Que eu aprenda afinal, com a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano apenas o mistério da Redenção. (Dom Helder Câmara)
Por Geovane Saraiva*
O assunto volta, no sentido da renovação da nossa fé, numa parada diante da liturgia da Quinta-Feira Santa, quando os sacerdotes - ministros da Igreja - ficam cingidos com uma toalha, para lavar os pés de pessoas de suas comunidades. É claro que pode surgir a pergunta, que vale para todos: estamos dispostos, no exemplo de Jesus, a lavar os pés uns dos outros, isto é, a ajudar na cruz dura e pesada de cada dia de muitos irmãos? Também temos disposição interior num mundo tão complexo e diverso quanto o nosso, no sentido de diminuir preconceitos, intolerâncias e intransigências para com nossos irmãos, vendo neles o rosto do Filho Amado do Pai? Que Maria ajude nosso olhar, sem nunca fugir do rosto de tantos irmãos crucificados, e neles contemplar a face terna de Deus.
A oração da Igreja, após a celebração da noite de Quinta-Feira Santa, quer revelar a face do nosso Deus, todo despojado, convidando-nos a envolvermos por seu amor. A salvação da humanidade está no indizível mistério do serviço, pela disposição interior de Maria, aqui, no contexto da Semana Santa, vale recordar as sete dores da Virgem Maria. Fiquemos ao seu lado, unidos na mesma fé, nas imensas dores vivenciadas pela Santa Mãe de Deus. Não são apenas sete, segundo retrata a arte inaudita de Michelangelo, na representação do quadro da virgem dolorosa com o corpo de seu filho Jesus, após a crucifixão, morto e ensanguentado nos seus braços.
Aprendamos com Dom Helder: “Que eu aprenda afinal, com a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano apenas o mistério da Redenção". Será que é vontade de Deus a segurança dos cristãos instalados, vivendo de braços cruzados, sabendo que milhões de seres humanos nascem só para sofrer? Que a liturgia da semana supracitada possa, de verdade, permear nosso imaginário do Sagrado, numa ardorosa busca e sempre maior da nossa intimidade com o bom Senhor, Jesus Cristo, culminando, evidentemente, na conversão do coração.
A voz de Deus nos crucificados dos nossos dias adequa-se na afirmação do teólogo José Antônio Pagola: “Não podemos adorar o Crucificado e viver de costas ao sofrimento de tantos seres humanos destruídos pela fome, pelas guerras ou pela miséria”. Somos todos convidados a refletir, de um modo consequente, do mais íntimo do íntimo, sobre a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu me entrego, Senhor, em tuas mãos, e espero pela tua salvação”. Assim seja!