Entre a Copa e as eleições, o silêncio da apuração

Cecília de Paiva *

No dia 11 de maio de 2010, a mídia, em todos os seus segmentos, noticiou a chacina de seis moradores de rua na região do Jaçanã, em São Paulo. O acontecimento foi explorado até o dia seguinte nos jornais de todo o Brasil, entre mídia eletrônica, impressa e digital. Depois disso, o silêncio da apuração.

Diante do segundo semestre de 2010, entre duas das grandes pautas midiáticas - a Copa do Mundo e as eleições presidenciais, não poderíamos deixar de refletir acerca da ausência de muitas outras pautas no cotidiano dos meios de comunicação, principalmente no que se refere à apuração de crimes, como a chacina de Jaçanã, que ocorreu na véspera da convocação da Seleção brasileira na Copa.

Começou aí toda a atenção para a Copa, entre coletivas, programas de rádio e televisão, enquetes, debates e diversas manifestações nas comunidades da Internet. A lista era composta por jogadores conhecidos da mídia, e cada característica deles motivou novas pautas Brasil afora, apresentando suas histórias de vida, familiares, lugares e comunidades onde haviam jogado e vivido.

Naquele dia, em relação à chacina, os diversos tipos de mídia utilizaram a linha do anonimato para os envolvidos, destacando os termos "os moradores de rua", "os homens assassinados", "as pessoas assassinadas". Os assassinos foram caracterizados apenas como "homens armados" ou "cinco homens em três motos", como em matéria da Folha de S. Paulo. Durante a semana, poucos acréscimos se fizeram: a morte da quinta e da sexta vítimas ocorreu depois, sendo uma delas no hospital. Noticiado como mais um entre tantos acontecimentos da madrugada, nada se sabe do prosseguimento das investigações do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, DHPP, sob encargo do delegado Luís Fernando Lopes Teixeira, como divulgado na época. Foi suficiente dizer que havia suspeita de envolvimento das vítimas com drogas e bastou.

A ocorrência desse tipo de crime deve suscitar investigações em todas as dimensões do assunto, incluindo o envolvimento das conjunturas sociais até que se esgote o tema. Seja por vingança ou não, representou um caso em meio a vários que envolvem as pessoas que supostamente vivem nas ruas. Na condição indefesa em que se encontram, tais pessoas são, literalmente, alvo fácil para serem assassinadas e até queimadas, como o foi o pataxó Galdino em Brasília.

Entre duas pautas de tanta atenção como a Copa e as eleições, é possível perceber um jornalismo acanhado na defesa do direito à informação. Omissões jornalísticas provocam a morte prematura de pautas, imprensadas entre a agitação midiática e o silêncio de assuntos que demandam averiguações.

* Cecília de Paiva é jornalista, mestranda da UNESP.

Fonte: Cecília de Paiva

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