Povos Indígenas: Paz e Terra e não à Guerra

Egon Heck *

"Unimo-nos ao clamor da natureza, contra a destruição da vida no planeta Terra. Os povos indígenas continuam a oferecer a todo o mundo seus projetos históricos de convivência harmoniosa com a natureza. Mesmo que campanhas antiindígenas tentem abafar nossos gritos por terra e justiça, jamais conseguirão matar nossos sonhos e nossa decisão inquebrantável de lutar pela vida, a dignidade e os direitos dos povos indígenas".(Doc. Da 18 Assembléia Geral do Cimi - Luziânia 30-10-09)

Quando sentimos esse compromisso brotando de mais de 150 militantes do Cimi, representantes indígenas, representantes de outras igrejas, de outros países do continente e da Europa, podemos sentir o peso profético e escatológico desse gesto evangélico, esperançoso e radical. A vida não pode ser barrada pelos projetos de morte. A natureza não pode estar sendo destruída por projetos financiados pelo grande capital, privado e dinheiro público. O Planeta Terra não pode continuar sendo açoitado e ameaçado pela ganância, privilégios e vida nababesca de uns poucos. Poderemos ser submetidos ao juízo da história se compactuarmos com o sistema consumista, concentrador e excludente que hoje avassala o mundo. Seremos acusados de criminosos omissos pelas futuras gerações se deixarmos avançar o atual modelo de destruição. Por tudo isso a 18 Assembléia Geral do Cimi se reveste de especial importância, por seu posicionamento firme contra a correnteza do modelo neoliberal capitalista, a partir e a favor dos projetos dos povos indígenas, do Brasil e do continente.

A força está na vibração e decisões estratégicas dos participantes, que contaram, dentre outros, com a presença das dioceses de maior população indígena da Amazônia, como D. Roque, de Roraima, D. Edson, de São Gabriel da Cachoeira-Rio Negro, D. Erwim, de Altamira, no Xingu e D. Manoel, Diocese de Chapecó, SC. Além da presença do coordenador da linha Missionária da CNBB, contou com a presença de organismos de direitos humanos e da cooperação internacional. Juntos conclamaram a sociedade nacional e internacional a se unirem em torno da vida e direitos dos povos indígenas no Brasil. Após emocionadas celebrações dos mártires missionários e indígenas, nesses 37 anos de atuação da entidade junto aos povos indígenas, veio o grito de "Avançaremos".

Kaiowá Guarani -uma causa nacional
Após os depoimentos dramáticos do representante desse povo na Assembléia, dos depoimentos dos missionários da região e dos vídeos mostrando as agressões, violências extremas, do processo genocida contra os Kaiowá Guarani, a causa desse povo foi assumida como uma prioridade da entidade em termos nacionais "Como missionários e missionárias do Cimi, seguindo a tradição da entidade desde a primeira Assembléia Geral em 1975, assumimos o compromisso de apoio irrestrito aos povos indígenas na luta pela demarcação e garantia de seus territórios tradicionais, conforme determina a Constituição Federal e convenções e declarações internacionais da qual o Brasil é signatário. Definimos como ação estratégica prioritária o apoio aos povos Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul. A expulsão destes povos de suas terras ancestrais configura-se em verdadeiro processo genocida e etnocida."O mesmo já ocorrera pelo movimento indígena, em maio, no Acampamento Terra Livre.

Apesar da gravidade da realidade enfrentada pelos povos indígenas, foi destacado a crescente importância que vem assumindo o movimento indígena no continente, seja pelo seu enfrentamento com os interesses que visam saquear os recursos naturais, seja pelas suas contribuições na construção de alternativas sócio-políticas, a partir de outra lógica de vida e valores.

A Assembléia aconteceu no ritmo alegre da primavera em flor, dos cantos dos pássaros saudando a vida, da esperança brotando em cada árvore, mente e coração lutador.

Com os povos indígenas continuaremos a luta firme e decidida pelos seus direitos de viver em paz em suas terras, dizendo não à continuada guerra colonial de séculos.

* Egon Heck é assessor do Cimi MS.

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