A Missão pulsa no coração

Jaime C. Patias *

Na ação evangelizadora da Igreja, a missão acontece de várias maneiras, conforme exemplos contidos no Novo Testamento. É possível evangelizar pela proclamação da Palavra de Deus, decisiva para a fé do cristão; por convocação, chamando todos para as bodas (cf. Mt 22, 9); por atração, como fazia a primeira comunidade de Jerusalém (cf. At 5, 16), conforme lembrado pelo Documento de Aparecida quando afirma: "a Igreja cresce, não por proselitismo, mas 'por atração': como Cristo ‘atrai tudo para si' com a força do seu amor" (DA 159).

A evangelização acontece ainda por irradiação: sendo perfeitos como o Pai do céu é perfeito (cf. Mt 5, 48); por contágio, assim como uma vela acende outra vela. Esse modo de evangelizar pode ser de pessoa a pessoa, de grupo a grupo, de comunidade a comunidade, de casa a casa, de corpo a corpo etc. fermentando toda a humanidade (cf. DA 550). Temos ainda os meios de comunicação, que com as novas tecnologias movem mentes e corações, tornando-se hoje instrumentos privilegiados no anúncio da Boa Notícia. Todas estas formas de evangelizar são mais consistentes se integradas umas às outras.

Focando especificamente no primeiro anúncio, os bispos em Aparecida afirmaram: "o campo da Missão Ad Gentes tem se ampliado notavelmente e não se pode defini-lo baseando-se somente em considerações geográficas ou jurídicas. Na verdade, os verdadeiros destinatários da atividade missionária do Povo de Deus não são só os povos não cristãos e das terras distantes, mas também nos campos socioculturais e, sobretudo, os corações" (DA 375). Essa ideia ganha força quando percebemos que o coração é um órgão vital e que uma vez contagiado pela graça de Deus passa a orientar o ser humano com os valores evangélicos.

Nessa perspectiva, em meio a muitos sinais de mortes, por força do Evangelho somos convidados a afirmar e cuidar da vida como um todo. A vida se apresenta como num mosaico, com cores e formatos diferentes, que se visto de maneira fragmentada não é compreendido, mas quando somados na diversidade desvelam o reino de Deus existente numa sociedade multiétnica, pluricultural, macroecumênica, inter-religiosa e pós-moderna.

Na sua dinâmica, o mundo nos desafia ao diálogo, ao anúncio da Boa Nova nas suas múltiplas modalidades e meios, para além das nossas "paróquias" tradicionais, visando construir comunidades organizadas em rede e em movimento. Essa missão evangelizadora deve abraçar a todos, especialmente os mais necessitados e excluídos. Por isso, a missão não pode se separar da solidariedade e da promoção humana integral que nos leva a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos migrantes, dos Povos Indígenas e afrodescendentes, ultrapassando as fronteiras para chegar, por exemplo, ao Haiti ou à Mongólia, para citar dois países símbolos da missão além-fronteiras.

Para concretizar a "conversão pastoral e renovação missionária" da Igreja, o Documento de Aparecida propõe, entre outras iniciativas, a sua setorização em unidades territoriais menores, permitindo maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região, a criação de "comunidades de famílias que fomentem a colocação em comum de sua fé cristã e das respostas aos problemas" (DA 372). Essa organização em círculos menores facilita a vivência da missão no coração que pulsa o amor contagiante de Deus.

* Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.

Fonte: Revista Missões

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