Direito e justiça

Que o direito corra como a água e a justiça como um rio caudaloso! (Amós 6,24)

Por Mauro Negro*
Foto: HalfPoint/iStock/Thinkstock

Ao se falar de justiça e de direito, do que se está falando? Estas palavras são amplas, até difíceis de serem compreendidas, pois são tantas as suas possibilidades. Por isso é preciso retornar à Palavra de Deus e observar lá o que elas querem dizer. O profeta Amós, preocupado não apenas com as expressões religiosas, mas com a coerência entre o crer e o viver, afirma a respeito da retidão do culto feito a Deus: Que o direito corra como a água e a justiça como um rio caudaloso!

Direito e justiça, aqui, são duas faces de uma realidade, expressa nas imagens da água e do rio caudaloso. O direito é o que é buscado, o que define a pessoa e suas ações. É direito pois é uma conquista. No caso do Antigo Testamento o Direito é a terra, a cultura, o culto, a vida em liberdade e autonomia. É Direito poder ser Povo de Deus e assim viver. A água é totalmente necessária à vida. O Direito tem esta imagem de água: mantém a vida, é o fundamento de suas possibilidades. É a identidade que a pessoa, a natureza e a história tem com o Salvador, o Criador e o Senhor.

A Justiça não é uma norma, uma lei ou o resultado de ações legais. A Justiça é a proximidade da pessoa com o seu Deus. O justo é aquele que está perante Deus e sabe seu lugar, reconhece seu papel. A Justiça então é o caminho do Direito. Não é uma aplicação de leis, como na linguagem corrente, mas é a assimilação do Direito, a identidade que se tem quando ele é vivido. Por isso a imagem do rio caudaloso para a Justiça. Ela precisa de abundância, de fartura, para que o Direito possa ser real e vital.

Às vezes usam-se estas palavras sem o devido respeito para seus conteúdos mais íntimos. O Profeta Amós posiciona isso tudo na relação do ser humano com Deus. Para ele, o culto feito a Deus tem estes dois polos: o Direito e a Justiça. Se não existirem, não há culto a Deus, mas idolatria.

Nos tempos atuais é preciso retornar a estes conceitos e buscar as suas perspectivas, pois é fácil isolar a Fé em termos de fórmulas da verdade, e não na própria Verdade que o Direito e a Justiça propõe. O Direito, como a água, necessidade para a vida, e a Justiça como o rio caudaloso, caminho para a vida e a história, são possíveis marcas da Missão e de sua realização e atualidade.

Que o Profeta Amós nos ensine a viver, sentir e lutar por tudo isso. Como ele o fez!

* Mauro Negro, OSJ. Biblista PUC São Paulo SP mauronegro@uol.com.br

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