Orlando Brandes *
1. Lembra-te Igreja, que a missão está no começo porque o mundo se afastou de Deus e a vida sacramental enfraqueceu, a família entrou em crise, diminuem as vocações, o domingo é desrespeitado, as crianças são batizadas mas não evangelizadas. Eis a urgência, a atualidade, eis a importância, a necessidade e a prioridade da missão.
2. Vibra, porém, ó Igreja, porque és missionária por natureza. Antes de existires, existe a missão. Tu Igreja santa, procedes da missão, nasceste da missão do Filho e do Espírito Santo. Tua essência, tua razão de ser, é a missão. És missionária porque continuas no mundo a encarnação e a obra de Jesus, o missionário do Pai.
3. Comove-te Igreja, mãe e mestra, porque a missão é o primeiro serviço que prestas à humanidade dando-lhe Deus, a salvação, o reino, a comunidade eclesial e a promoção humana. Toda a estrutura paroquial seja missionária, como também as pastorais e movimentos. Somos missionários por instinto, por vocação e por obrigação. A missão é para a humanização, santificação e salvação da humanidade.
4. Renova, Igreja, teu ardor missionário com ímpeto, ousadia e criatividade. A missão é um estado permanente, contínuo, interminável. Ela começa corpo a corpo, de casa em casa, de comunidade em comunidade, até a Missão Continental e aos confins do mundo. Missão sem fronteiras. Os limites da missão é o globo terrestre. Não pode haver espaços vazios, a missão deve ocupá-los.
5. Alegra-te, Igreja, Corpo de Cristo, porque cresce em teu seio, o espírito missionário, a coragem missionária e se renova a consciência da missão. Todo cristão é chamado a ter um coração missionário, uma alma missionária e saber sair de si, sair de casa, sair da sacristia, sair da paróquia, sair da Diocese, sair da Pátria. Eis o êxodo missionário.
6. Grita Igreja, templo do Espírito Santo, que o segredo da missão está na experiência do amor de Deus, na fé e na oração. Fazemos missão com as mãos dos que ajudam, com os joelhos dos que rezam, com os pés dos que partem. Quem acredita no amor de Deus e o experimenta é tomado de encanto e solicitude missionária. Grita, Igreja, que a missão brota do amor fraterno, da sensibilidade para com os pagãos, os pecadores, os pobres e os perdedores e a sede de salvação da humanidade.
7. Restaura, ó Igreja, o teu primeiro amor missionário. Sem amor não há missão. Dizia João Paulo II: "O homem é o caminho da Igreja". Eis um sábio princípio missionário. Onde está o homem, lá deve chegar a Igreja. Ir ao povo, eis o caminho missionário. A missão é um bem para a humanidade inteira. O mundo precisa saber que é amado por Deus. A humanidade pode e deve ser diferente graças ao amor e ardor missionário, que é um amor maternal. Precisamos de uma conversão pastoral que coincida com a conversão missionária.
8. Ensina, Igreja, sacramento da salvação, que a missão nos leva a caminhar pelas estradas, a bater nas portas, a usar os microfones, a abandonar confortos e rotinas, a correr riscos, a desgastar-se no trabalho missionário. A missão não sobrevive com Igreja engessada, acomodada, imobilizada, rotineira, devocional e sacramentalizadora. A Igreja missionária está a serviço do reino, com os pés na terra, as mãos na realidade histórica e olhos voltados para o céu.
9. Exige, mãe Igreja, a organização missionária no teu seio: conselhos missionários, infância missionária, juventude missionária, idosos missionários, seminaristas inflamados de amor pela missão, ministros, catequistas, teólogos, casais e famílias missionários. Não podemos alimentar só a pastoral da conservação, mas, dar um salto e realizar uma comoção missionária global.
10. Olha, santa Igreja, para Jesus missionário. Fixa nele teus olhos. Observa como Ele esvaziou-se a si mesmo, deixou a glória do céu, fez-se peregrino, perdoou pecadores, optou pelos pobres, curou enfermos, assumiu a coragem profética, viveu e morreu pobre. Jesus missionário é o bom samaritano da humanidade, iniciou o mundo novo, a nova criação graças à sua missão.
* Dom Orlando Brandes, arcebispo de Londrina, PR.