Maria Regina Canhos Vicentin *
Semana passada, o artigo versou sobre a renovação de nossos pensamentos, palavras e ações. Pois bem, seguindo a mesma linha, já que estamos nos aproximando do Natal e prestes a encerrar o ano de 2010, convido cada leitor a fazer a sua parte. Obviamente é bastante cômodo esperar mudanças nas outras pessoas, assim como elaborar planos para modificar o mundo, no entanto, quase sempre nos esquecemos que podemos começar as transformações por nós mesmos.
Por estes dias recebi uma mensagem muito interessante. Ela trazia a figura de um aprendiz inconformado com as barbaridades praticadas atualmente (violência, corrupção, fraudes), pedindo conselhos ao seu mestre, com o objetivo de encontrar meios para melhorar o cenário mundial. O mestre não respondeu nada de início, mas com a insistência do aprendiz acabou orientando o rapaz a cuidar de si mesmo, assim o mundo teria um corrupto a menos. Sábio conselho, sem dúvida, pois nos preocupamos exageradamente com o comportamento alheio, esquecendo de observar nossas próprias atitudes.
É comum criticarmos as grandes roubalheiras, enquanto perdoamos nossos pequenos furtos e deslizes. Ficamos chocados com cenas de violência explícita enquanto abusamos do nosso poder familiar, sujeitando o cônjuge e os filhos, usando de força física, estimulando a sexualidade de inocentes crianças, humilhando e afetando psicologicamente aqueles que deveriam estar sob a nossa proteção. Criticamos a devassidão, mas aproveitamos as oportunidades que a vida nos traz para exercitar nossa sexualidade com o marido ou a mulher do próximo. Ficamos irados ao ser logrados numa compra, mas sempre que podemos, damos um jeitinho de nos beneficiar quando efetuamos uma venda. Enfim, temos uma condescendência enorme conosco, e decerto ajudamos a manter o mundo exatamente como está.
Para mudarmos o cenário atual precisamos começar mudando a nós mesmos. Se nos permitimos certas coisas outros também se sentirão no mesmo direito. A questão é que não queremos sair perdendo. Para que deixar de aproveitar da ignorância alheia ou de sua vulnerabilidade afetiva se outros vão continuar usufruindo? Essa deve ser uma questão recorrente para quem costuma querer levar vantagem sobre o outro. É uma pena, mas é a realidade. Vemos o cisco no olho do irmão e deixamos de ver a trave no nosso (Mt 7, 3).
Para que haja transformação é necessário que exista o desejo de abrir mão dos nossos pecados de estimação. Sabe quais são os nossos pecados de estimação? Aqueles que cometemos seguidamente, pois nos falta o verdadeiro propósito de mudança. Sabemos que está errado, mas não nos empenhamos para resistir à tentação de praticar. Então, fazemos um esforço mínimo, e projetamos no outro a devassidão, o crime e a violência, para podermos continuar a ser quem somos, já que erramos numa escala menor.
Quanta ignorância a nossa! Justificar nosso pequeno pecado olhando para quem comete grandes pecados. Será que isso faz com que sejamos mais santos ou serve apenas para confortar a nossa consciência pesada? O erro deixa de ser erro por ser menor ou maior? O foco tem de ser no próprio eu. Se quero mudança, preciso começar comigo mesmo. Pensando dessa forma, logo teremos novas atitudes e um mundo diferente.
* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br
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