A Capelinha Missionária

Joaquín Alliende Luco *

O Tríptico do Cristo da Missão ou Capelinha Missionária é um dos símbolos da Grande Missão Continental. Obra de Eduardo Velásquez, artista peruano, o Tríptico foi um presente do papa Bento XVI à Conferência de Aparecida. (cf. DA, pág. 284).

Bento XVI deixou aos países da América Latina e do Caribe o presente de sua presença, de sua oração, de suas palavras vivificantes e valentes. Junto a isso está o dom deste Tríptico que representa o "Cristo do envio". O povo crente o irá recebendo não só como uma ilustração de verdades. Talvez o faça seu e o transforme, pela oração, em um ícone de sua devoção fervorosa e confiante, em uma parábola iconográfica na qual se unem o credo da fé com a pessoa do Sucessor de Pedro.

A Igreja Latino-Americana e do Caribe considera como marco inicial de sua evangelização um ícone: a figura mestiça de Maria de Guadalupe, representada no manto de São João Diego. Bento XVI retomou esta tradição e entregou aos bispos participantes do Encontro de Aparecida um Tríptico evangelizador e devocional.

Nele estão contidos a espiritualidade e o programa pastoral característicos que propõe o lema da V Conferência: "Discípulos missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos Nele tenham vida". "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6). O Tríptico flui da tradição da arte cuzquenha (de Cusco, cidade peruana). Com ele se encontra simbolicamente, em Aparecida, a cultura andina que partilham os países do Oceano Pacífico com o mundo de língua portuguesa das costas do Atlântico, ao qual pertence o Santuário Nacional mariano do Brasil.

O programa iconográfico se abre interiormente em oito quadros e em outras imagens menores:

1. O motivo central é ocupado por uma representação do Cristo Ressuscitado na hora do envio missionário dos discípulos. A radiante figura de Jesus preside a totalidade do Tríptico com a auréola de uma serena vitoriosidade. Nos rostos dos enviados se manifesta a plural riqueza do povo de Deus. Há homens e mulheres. Alguns têm pele branca. Outros rostos são de mulatos, indígenas ou de mestiços. Ao fundo se vê a cena do Calvário e dois anjos. Na legenda se reproduz a autodefinição do Messias, as palavras do envio discipular: "vão e façam discípulos a todos os povos" (Mt 28, 19) e o solene encargo da Mãe do Senhor à sua Igreja.

2. À luz do milagre de Caná se assinala catequeticamente o imperativo pastoral de mobilizar o amor dos fiéis a Maria e a uma obediência irrestrita ao querer de Jesus "façam o que Ele vos disser". A figura dos esposos destaca a grandeza do sacramento do matrimônio. As talhas de vinho expressam a alegria dos discípulos que, pela manifestação de glória, creram nele.

3. Vocação dos primeiros: Pedro e André, Tiago e João são chamados. As palavras de eleição de Jesus têm uma réplica humilde de Pedro que se sente indigno para seguir a vocação de apóstolo. Desde então serão pescadores de homens. Os quatro escolhidos aceitam remar mar adentro e lançar as redes só "em teu nome". O resultado é uma abundância milagrosa. Deixam tudo. Começam a trilha do seguimento discipular.

4. A multiplicação dos pães. O verde da erva recorda que o fato ocorreu na primavera. Cristo oferece o poder de sua misericórdia fazendo abundante o escasso alimento inicial. Mas não é Ele quem entrega o pão à multidão - "dai-lhes vós mesmos de comer". Os discípulos têm o encargo de atender aos necessitados. Ressoa aqui uma urgência inadiável. É o imperativo da Igreja Latino-Americana e do Caribe de atender aos pobres e esquecidos, "seja no socorro de suas necessidades mais urgentes, como também na defesa de seus direitos" (Homilia aos bispos, 11/05).

5. Encontro com os discípulos de Emaús. Esta cena mostra como Jesus mesmo entra no dinamismo peregrinante da Igreja. Durante o caminho Ele explica as Escrituras. Na mesa, o Ressuscitado parte e partilha o pão. Iconograficamente, a atenção se foca na centralidade da Palavra e da Eucaristia. O texto da legenda registra a intensidade do encontro do discípulo com seu Mestre. É um ardor contemplativo que leva ao novo trajeto missionário para Jerusalém.

6. A vinda do Espírito Santo. É o nascimento da Igreja. Os apóstolos se congregam em torno de Maria Mãe. Pedro tem as chaves como símbolo de seu encargo específico no Colégio Apostólico. "Todos ficaram cheios do Espírito Santo". Aparecem as mulheres; delas fala o livro dos Atos. Unidade na comunhão do Espírito Santo. Variedade de carismas. Só pelo vigor divino que o Paráclito lhes concede podem assumir a missão recomendada.

7. Os discípulos de Jesus evangelizam. Sucede agora. Os discípulos entram na vida de "nossos povos". A evangelização ocorre no diálogo cotidiano. Os discípulos e missionários do século XXI prolongam o amor e o compromisso de São João Diego de Guadalupe, com a Bíblia na mão. No seu manto vai impresso pelo céu, a imagem da Virgem Maria, discípula perfeita e sábia educadora dos eleitos por Jesus para evangelizar.

8. O Pai Eterno e o Espírito Santo. Coroa o Tríptico uma imagem do Pai de Jesus Cristo, que se mostra unido ao Espírito e ao Senhor Ressuscitado. Com este detalhe, todo o ícone logra um marcado caráter trinitário, tal como era usual nas imagens da primeira evangelização. Indica-se, assim, qual é a fonte e o destino da história humana. Assim, o Deus Uno e Trino é proposto como a suprema realidade de amor, na qual se sustentam e inspiram todas as formas de comunhão e solidariedade que brotam do Evangelho.

9. Nas esquinas superiores dos painéis laterais abertos, aparecem dois santos emblemáticos do primeiro século do cristianismo. Um é o grande missionário vindo da Espanha, São Toríbio de Mogrovejo: o bispo místico realizou uma gigantesca obra evangelizadora a partir de sua sede limenha. A outra figura é Santa Rosa de Lima: representa a recepção do Evangelho por parte dos nativos americanos; esta leiga, nascida de uma família de origem dominicana, chegou a um alto cume de intimidade esposal com Cristo e de heroica caridade para com os pobres.

10. Quando o Tríptico está fechado, aparece o escudo papal de Bento XVI e se vê a sua dedicatória com a exortação que assinala para o futuro: "Sejam discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nossos povos tenham vida. Aparecida, 13 de maio de 2007". O selo final é a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Em torno dela se congrega um cacho misturado com diversos rostos dos povos que ela protege e guia por estas latitudes.

Tradução: Júlio César Caldeira, revista Missões.

* Joaquín Alliende Luco, sacerdote da Academia Chilena de Línguas.

Publicado na edição Nº03 - Abril 2009 - Revista Missões. www.revistamissoes.org.br
Fonte: Revista Missões/www.celam.org

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