Olhai as aves do céu! Olhai os lírios do campo!

Fé, prudência e ação, de mãos dadas.

Por Carlos Roberto Marques

No Sermão da Montanha, que Mateus traz até nós num inspirado lirismo poético, as palavras de Jesus, visando despertar a fé e a confiança em Deus (Mt 6, 24 – ), são para nós um alento e um bálsamo para momentos de incertezas, insegurança, ansiedade, tristeza. Não são, como se pode pensar, um convite à inércia e ao cruzar de braços; elas mostram, sim, que Deus é todo bondade, mas é também justo; estimula nossas atitudes e a elas corresponde: “Pedi e vos será dado, buscai e achareis, batei e vos será aberto; porque todo aquele que pede, recebe; quem busca, acha; a quem bate, abrir-se-á”. As aves têm seu alimento, mas precisam ir buscá-lo, com trabalho e se expondo a riscos; as flores recebem a beleza, mas não são independentes: por si só, não se reproduzem, e a espécie não sobrevive.

A Natureza, incluindo o homem, é um conjunto harmônico muito bem projetado, uma orquestra de  múltiplos instrumentos, regida por um maestro expe- riente e de extremo bom gosto. Se cada elemento atuar  conforme o plano original, o resultado será uma bela e agradável sinfonia. Todos precisam estar empenhados e adequadamente afinados para que a unidade seja mantida, alcance a perfeição e satisfaça a todos, que é o objetivo de seu idealizador. Mas nada é de graça, a não ser o amor de Deus. Tudo o mais depende de esforço, de trabalho, de dedicação, de ação.

Prudente é o homem que desde a manhã semeia a sua semente (Ec 11, 6); prudente é o homem que constrói sua casa sobre a rocha (Mt 7, 24); prudentes foram as virgens que se precaveram abastecendo-se de óleo suficiente para manter acesas suas lamparinas até a chegada do noivo (Mt 25, 1-13); prudente foi o administrador infiel, que, com astúcia, buscou garantir um novo emprego (Lc 16, 1-8). A prudência leva-nos a agir; a fé leva-nos a confiar na resposta de Deus. Agimos em prol de nós mesmos, ou em favor de outrem, ou em benefício da coletividade, como as aves que saem em busca do alimento, ou as abelhas que polemizam as flores, que produzirão frutos.

A prudência levou Maria a intervir nas bodas de Caná; ela anteviu a vergonha dos noivos diante da iminente falta do vinho, que contribuía para a alegria da festa; ela confiou em seu Filho, que fez agirem os serviçais; e o milagre aconteceu. Pedro confiou e voltou a lançar redes, e a pesca foi tão farta que precisou do auxílio dos companheiros. A prudência faz preservar a vida; a fé faz com que nos lancemos ao mar.

No pão, fruto da terra, e no vinho, fruto da videira, está igualmente o trabalho humano. Fé e ação, homem e Deus, uma parceria que se revela também na Eucaristia. Cuide da terra, plante a semente, só assim poderá esperar a colheita. “Reze como se tudo dependesse de Deus, mas trabalhe como se tudo dependesse de você”. O ensinamento, atribuído a Santo Inácio de Loyola, evidencia que é  imperioso e prudente fazermos tudo que a nós com- pete, na confiança de que Deus complete segundo  Sua vontade, para que, no final, como Paulo, possa também dizer: “combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (II Tm 4, 7).

*Carlos Roberto Marques é Leigo Missionário da Consolata (LMC), bacharel em Direito pela USP e membro da equipe de redação. Edição Janeiro/Fevereiro 2020 Revista Missões

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