Deus sabe

Maria Regina Canhos Vicentin *

Maria estava completamente exausta. Não tinha trabalhado tanto assim, mas carregava um peso enorme. Naquela semana, muitas discussões haviam ocorrido em seu serviço. As colegas não se entendiam, e cada qual desejava fazer somente o que lhe aprazia, sem levar em conta que representavam um grupo e não uma unidade. O clima foi ficando pesado. A troca de ironias e olhares fulminantes passaram a ser constantes e insuportáveis. Maria já não tinha vontade de ir para o trabalho. A negatividade daquele ambiente parecia sugar suas energias. Não havia um mínimo de compreensão. A desconfiança rondava cada mesa e plantava incertezas. A falsidade nunca ficou tão evidente, assim como a indiferença, o comodismo, a vileza. Impressionante como certas pessoas se transformam repentinamente quando defendem prerrogativas que julgam possuir, ainda que usurpando direitos alheios. São verdadeiros lobos vestidos em pele de cordeiro. Uma hora a máscara cai; e dessa vez, caiu mesmo. Maria estava inconformada com a situação.

De início, perguntava a Deus o que teria feito para merecer trabalhar num local assim. Será que estava sendo castigada por alguma falta? Falhou em alguma coisa? O que poderia justificar tamanha provação? Por outro lado, será que Deus desejava que fosse sinal de amor entre as colegas? Queria que ela tentasse apaziguar os ânimos exaltados e apresentar uma palavra de conforto? Maria não sabia o que fazer nem se sentia preparada para combater sem armas. Percebia-se frágil e vulnerável diante daquele ambiente hostil. Chorou, numa demonstração clara de quem está no limite da resistência, frente tanta desarmonia. Rogou a Deus que a protegesse de mal maior, pois nunca se sabe até onde pessoas doentes podem chegar para alcançar seus objetivos. Também não se sabe até que ponto nosso organismo consegue administrar o estresse sem sobrecarregar o coração. Entregou todo o seu sofrimento nas mãos de Jesus, e foi para casa.

Quando chegou, seu marido a recebeu com um abraço e um beijo carinhoso. Segurou suas mãos em sinal de cumplicidade e jantou em silêncio a seu lado. O filho se aproximou e perguntou porque ela estava tão triste, colocando a mão sobre seu ombro. A filha contou piadas, buscando arrancar um sorriso que surgiu espontaneamente após essa demonstração de afeto explícito. Maria tomou consciência naquele momento da família maravilhosa que possuía. Embora se sentisse massacrada por trabalhar num ambiente tão adverso, podia seguramente desfrutar da compreensão e do amor dos seus no lar.

Maria não obteve de Deus as respostas para suas perguntas iniciais. Ainda se esforça muito para ser presença pacífica num ambiente conturbado pelo egoísmo, insensatez, competitividade e inveja. Mesmo assim, ela se abastece e conforta junto daqueles que ama e que também a amam, ciente de que Deus sabe as respostas, ainda que não as tenha revelado. Os propósitos de nosso Pai são sempre perfeitos, mesmo que não consigamos enxergá-los assim num primeiro momento. Tudo tem a sua razão de ser nesta Terra. Maria não sabe, mas confia que Deus sabe, e se Ele sabe, não há mais porque se questionar.

* Maria Regina Canhos Vicentin (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora. Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br

Fonte: www.mariaregina.com.br

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