Alexandre Ribeiro
Para saber como estão se estruturando os preparativos para a grande missão continental proposta pela Conferência de Aparecida, Zenit entrevistou Dom Sérgio Braschi, bispo de Ponta Grossa - PR, bispo responsável no Brasil pela iniciativa
Dom Sérgio é o responsável na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pela missão Ad gentes e é membro da Comissão do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) para missão continental.
- Como está a formatação da missão continental?
- Dom Sérgio Braschi: Após Aparecida, na dimensão da missão continental, não houve ainda muita coisa concreta. Nós tivemos uma reunião em Bogotá, em novembro do ano passado, depois um trabalho elaborado pela Comissão do CELAM responsável pela missão, que foi partilhado com os presidentes das Conferências episcopais dos diversos países. Agora no começo de março houve um encontro com os secretários-gerais em Bogotá. Neste momento, o trabalho está nas mãos das Conferências episcopais. Aqui na Assembléia Geral da CNBB os bispos do Brasil participaram de uma exposição feita por uma Comissão que foi composta recentemente, formada por quatro bispos e dois peritos da CNBB, que estamos começando a refletir sobre como assessorar as dioceses, paróquias e comunidades, para que elas possam entrar nesse estado permanente de missão que o Documento de Aparecida nos pede.
O sonho é muito grande. De nós sairmos de uma Igreja voltada para dentro, como sal dentro do saleiro, porque muitas vezes nós ficamos concentrados e lá onde precisaríamos estar presentes, perto das pessoas que sofrem, das que estão afastadas, das que não têm mais nenhum encontro com Cristo na sua vida, nós às vezes não estamos lá perto. Então nós temos de abrir de fato, partir para uma atitude missionária. Isso supõe formação, todo um trabalho que não acontece de uma hora para outra, que não depende de uma decisão apenas. Trata-se de um caminho que se apresenta a nós e que será muito diversificado em cada país. Veja dentro do Brasil quantas realidades diferentes nós temos. Temos dioceses que têm uma longa tradição de missões populares, que já estão em missão permanente. Há outras que ainda não entraram nessa dinâmica. Em muitos lugares temos a infância missionária muito forte, com as nossas crianças já crescendo com outro espírito, graças a Deus. Imagine os outros países da América Latina, cada um tem a sua realidade. Portanto, é muito difícil imaginar que o CELAM, ou a nossa pequena Comissão, possa passar determinações concretas e logo tudo começar a acontecer. Nós sentimos que realmente é chegada a hora da Igreja na América Latina abrir-se muito mais para esse espírito missionário que, aliás, é do nosso Batismo, da nossa Crisma, para cada cristão. Mas como concretamente isso vai acontecer vai depender da realidade das várias regiões.
- Têm surgido idéias de iniciativas concretas?
- Dom Sérgio Braschi: Nós temos agora a realização de um grande momento no âmbito da América que é o CAM 3, Congresso Americano Missionário, que é já o oitavo na América Latina, e se celebra em Quito, no Equador, de 12 a 17 de agosto. Vai ser um grande momento. E por ocasião desta celebração vai haver o envio da missão continental. Ou seja, haverá um momento celebrativo em que vai ser lançada esta grande missão. Apesar da concretização da missão ser diferente de país para país, haverá alguns momentos em que todo o continente vai se unir. E isso vai ser muito bonito. Estamos agora para começar, a 28 de junho, por convocação de Bento XVI, o Ano Paulino, que é mais uma motivação fantástica para nós aprendermos de São Paulo esse espírito de discípulo missionário. Então há muita coisa bonita programada e a ser programada. Estamos dando os primeiros passos, mas é o sopro do Espírito que aparece claramente no Documento de Aparecida e, mais que no documento, no evento da Conferência de Aparecida. Nós temos uma grande alegria de perceber a Igreja despertando para essa missão.
- Pode-se dizer que a missão continental é uma das conseqüências do aprofundamento da amizade com Cristo de que fala a Conferência de Aparecia?
- Dom Sérgio Braschi: Aparecida fala dos cinco passos que são uma pedagogia inspirada no que aconteceu com os discípulos de Jesus e que têm de acontecer conosco e se repetir no decorrer da vida. Começa com um encontro vivo e profundo com Cristo. Desse encontro vem uma conversão. Isto é, uma mudança de vida, de mentalidade. Então após o encontro com Cristo vem o segundo momento que é a conversão, que vai se repetir no decorrer da vida, pois não é apenas uma vez que a gente se converte. Esse segundo passo leva ao terceiro, que é o discipulado. O discípulo segue e imita o Mestre. Procura reproduzir na sua vida as opções de Jesus, que tinham como fundamento fazer a vontade do Pai. Desembocamos então no quarto aspecto, que é a comunhão. Porque ninguém vive todo esse processo sozinho, mas sempre na comunidade. O quinto aspecto é a missão. A gente não vai ser missionário se não fizer esse caminho. O missionário deverá constantemente reviver no seu coração o encontro com Jesus.