A realidade olímpica

Luciano Martins Costa

A imprensa brasileira respondeu com uma onda de ufanismo à notícia da escolha, pelo Comitê Olímpico Internacional, do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016.

A revista Veja inseriu entre suas páginas, sempre amargas quando trata do Brasil contemporâneo, uma reportagem especial - recheada de anúncios, é claro - na qual saúda a conquista como o "corolário da força de uma economia estável e de uma nação politicamente pacificada".

Seria o mesmo Brasil das últimas semanas, que, segundo a revista, anda atacado de sonhos imperialistas e megalomaníacos, ameaçado de se transformar em uma república socialista por conta da estratégia de exploração das reservas do pré-sal?

Os jornais não ficaram atrás. Embarcaram da mesma forma no delírio nacionalista, com muita razão, porque a conquista é importante. Mas, como depois de toda festa, chegaram ao final da semana tendo que encarar a realidade: muitas instituições brasileiras precisam ser reinventadas para encarar o desafio de planejar e realizar com um mínimo de eficiência e transparência o maior evento esportivo do planeta, apenas dois anos após ter que sediar a Copa do Mundo de Futebol.

Um país

Repórteres e analistas se concentraram em destrinchar os problemas que costumam transformar o Rio de Janeiro de "cidade maravilhosa" em túmulo da civilização. E dá-lhe infográfico sobre obras de instalações esportivas e infra-estrutura de hotelaria e transporte!

No meio de tudo, algum espaço para o ponto central: como resgatar para o controle público as vastas áreas da cidade sob domínio dos bandos criminosos?

Os jornais destacam na segunda-feira (5/10) o fato de que o Brasil aparece no novo relatório do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU como tendo apresentado melhora nos seus indicadores. Mas ainda somos uma das dez nações com as maiores desigualdades sociais do mundo.

Alguns analistas citados pela imprensa dizem que a ação necessária para realizar as Olimpíadas pode produzir uma transformação radical no Rio de Janeiro. Mas existe ainda um Brasil inteiro para ser reformado.

* Comentário para o programa radiofônico do OI, 5/10/2009.

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