As 7 palavras do ministro Barroso aplicadas à vida cristã

Confesso que as palavras me impuseram um questionamento sobre quem sou eu, por onde anda a minha humanidade e como tenho articulado e convivido com a virtude e a intemperança.

Por Rosinha Martins

Em tempos de quaresma, as palavras do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, dirigidas ao ministro Gilmar Mendes, na tarde desta quarta, 21, caem como luvas em nossas mentes e corações de cristãos, consagrados, seguidores de Jesus que somos.

Não tenho aqui a intenção de engrandecer o ministro Barroso porque não o conheço, não teria autoridade para discorrer moralmente sobre a sua pessoa. Fato é que, a meu ver, Barroso trouxe à tona questões que tocam a cada um de nós como seres humanos, porque somos um composto de bem e mal. Aquele precisamos propagar, este, precisamos sabedoria para amenizá-lo em vista do nosso bem e da convivência humana.

Ministra Carmem Lúcia preside a sessão do SUpremo Tribunal Federal (STF).O Minitsro Luis Roberto Barroso sofre ameaças de impeachment do ministro Carlos Marum(Sec. da Governo da Presidência cia República). Foto: Sérgio Lima / Poder 360

Foto: Sergio Lima

Confesso que estas palavras, enquanto as ouvia, me impuseram um questionamento sobre quem sou eu, por onde anda a minha humanidade e como tenho articulado e convivido com a virtude e a intemperança, essas duas poderosas forças contrárias que agem dentro de mim. Eis as palavras do ministro:

1. “Vossa Excelência é uma pessoa horrível, mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia.”

Uma pessoa horrível, atrasada e com doses de psicopatia é uma pessoa indiferente ao sofrimento alheio, fora de forma, negativa, ignorante, antissocial, amoral, incapaz de amar, incapaz de estabelecer laços afetivos. É alguém que precisa, de forma humilde, pedir ajuda.

2. “Vossa Excelência faz aqui um comício cheio de ofensas, grosserias.”

As ofensas (insultos), são promotoras da desordem, das guerras, dos conflitos. Por uma expressão ofensiva posso exterminar a paz, a tranquilidade, a calma e o bom ar, no espaço em que habito. Uma pessoa grosseira não é simpática, não é polida, não é agradável. Quantas vezes em nossa vida, encontramos pessoas das quais espontaneamente dizemos: “Como é bom estar junto a fulano, me faz tão bem!” O contrário acontece quando estamos diante de uma pessoa nada polida, o ar fica pesado, a atmosfera parece pressionar a nossa cabeça e necessitamos buscar um ar, ou seja, nos afastar daquela pessoa. Muitas vezes, posso ser eu esta pessoa da qual os outros se afastam.

3. “Vossa Excelência não consegue articular um argumento, não tem nenhuma ideia, nenhuma proposta.

Pessoa sem argumento é uma pessoa vazia. Consequentemente sua fala desencadeia uma série de expressões agressivas que não favorecem o andamento da discussão.

4. “Vossa Excelência é bílis, ódio, mal sentimento, mal secreto.”

A bile é um ácido clorídrico, amargo, amarelo, produzido pelo fígado, armazenada na vesícula biliar e tem por função queimar as gorduras do organismo. No interno do nosso corpo ela tem uma função benéfica, mas uma vez que chega à nossa língua, nos causa estranhamento. No mundo das relações humanas e cotidianas uma pessoa amarga, amarela, não transparente, destila ódio, rancor, que não deixa ver o outro como semelhante e disturba a lucidez para analisar o mundo, os fatos e as pessoas com equidade e justiça.

5. “Vossa Excelência nos envergonha, é desonra para o tribunal, para todos nós. Um temperamento grosseiro, agressivo, rude. É péssimo isso. Vossa excelência sozinha desmoraliza o Tribunal.”

O papel do Supremo Tribunal Federal é fazer cumprir as constituições para o bem comum. Isto supõe que os membros que os compõem sejam pessoas bem formadas, capazes, que trilham os caminhos da justiça e da moralidade, honestas, educadas, ponderadas e polidas. O mesmo pode ser aplicado às instituições cristãs.

6. “É muito ruim, é muito penoso para todos nós termos que conviver com Vossa Excelência aqui.”

Esse ponto de maneira particular me chamou a atenção. Senti no ministro um desabafo. É como se ele fosse a voz de alguns, que já não suportam a presença nada agradável do colega. Quantas vezes, em nossa vida de cristãos e consagrados deixamos o mal falar mais alto na vida de nossos irmãos e sofremos amargamente por falta da caridade, por falta de coragem ou por medo. Como é humano e cristão ter a coragem de sentar-se lado a lado e, com o cuidado de quem ama e respeita a alteridade, ajudá-la a tomar consciência sobre a sua forma de agir. Se ela terá ou não condições de acolher e aceitar, isso já é responsabilidade total dela. A responsabilidade ética da nossa parte, cumprimos.

7. “Vossa Excelência está sempre atrás de algum interesse que não é o da justiça...uma vergonha, um constrangimento. É muito feio isso. Isso aqui é um Supremo Tribunal Federal.”

Fico com a expressão: “ isto é muito feio”. É feio mesmo. É tão feio quando desmoralizamos a instituição que representamos apenas em vista da defesa de interesses particulares e corporativos, o que mostra que a pessoa foi colocada na instituição com uma finalidade torpe ou simplesmente pelo bem-estar do próprio ego e seu poderio.

Aprendamos do Deus de Israel. Nele não há incoerências. Sua palavra é afinada e harmônica com seu agir. Agir e falar em Deus é uma coisa só, sem dicotomias. Esse é o princípio do saber, da justiça e da ordem. O Deus de Jesus nos ensina como ordenar o caos e vivermos a fraternidade na diversidade nesta casa comum que é o planeta terra. Como viajantes. Não esqueçamos que estamos aqui de passagem.

A ressurreição de Cristo é a certeza de que o caos pode se tornar cosmos. Feliz Páscoa!

Fonte: Assessoria de Imprensa scalabriniana.

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