Blaise Pascal afirma que o presente fere e faz sofrer. Se o momento é belo e agradável, não queremos que passe, desejamos imortalizá-lo. Se o presente é de sofrimento queremos apressar a sua passagem ou escondê-lo. São duas ações que estão fora do nosso alcance, por isso o presente fere.
Por Dom Rodolfo Luís Weber*
O ano de 2017 está na metade. A sensação da maioria das pessoas é que o tempo está passando depressa. As expressões confirmam: já se foram seis meses, mais um ano de vida, ainda não consegui realizar ou não aconteceu o que tinha planejado. Enfim, cada pessoa tem sua vivência do tempo. A reflexão sobre o tempo questiona e ajuda a viver conscientemente. Onde ocupo o meu tempo? O que é importante? Do modo como vivi até aqui mudou ou acrescentou algo na minha vida e na construção do mundo?
Nos santos Evangelhos Jesus ensina, em vários momentos, sobre vigiar, estar atento, viver esperando, não ser surpreendido, viver a hora. Todos estes textos são muito provocativos e mostram que a vida precisa ser vivida intensamente no tempo presente. Se não for assim não haverá passado e nem futuro.
O pensador, filósofo cristão, matemático Blaise Pascal (1623 + 1662) refletindo sobre o tempo escreveu na obra Pensamentos. “Nunca estamos no tempo presente. Antecipamos o futuro no afã de acelerar o curso de algo que demorará muito a chegar, ou relembramos o passado na tentativa de detê-lo, como algo que passa rápido demais: somos tão ingênuos que vagamos por tempos que não são os nossos e não pensamos no único que realmente nos pertence, somos tão vãos que sonhamos com tempos que não existem e nos evadimos sem refletir sobre o único tempo que realmente temos. É que o presente costuma nos ferir. Nós o tiramos de vista quando nos aflige e nos afligimos quando ele nos faz feliz, pois o sabemos fugaz e vemos como escorre por entre nossos dedos. Tentamos sustentá-lo com o futuro e dispor das coisas que não estão ao nosso alcance, por um tempo que não temos qualquer certeza de que chegará.
Examinamos nossos pensamentos: nós os encontraremos sempre entretidos com o passado ou com o futuro. Quase não pensamos sobre o presente e, quando isso acontece, é apenas para iluminar o que virá. O presente nunca é nosso fim: o passado e o presente são os meios, e nosso fim, o futuro.
Assim não vivemos, apenas esperamos pela vida e, ao estar sempre procurando a felicidade, é inevitável que nunca a encontremos”.
Blaise Pascal afirma que o presente fere e faz sofrer. Se o momento é belo e agradável, não queremos que passe, desejamos imortalizá-lo. Se o presente é de sofrimento queremos apressar a sua passagem ou escondê-lo. São duas ações que estão fora do nosso alcance, por isso o presente fere.
Esta citação, um tanto longa, mas muito interessante de Blaise Pascal, encoraja a viver intensamente o agora que é um exercício mental e um trabalho espiritual. Vivemos no presente e somos nele. Assim como o caminhante para desfrutar do passeio precisa valorizar cada passo e não apenas o ponto de chegada. Isto requer um olhar atento para cada momento, um espírito receptivo para não escapar nenhum detalhe. Estar presente é lutar contra as duas principais formas de ausência: a do passado e a do futuro. O importante é podermos dizer que estivemos presentes.