A violência nas redes sociais

O cyberbullying é uma realidade tão feroz quanto qualquer outro tipo de perseguição.

de Gabriel Bergamascki

A internet proporciona o convívio e a troca de ideias entre pessoas de diferentes gerações, classes sociais e costumes. O fruto da interação poderia ser unicamente construtivo para cada usuário, na formação de conceitos, desconstrução de paradigmas e crescimento pessoal. Sem mencionar a troca de informações, a vasta possibilidade de criação e acesso aos conhecimentos que transformam o meio digital em um oceano de oportunidades.
A realidade, no entanto, é bem diferente da teoria. Como uma terra sem leis, as pessoas usam a máscara da distância para tirar suas próprias máscaras morais. As redes sociais evidenciam as inseguranças e revelam falhas de caráter presentes em cada um, sem distinção.
Cada usuário é rei, mas somente da sua própria ilha perdida no nada. A violência que antes se via nas ruas, escolas e casas, agora transcende as barreiras do espaço e particularidades. Um senhor piauiense de 60 anos ofende um jovem gaúcho de 16. E o jovem, como se não bastasse, responde com ainda mais ofensas. Por meio da conectividade, o “valentão” do colégio na década de 1970 faz bullying com o valentão de hoje em dia - e vice-versa.
O cyberbullying é uma realidade tão feroz quanto qualquer outro tipo de perseguição. Segundo pesquisas do Instituto Ipsos, entre 2016 e 2018, o Brasil saiu da quarta posição para tornar-se o segundo país com mais casos de bullying digital no mundo. Os motivos são os mais variados possíveis: desde divergências religiosas e políticas, até o racismo e as brincadeiras sobre a aparência.

Vítima de gordofobia
Dielly Santos é uma vítima de gordofobia que, no início do ano, cometeu suicídio no banheiro de sua escola, no Pará. A garota era chamada de “lixo” e “porca imunda” por colegas, quando decidiu enforcar-se. Assim que a notícia foi repercutida na internet, as ofensas póstumas surgiram. “Agora finalmente ela irá conseguir emagrecer, venceu na vida”, “devem ter levado ela até o cemitério com guindaste”, “acho que ela se matou com cabo de aço”, “se fizer adubo dá para sustentar o Mato Grosso e o Paraná por cinco anos”, foram alguns dos comentários feitos por usuários, na internet. E o caso de Dielly está longe de ser o único.
Os relacionamentos humanos são reflexos de escolhas, da decisão de como ver e compreender o próximo. Há duas formas das pessoas enxergarem umas às outras: seja através da lente de uma lupa ou da lente de um rifle. Em ambos os casos, há a intermediação do vidro, que gera certa ilusão de aproximação. No caso da lupa, é preciso chegar perto para que ela cumpra sua função corretamente, enquanto o rifle foi feito para ser usado à distância.
A lupa permite ver detalhes, ao passo que ao rifle só interessa a silhueta. O carinho e o cuidado ao usar uma lupa são contrastados com o ódio e brutalidade de um rifle. Com esta arma, a pessoa julga; com o objeto de análise, compreende. Enquanto em um é permitido mexer as mãos e olhar por diferentes ângulos, no outro o ideal é manter-se imóvel, até mesmo parar de respirar, para aumentar a precisão do tiro. E está aí a grande diferença: com a lupa, vê-se um objeto de estudo; com o rifle, um alvo.
Semelhanças são encontradas apenas com lupa. Já as diferenças, evidenciam-se a quilômetros de distância, na mira do rifle. Muita gente, infelizmente, escolhe o rifle à lupa. A arma que simula proximidade e assassina relacionamentos gera a morte do bom senso e o ataque gratuito.

Ser o templo
A espiral de agressões é consequência de um mundo que, como previsto nas sagradas escrituras, jaz no maligno. Cristo sofreu a perseguição do Império Romano e, ao ser preso, preocupou-se em devolver a orelha do soldado; não precisava, mas optou por salvar a prostituta do apedrejamento; sendo o próprio Deus, buscou relacionamento com as pessoas, entrou na casa do cobrador de impostos, pescou com os discípulos e tocou o leproso. Qual, entretanto, é o papel daqueles que o seguem se não o de agir como Ele?
Como o orgulho em estar certo e o desprezo por pobres, ricos, comunistas, capitalistas, jovens, velhos, negros, brancos, indígenas, homossexuais, heterossexuais, professores, policiais, jornalistas - e qualquer outra característica - pode ser maior do que o desejo em seguir os passos do Mestre do Amor? Não só em palavras, mas infinitamente em ação.
Se a violência na internet, assim como qualquer outra, é fruto das escolhas de cada um, cabe aos conhecedores dos ensinamentos o compromisso de viver, de fato, o que se prega. Ser discípulo de Jesus Cristo em período integral e transformar o mundo a partir do testemunho singelo e diário. Não somente ler a Bíblia para si, mas viver a Bíblia para o outro; não contentar-se em ir ao templo, mas ser o templo. Fazer cumprir, assim, os propósitos de Deus e agir como antídoto num mundo cada vez mais caótico e violento. O sal da terra e a luz do mundo.

Gabriel Bergamascki é jornalista, empresário e editor de vídeos.

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