Haiti: Desespero e Esperança

Claudemiro Godoy do Nascimento

Como não se comover com as imagens e o drama pelo qual está passando o povo haitiano? Um país mergulhado no desespero das tragédias, das exclusões, da desigualdade e que carrega o estigma de ser o país mais pobre do novo mundo, a América. As lágrimas, a dor e o sofrimento diante dessa tragédia sem proporções que abateu o Haiti, nos deixa, enquanto latino-americanos, perplexos, chocados, sem acreditar que um país tão sofrido tenha mais uma realidade de desespero. Muitos perguntam: Por que o Haiti?

Segundo o Presidente do Haiti, René Préval, há uma estimativa não-oficial que pode contabilizar mais de 100 mil mortos diante do terremoto que arrasou a capital Porto-Príncipe. Muitos prédios públicos e de cooperação internacional desabaram diante dos fortes tremores, entre eles, a residência presidencial, o parlamento haitiano, o prédio da ONU, a Universidade Nacional, a Catedral, Hospitais, Escolas, casas etc. Muitos estão desaparecidos nos escombros. O aeroporto também foi danificado o que impede com que as ajudas humanitárias internacionais possam entrar no país rapidamente. Há relatos de corpos espalhados pelas ruas, falta água, comida e assistência médica.

No Brasil, muitas famílias estão esperando notícias de brasileiros e brasileiras que servem ao povo haitiano como voluntários de ONGs e do exército brasileiro que participa da força de paz da ONU. Há uma estimativa de que onze brasileiros militares foram mortos nessa tragédia, além da Drª. Zilda Arns, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança no Brasil que estava no Haiti a convite da Conferência dos Religiosos do Haiti para palestras, provavelmente, sobre a experiência da pastoral da criança. Ela é um exemplo de vida, de luta e de amor às crianças.

Há uma comoção internacional com os mortos, feridos e o povo haitiano que sofre há décadas com desastres naturais incompreensíveis aos olhos humanos. Segundo alguns relatos, o país está destruído. O Brasil anunciou por meio do Ministério de Relações Exteriores a ajuda imediata de 15 US$, o Fundo Emergencial das Nações Unidas anunciou mais 10 US$, a Alemanha com 1,5 US$, a União Européia com 4,5 US$. Além da promessa de muitos países se comprometerem a ajudar com alimentação, água, equipamentos médicos e pessoal humano.

O Haiti é um país que deverá ser reconstruído pelas mãos dos próprios haitianos e, também, com a cooperação fraterna de outros países. Todos os países têm problemas e dificuldades, mas, não se compara com o que passa há tempos o povo haitiano. A miséria é uma realidade subumana que deve ser extinta do imaginário desse povo alegre e festeiro. Curiosamente, o Brasil se apresenta como um país solidário, fraterno e que sabe partilhar o que tem. Espero, sinceramente, que o exemplo conquiste outros como o próprio Estados Unidos da América que desperdiça bilhões de dólares com armas e com a engenharia da guerra no Iraque e Afeganistão, mas que, ainda, deve aprender o espírito da solidariedade, da fraterna partilha e da cooperação internacional.

Diante desse desastre e do momento de desespero, não podemos perder a esperança. Talvez tenha chegado o momento de olharmos com mais humanidade para o Haiti. Diante do desespero a esperança poderá surgir, em especial, quando vemos o mundo chorando e se solidarizando com o povo haitiano. Os momentos de sofrimento e de dor, em certo sentido, também são pedagógicos. Aprendemos com o sofrimento e a dor. Evidentemente que o povo haitiano não merecia, mas, ainda não temos tecnologias para controlarmos a natureza e os abalos sísmicos das placas tectônicas. Mas, temos nossa humanidade. A reconstrução depende dos haitianos, mas também, da cooperação internacional de países como França, Inglaterra e Estados Unidos que fazem jorrar dólares para os banquetes da guerra e que agora podem fazer jorrar leite e mel para um país mergulhado na desgraça. E os yanques têm uma divida histórica com o povo haitiano.
A esperança é que possamos ver um país que está na desgraça alcançar a graça. A graça de ter uma sociedade mais justa, solidária e igualitária para todo um povo que há séculos vivem nos porões da vida e da indignidade humana. Para isso, os países ricos e emergentes deverão abrir seus corações e seus cofres para ajudar um país que se encontra no desespero. Já dizia um velho provérbio: Faça ao outro o que queremos que façam a nós! Assim, a esperança há de vencer o momento de desespero desesperançosa que abate a todos nós. Mas existe outro caminho que não queremos: manter o Haiti no submundo, na marginalização forçada e na desumanidade imposta pelas grandes forças econômicas do globo. Agora chegou a hora de gastar dinheiro, com seres humanos, com um povo. Se quisermos mudar os velhos paradigmas absolutos do espírito do capital para novos paradigmas do espírito da emancipação humanitária, o momento é agora. Viva o Haiti que chora seus filhos e filhas. Mas, todos somos Haiti neste momento e com ele aprenderemos como ser mais humanos e solidários.

* Filósofo e Teólogo. Mestre em Educação/Unicamp. Doutor em Educação/UnB. Professor da Universidade Federal do Tocantins - UFT/Campus de Arraias.

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