Maria Rosa de Miranda Coutinho *
É de certa forma confortador para quem acompanha a caminhada dos Guarani, a algum tempo, ver o processo de devolução de suas terras no norte catarinense, historicamente vinculadas a seu patrimônio cultural.
A decisão do governo federal em homologar suas terras num primeiro momento, não poderia ter sido a mais sensata, depois de fechar os olhos para tantas outras áreas indígenas sem demarcação em todo o território brasileiro.
A mendicância de um povo que já fez parte da construção de grande extensão territorial do nosso país deveria ter sido reconhecida há mais tempo e de preferência em todas as regiões brasileiras.
Na verdade, o norte do estado de Santa Catarina tem uma dívida de séculos para com esses "poucos índios" como são descritos pelo poder empresarial da região. Muitos foram dizimados pela exploração, intolerância e crueldade de uma sociedade não indígena que elegeu uns poucos donos do poder dispostos a banir os chamados "entraves do progresso".
Os pequenos grupos à beira da estrada litorânea simbolizam o esquecimento do poder público aos direitos desses indígenas que estão confinados em pequenos espaços tentando sobreviver.
As perdas que os povos indígenas têm em relação às indústrias e agronegócios é imensurável considerando que a terra não é simplesmente um bem de negócio, mas um espaço cultural envolvendo sua religiosidade, saúde e continuidade histórica.
Somos levados pela ambição material e pelo desejo acumulativo a ignorar a riqueza cultura de um povo diferente de nós que muito contribuiu na construção de nossa própria cultura: Alimentos, nomes, técnicas agrícolas e tantos valores significativos que sempre permanecem.
Parabéns ao povo Guarani pela persistência em existir em nosso Brasil, despertando com isso uma consciência nova em cada cidadão de bem.
* Professora universitária de So