Maurício da Silva Jardim *
Entre nós missionários sempre reafirmamos que a missão é um dom do Espírito dado a Igreja. É uma graça que nasceu com o mandado de Jesus, Ide! Aqueles que foram podem dizer pela experiência que há mais alegria em dar do que receber. Os missionários (as) além fronteiras não são heróis ou melhores do que outros por estarem em terras distantes, são na verdade privilegiados que gozam da beleza da missão.
Na primeira quinzena de agosto estiveram conosco partilhando desta graça a visita de dom Jaime Kohl, Pe. Adilson Zílio e Silvane Agnolin do regional Sul 3 - Brasil. Visitaram comunidades e reuniram-se com os conselhos pastorais para ouvirem suas preocupações. Não faltaram pedidos para que se continue e amplie o projeto missionário enviando mais padres e leigos.
Sem muitas palavras o povo nos disse nas celebrações que é preciso partilhar de nossa pobreza. No momento das ofertas, dezenas de mulheres vinham até ao altar com danças trazendo suas tigelas transbordantes com produtos cultivados por elas mesmas. Nós que estávamos próximo ao altar, calamos diante da generosidade daquele povo. Deram com largueza de espírito de seu pouco.
Esta intuição da gratuidade deveria impulsionar toda ação missionária da Igreja. "Dê cada um conforme decidir em seu coração, sem pesar ou constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. Quem semeia pouco colherá também pouco e quem semeia com largueza também colherá com largueza". Eram estas palavras daquela celebração debaixo do cajueiro. Era o último dia da visita e o Evangelho também nos questionou: "Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto" (Jo12, 24).
Faz pensar. Se não dermos o passo de generosamente darmos de nossa pobreza, corremos o risco de continuarmos grãos de trigo sem produzir nada. Tenho convicção a partir deste chão Africano que nossas dioceses do Sul Brasil não nasceram para serem grãos de trigo, pelo contrário, o Espírito as convoca a serem grãos que passam pelo processo de morte para produzirem frutos.
Nossa Igreja do Brasil tem muito a agradecer pelos inúmeros missionários "Fidei Donum" que contribuíram e continuam contribuindo pelo testemunho e pela presença em lugares de fronteiras entre os mais necessitados, sobretudo na Amazônia. Nossa hora já chegou de partilharmos com as dioceses mais pobres do mundo aquilo que de graça recebemos.
Também agradeço com alegria os dezesseis anos de presença do Sul 3 aqui na diocese de Nampula, Moçambique. Na atual equipe de missionários (as) somos cinco pessoas, dois padres e três leigos que atendem duas grandes paróquias com 140 comunidades. No final deste ano voltam os três leigos e o Pe. Luis Cardalda também retorna a sua diocese de Goiás. Fico sozinho e entro num tempo de espera em Deus e confiança em Sua providência.
Para concluir, permito-me partilhar que há poucos dias ouvi de um amigo padre do Sul do Brasil que tem vontade de se lançar na missão além fronteiras, mas lhe falta coragem. Jesus responderia: "Coragem, não tenhais medo". Às vezes penso que no imaginário dos convidados pelo Senhor da messe, persiste uma idéia irreal de missão associada naquilo que temos que perder, deixar para trás ou morrer. As cruzes das malárias, das perdas, das saudades, das distâncias geográficas e culturais não se comparam com a beleza de estar aqui no meio deste povo, podendo partilhar um pouco de nossas vidas.
Agradeço de coração a visita que a equipe do Brasil nos fez, nos deixando animados pela convicção de que a missão é de Deus e por isso não faltarão pessoas generosas que acolherão o convite de partirem na descoberta da beleza da missão.
* Pe. Maurício da Silva Jardim, é Missionário do projeto Sul 3 CNBB, em Moçambique.
Fonte: Revista Missões