Um poema em homenagem aos refugiados.
Por Alfredo J. Gonçalves
Parte peregrino,
mas toma em conta as pousadas;
parte pois a terra prometida está sempre além,
e cada pousada será um ponto oportuno
para repousar e retomar novas energias.
Pisa leve,
mas pisa firme;
pisa leve porque és estrangeiro sobre a terra,
pisa firme porque dela precisas
como trampolim para alcançar a pátria definitiva.
Põe aos ombros teu fardo,
mas depura-o do que é supérfluo;
leva teu fardo porque atravessarás
veredas árduas e desertos inóspitos,
depura-o para que o peso não impeça a travessia.
Olha o horizonte,
mas atento ao chão onde põe os pés;
olha o horizonte para não perder o rumo e a meta,
mas atento às trilhas do caminho,
se não queres tropeçar nas pedras e espinhos.
Leva uma luz,
mas prepara-te para caminhar nas trevas;
a luz iluminará teus passos inseguros,
mas haverá noites escuras
em que toda chama se extinguirá.
Colhe a sombra e a fruta,
mas deixa intacta a árvore;
sombra e fruta aliviarão o cansaço e a fome,
mas preserva a árvore,
pois outros viajantes depois de ti
haverão de seguir a mesma estrada.