Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto! (João 12, 24)
Por Wagner Ferreira da Silva*
Depois de cinco semanas (Quaresma) de intenso convite da Igreja à conversão, à mudança de mentalidade, o povo de Deus é conduzido a celebrar o mistério pascal a partir do Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, início da Semana Santa.
Por sua vez, a Semana Santa nos encaminha para o tríduo pascal, e, finalmente, a noite santa da Vigília Pascal, na qual rompe-se o silêncio da madrugada com o cântico do Aleluia, pois Cristo ressurgiu dentre os mortos. Na manhã do domingo de Páscoa, assumiremos com mais entusiasmo o dom de uma vida nova, vida de amor e paz.
A parábola sobre o grão de trigo caído por terra, utilizada por Jesus para anunciar sua obra redentora, nos transmite a lógica da Páscoa: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto!” (João 12,24).
A morte de Jesus na cruz não pode ser compreendida simplesmente como um assassinato. Na realidade, diz o próprio Jesus, “ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade” (João 10,18). A lógica da Páscoa de Cristo é a lógica do amor, de um amor voluntário, amor que se entrega, que se faz oferta, que morre para produzir frutos de vida nova: solidariedade, compaixão, justiça e paz.
O papa emérito Bento XVI, em sua homilia na vigília pascal de 2012, nos deu uma compreensão preciosa a respeito da graça que nos foi concedida pela ressurreição de Jesus: “Na Páscoa, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Deus disse novamente: “Faça-se a luz!”. Antes (da luz) vieram a noite do Monte das Oliveiras, o eclipse solar da paixão e morte de Jesus, a noite do sepulcro. Mas, agora, é de novo o primeiro dia; a criação recomeça inteiramente nova.“Faça-se a luz!”: disse Deus. “E a luz foi feita”.
Jesus ressuscita do sepulcro. A vida é mais forte que a morte. O bem é mais forte que o mal. O amor é mais forte que o ódio. A verdade é mais forte que a mentira. A escuridão dos dias anteriores dissipou-se no momento em que Jesus ressuscita do sepulcro e Se torna, Ele mesmo, pura luz de Deus. Isto, porém, não se refere somente a Ele, nem se refere apenas à escuridão daqueles dias. Com a ressurreição de Jesus, a própria luz é novamente criada. Ele atrai-nos a todos, levando-nos atrás de Si para a nova vida da ressurreição e vence toda a forma de escuridão. Ele é o novo dia de Deus, que vale para todos nós”.
Somente o dom da fé pode favorecer o nosso encontro com Cristo Ressuscitado, a ponto de nos tornar criaturas novas, pessoas que vivenciam o evangelho da alegria, da luz, da misericórdia e da justiça. Papa Francisco faz um alerta na exortação apostólica Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho, número 6): “há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem a Páscoa”.
O Santo Padre reconhece que “a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras”. Somente a graça do encontro de fé com Cristo vivo nos oferece as condições para viver a alegria do Evangelho mesmo em situações onde tudo concorreria para a tristeza, a desolação e o desespero.
O chamado à conversão do tempo quaresmal não somente quis ser apenas um apelo para cada cristão, mas também à inteira sociedade brasileira e, por isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) protagonizou uma Campanha da Fraternidade com o tema: “Fraternidade e superação da violência”. Que os discípulos do Ressuscitado sejam corajosos em testemunhar o evangelho da paz, de modo a contribuir com a superação de toda forma de violência e promover uma vida social onde se proclame: Ele está no meio de nós!