã, alimenta forças, amplia horizontes, conduz ao cultivo de projetos de amplo alcance, que tem condições de ir além do ordinário. Para o Bem-aventurado José Allamano: “É preciso ser extraordinário, no ordinário!” E a Educação tem esse poder!

Papa Francisco nos propõe: “Vamos reavivar o compromisso em prol e com as gerações jovens, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão. Nunca, como agora, houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna”.

Como educadora, em uma instituição católica, vejo com muita esperança a valorização que a Educação recebe nestes tempos tão desafiadores. Ela, mais do que nunca, é compreendida como caminho de libertação. Acredito que nada substitui a afetividade sincera e a partilha de dons, fruto das relações interpessoais. Nós nos completamos e juntos podemos concretizar o Projeto de Amor do Pai.

É no Evangelho que encontramos a motivação para a vivência de um estilo de vida que favoreça o nascimento da cultura do encontro, a amizade social e a fraternidade como resposta de um processo educativo integral, que nos impulsiona e nos forma para o serviço. Papa Francisco afirma no Instrumentum Laboris do Pacto Educativo Global: “Nenhum educador alcança plena ação educativa se não se comprometer a formar e a plasmar, naqueles que são confiados a seus cuidados, uma plena e real disponibilidade ao serviço dos outros, de todos os outros, de toda a comunidade humana, a partir daqueles que mais apresentam uma situação de fadiga e de desafio. O verdadeiro serviço da educação é a educação ao serviço”.

Ao dizermos sim ao que nos propõem o Pacto Educativo Global e à Campanha da Fraternidade 2022, assumimos o compromisso de romper as fronteiras dos nossos corações e compreender o nosso país e todo o planeta como uma grande aldeia. Pensemos as nossas famílias, as nossas escolas, as nossas comunidades religiosas e tantas outras instituições presentes na sociedade como pequenas aldeias que se conectam umas às outras, com os mesmos ideais, onde todos são verdadeiramente responsáveis pela educação das gerações mais jovens e humildemente se educam nesse processo.

* Fátima Manoela Pastor de Albuquerque Pires é coordenadora da Pastoral Escolar do Colégio Consolata, São Paulo.

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