''Teologia pós-Google'': a religião na era Web

Mitchell Landsberg, Los Angeles Times

Como muitos norte-americanos, Doug Pagitt cresceu fora do mundo da religião organizada. Nem seus pais ou seus avós eram praticantes, e não havia expectativa de que ele seria diferente. Hoje, com seu cavanhaque, seu piercing de orelha e suas roupas na moda, ele poderia se passar facilmente por uma espécie de alternativo da Geração X que vive uma vida inteiramente secular.

Mas, aos 17 anos, Pagitt viu uma encenação da Paixão que o tocou como um raio e ele acabou se tornando um pastor cristão. Sua igreja em Minneapolis, Solomon's Porch, está marcando terreno em um novo movimento que poderia ser chamado de Igreja 2.0.

A reportagem é de Mitchell Landsberg, publicada no jornal Los Angeles Times, 15-03-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Esse foi, de fato, um dos termos usados na semana passada durante uma conferência de três dias sobre o futuro do cristianismo norte-americano na Claremont School of Theology. Pagitt estava entre os 150 ministros, leigos e acadêmicos que se reuniram para discutir a "Teologia depois do Google".

O consenso: há um mundo totalmente novo lá fora. Ignorá-lo é um risco para as Igrejas.

"Eu acho que coisas como a denominação e a ordenação fazem parte do velho sistema de controle e dominação que deve acabar", disse Pagitt, hoje com 42 anos, descansando depois do primeiro dia de conferência no Bar Teológico montado para os participantes. Ao seu redor, a cerveja fluía, e a conversa saltava do Twitter ao evangelismo, para a formação das Igrejas, até o "corn toss", um jogo com saquinhos de areia popular no Meio Oeste norte-americano e em Appalachia, que está conquistando adeptos entre os teólogos de Claremont.

A premissa da conferência foi apresentada mais cedo, durante a tarde, por Philip Clayton, professor de Claremont, que falou sobre o papel da imprensa de Gutenberg no século XV. Ao tornar a Bíblia disponível de forma mais ampla, afirmou, a religião foi democratizada, e isso levou diretamente à Reforma Protestante.

"Senhoras e senhores", disse Clayton, "hoje estamos falando sobre uma transição tão grande quanto aquela".

A escola de Claremont foi fundada pela Igreja Metodista Unida e funciona como seminário para os metodistas e para três outras denominações protestantes. Teológica e culturalmente, os participantes da conferência se inclinavam para ponta liberal do espectro. Um tema que surgiu foi se a direita cristã tem sido inteligente no uso das novas mídias e se as Igrejas progressistas precisam alcançá-la.

Mas, mais do que falar sobre como usar novas mídias e ferramentas de redes sociais, a conferência foi sobre como esses dispositivos refletem uma nova forma cultural de pensar que está mudando a maneira que as pessoas rezam. Clayton citou um recente relatório do Pew Forum on Religion and Public Life que descobriu que as pessoas na casa dos 20 anos hoje tem menos probabilidade de se afiliar a uma Igreja do que qualquer geração anterior.

Jon Irvine, um web designer de 30 anos que trabalha com o movimento da "Igreja emergente", disse que a Igreja do futuro deverá ser menos hierárquica e mais espontânea e ecumênica. Usando a fórmula familiar para acompanhar as mudanças de software, ele disse: "A Igreja 1.0 sempre teve a ver com um grande conselho de grande cérebros que se reuniam e lhe diziam: 'Fomos para uma sala e decretamos que você tem que acreditar'. A Igreja 2.0 é mais de baixo para cima. Cada homem é capaz de aprender e oferecer feedback. A Igreja 1.0 tem a ver só com credos e doutrinas, enquanto a Igreja 2.0 é uma espécie de wiki-teologia".

Nesse novo mundo, disse ele, "você pode ser um agente livre. Você pode começar a sua própria Igreja, ir a uma pequena comunidade de fé do outro lado da rua, ir a uma mega-Igreja. Você pode ser metodista hoje, anglicano amanhã - a escolha é sua".

Isso pode parecer heresia para alguns, para quem a doutrina é imutável. Mas se encaixa perfeitamente no espírito da conferência, onde nada, a não ser o troféu do campeonato de "corn toss", foi feito com alguma coisa sólida.

Clayton, o organizador, disse que o que estava acontecendo na conferência e em movimentos cristãos emergentes lembrava-lhe o Free Speech Movement da década de 60. "É algo cru, de improviso, mas não é apologético, sabe o seu propósito e ele é poderoso", afirmou.

A conferência começou com um anúncio incomum do co-moderador Tony Jones, um teólogo residente da Igreja de Pagitt, em Minneapolis, e autor de "The New Christians: Dispatches From the Emergent Frontier" [Os novos cristãos: mensagens da fronteira emergente].

"Não queremos que vocês coloquem os seus celulares no silencioso", disse ele ao público. "Queremos que vocês estejam conectados a tudo o que está acontecendo no mundo".

Pelo menos metade do público trabalhou multiplamente em laptops, iPhones e BlackBerrys enquanto ouvia os oradores. E muitos postavam comentários no Twitter, que eram constantemente atualizados em um telão atrás do palco. Além dos participantes em Claremont, os organizadores disseram que cerca de 1.300 pessoas assistiram a transmissão ao vivo da conferência pela Internet em todo o mundo.

Há, claro, inconvenientes para toda revolução. Quando Jones pediu que o público gritasse ou tuitasse quaisquer objeções que tivessem com relação ao uso de redes sociais como o Facebook, alguém gritou: "Eu não me importo com aquilo que você comeu no café-da-manhã". E Roger Burns-Watson, que está começando uma igreja nos arredores de Columbus, Ohio, se perguntava se haveria espaço para Deus em um mundo de interação online 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Conseguirá uma pequena e calma voz romper o ruído digital? "Deus pode não lhe enviar uma mensagem de texto hoje", disse Burns-Watson aos participantes. "E você será paciente com um Deus que não se movimenta em uma velocidade digital?".

 

Deixe uma resposta

4 × 4 =