Multiplicando os dons

O triste para o terceiro servo da parábola dos talentos, foi não ousar e sua falta de atitude e postura, com desconfiança ou medo daquele senhor, enterrando o talento que lhe fora confiado.

Por Geovane Saraiva*

Deus nos dá dons ou talentos, e Jesus nos convida a multiplicá-los, jamais mantê-los escondidos ou debaixo do chão. Acolhendo-os generosamente, devemos compartilhá-los, numa atitude de confiança ou de coragem, a ponto de tornar possível dar bons e abundantes frutos. O Papa Francisco asseverou que a parábola dos talentos (19/11/2017) faz-nos entender como é importante ter uma ideia verdadeira de Deus, chamando-nos a atenção para uma responsabilidade pessoal e fidelidade “que se torna também capaz de colocar-nos novamente a caminho em novas estradas, sem ‘enterrar o talento’, ou seja, os dons que Deus nos confiou, e dos quais nos pedirá conta”.

Dorothy Stang, a 74-year-old American nun, was shot to death early February 12, 2005 in Brazil's Amazon rain forest where she worked to defend human rights and the environment despite frequent death threats, federal police said. Unknown assailants shot U.S. missionary, Dorothy Stang at point-blank range at an isolated agricultural settlement in dense jungle 31 miles from the town of Anapu in the state of Para, police and fellow religious workers said. A February 12, 2004 file photo shows Missionary sister Dorothy Stang in Belem, northern Brazil.   (BRAZIL OUT)   REUTERS/Imapress/AE/Carlos Silva

A parábola em si revela uma estrutura desigual, mas não injusta, visto que cada um recebeu segundo a sua própria capacidade. Além disso, o que importa para Deus são: o engajamento, o testemunho e a generosidade. Aqui me recordo da inesquecível Irmã Dorothy, ao abraçar a proposta do Evangelho, indo, com seus dons e talentos, residir na floresta amazônica, por opção de vida, por mais de 30 anos, repleta de ternura, paixão e compaixão pela referida floresta amazônica e seus habitantes. Mulher forte, foi determinada com seu estilo de vida e uma mística a causar medo e contrariar os que queriam outro projeto concentrador para a floresta, semelhante ao do senhor da referida parábola (cf. Mt 25, 14-30).

O grande pecado dos seguidores de Jesus de Nazaré consiste no medo de não arriscar e também na inércia e falta de criatividade. É nesse contexto que enxergamos o grande pecado dos que abraçam a fé e experimentam a esperança cristã, faltando-lhes a mística de ser sempre consequente e de se aventurar. O triste para o terceiro servo da parábola dos talentos, foi não ousar e sua falta de atitude e postura, com desconfiança ou medo daquele senhor, enterrando o talento que lhe fora confiado.

Ele é condenado, mesmo sem ter cometido ação injusta alguma, também pela recusa de favorecer o patrão. O que está por trás da parábola não é o estímulo aos bens materiais, de modo algum, mas que todos percebam os dons recebidos de Deus. O Senhor Deus quer contar com nosso empenho, fidelidade e atenção na administração dos dons, produzindo muitos e bons frutos, recordando-nos, assim, a vida de Irmã Dorothy Stang, no testemunho do seu martírio pela Floresta. Amém!

*Geovane Saraiva é pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza - geovanesaraiva@gmail.com

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