Nelson Westrupp *
O mês de outubro oferece nova oportunidade para conscientizar-nos da grave responsabilidade da missão. "O compromisso de anunciar o Evangelho é dever de toda a Igreja, "missionária por natureza" (Ad Gentes, 2), recorda o Santo Padre, em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, cujo tema é "Missão e Partilha".
Embora haja homens e mulheres que se declarem ateus e não queiram ouvir falar de Deus ou de religião, não cessemos de dar razão de nossa fé (cf. 1 Pd, 3, 15), nem deixemos de falar e, sobretudo, de apresentar Jesus, fazendo resplandecer o Rosto de Cristo em todos os ambientes que frequentamos, assumindo cada vez mais em primeira pessoa o anúncio da Palavra da salvação. Não nos podemos omitir do mandato do Senhor de "ir e fazer discípulos" entre todas as gentes (cf. Mt 28, 19) e de sermos generosos com os missionários e missionárias.
A nós cabe não calar nem desistir de levar as pessoas ao verdadeiro encontro com Jesus Cristo, pois Ele é o único Caminho, a única Verdade, a única Vida. Somente em Cristo encontramos o sentido de nossa vida.
Para que isso se torne realidade, é necessário, insiste o Papa Bento XVI, uma profunda conversão pessoal, comunitária e pastoral. O Evangelho deve chegar ao coração de todas as pessoas, onde quer que elas se encontrem. "Não há nada de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-lo e comunicar aos outros a amizade com Ele" (Bento XVI, Homilia, 24.4.2005). Portanto, aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus, é de encontrar Cristo e acreditar Nele" (Sacramentum Caritatis, 84). Como, porém, anunciá-Lo sem O conhecer? Como seria maravilhoso se todos nós, batizados e batizadas, nos tornássemos de verdade protagonistas do compromisso da Igreja de anunciar o Evangelho. "O impulso missionário, continua o Papa em sua Mensagem, sempre foi sinal de vitalidade para nossas Igrejas, e a sua cooperação é testemunho singular de unidade, fraternidade e solidariedade, que torna críveis os anunciadores do Amor que salva!"
Por outro lado, se não conseguirmos fazer voltar à comunidade eclesial todos os batizados e, especialmente, os que deixaram de frequentá-la, não percamos o ânimo, pois a palavra de Jesus também não foi acolhida em Nazaré, Corazim ou Betsaida (cf. Mc 6, 6; Lc 10, 13). Evangelizar significa, antes de mais nada, promulgar a Boa-Nova com testemunhos de vida e palavras e fazer o anúncio para dar a possibilidade a quem tem boa vontade de poder acolhê-la em suas formas mais autênticas.
Assim sendo, a evangelização acontece de várias maneiras, conforme exemplos contidos no Novo Testamento. É possível evangelizar pela proclamação da Palavra de Deus, decisiva para a fé do cristão; por convocação, chamando e convidando todos para as bodas (cf. Mt 22, 9); por atração, como fazia a primeira comunidade de Jerusalém (cf. At 5, 16). De fato, "a Igreja cresce, não por proselitismo, mas "por atração": como Cristo ‘atrai tudo para si' com a força do seu amor" (Dap, 159); por irradiação: sendo perfeitos como o Pai do céu é perfeito (cf. Mt 5, 48); por contágio, isto é, como uma vela se acende de outra vela, como um sorriso gera outro sorriso. Esse modo de evangelizar pode ser de pessoa a pessoa, de grupo a grupo, de corpo a corpo, etc.; e, ainda, fermentando toda a massa (cf. Mt 13, 33).
Todas estas formas de evangelizar se integram umas às outras. Como Igreja fundada por Jesus Cristo, temos a missão de anunciar o Evangelho, de guardá-lo nos corações e fazê-lo crescer (cf. Carlo M. Martini - Cardeal Arcebispo emérito de Milão, "Levanta-te, vai à Nínive, a grande cidade", Loyola, SP 1992, págs. 7-9).
Portanto, é hora de renovar o rosto de nossas Comunidades, fazendo transparecer a "sarça ardente" de nossa fé e de nossa esperança.
O primeiro anúncio é o segredo de uma fé viva, o espaço do Espírito Santo "dado sem medida" (Jo 3, 34), o impulso da vida da Igreja, o motor da transformação social, a fonte do serviço cristão, o pão para o caminho da missão a todas as gentes. Mas, para que nossa atividade missionária produza frutos, é necessário impregná-la de muita oração, abnegação e espírito de solidariedade para com os irmãos e irmãs.
Maria Santíssima, Mãe de Jesus e nossa, ajude-nos a viver em estado permanente de missão local e continental.
* Dom Nelson Westrupp, scj. Bispo de Santo André e Presidente do Regional Sul 1 da CNBB.
Fonte: www.cnbb.org.br