O Caráter Continental dos Congressos Missionários

Manoel Roque Tavares *

"A Missão, nascida do amor salvador do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é a própria essência da Igreja, renova-a constantemente, dá novo vigor à sua fé e identidade, concede-lhe novo entusiasmo e novas motivações" (RM 2)

O Continente da Esperança prepara-se para um grande evento eclesial: o 3° Congresso Missionário Americano (CAM 3), também conhecido como 8° Congresso Missionário Latino-Americano (Comla 8), que terá lugar na cidade de Quito (Equador), de 12 a 17 de agosto de 2007. O tema será A Igreja em Discipulado Missionário.

Os Congressos Missionários Latino-Americanos (Comlas) nasceram por inspiração e promoção das Pontifícias Obras Missionárias. Foram organizados em colaboração com as Conferências Episcopais, com a participação ativa das Igrejas particulares e de todos os organismos e forças missionárias.
Os Comlas tiveram origem nos Congressos Missionários Nacionais do México (1977), mas, com o tempo, adquiriram caráter de ação continental.

A América, entre crises e esperanças
A América, especialmente a América Latina, vive uma crise socioeconômica muito grave, caracterizada por: dívida externa, pobreza, desemprego, desnutrição, mortalidade, falta de remédios, mendicância, delinqüência, migração, ou seja, a maioria do povo vive em situação de miséria e exclusão. A fenda entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco é cada vez mais acentuada.

Na América vivem cerca de 780 milhões de pessoas, das quais aproximadamente 490 milhões católicos (63%). A realidade estatística do nosso continente faz de nós a esperança da Igreja e do mundo, mas, como católicos, devemos ao mundo, por justiça, o anúncio de Jesus Cristo.

A luz de sua consciência missionária e pastoral, o que é que a Igreja da América Latina e do Caribe pode oferecer hoje à Missão, tanto no continente, como além de suas fronteiras? A resposta deve ser buscada permanentemente, levando em conta os "sinais dos tempos" e as diferentes situações que o Espírito do Senhor nos apresenta.

O Documento de São Domingos sintetizou esta responsabilidade evangelizadora e missionária a partir de campos de ação ou desafios: a Missão além-fronteiras, a revitalização dos fiéis que se afastaram, o diálogo com os outros cristãos e novos movimentos religiosos, a atenção para com os indiferentes e ateus.
Nossa Missão deve ser, antes de tudo, uma Missão de pobres para com pobres, na comunhão e na reciprocidade das Igrejas da América Latina e do Caribe, e dos Continentes Asiático e Africano, testemunhando e anunciando os valores do Evangelho, e, com eles, aprendendo fraternalmente. A América vive momentos de ardor missionário, e quer responder com gestos concretos à confiança depositada no "Continente da Esperança", pois somos 43% dos católicos do mundo. Somos, pois, a esperança da Igreja no 3o Milênio.

A Europa, de evangelizadora a evangelizada
A Europa é um continente que tem raízes cristãs muito profundas, e de lá partiram milhares de missionários para o mundo todo. Era e ainda é um continente missionário. Muitos deles foram pioneiros em todos os continentes. Eles levaram o Evangelho à América, África, Oceania e Ásia. Trabalharam arduamente para levar o Evangelho até os confins da terra.

No entanto, os missionários europeus são cada vez mais adultos e os jovens são poucos. Logo a Europa não poderá satisfazer nem as próprias necessidades pastorais. Na Itália e na Espanha há muitos sacerdotes africanos trabalhando como párocos.

Há cada vez menos vocações na Europa, muitos seminários estão vazios, a mentalidade dos cristãos europeus está mudando vertiginosamente. Ela sofre um processo de descristianização, é cada vez menos cristã, menos católica.

A Europa vive uma situação econômica que proporcionou às suas populações muito bem-estar e comodidade. Ao mesmo tempo, está se tornando um continente de adultos, pois quase não há crianças. As famílias numerosas já não existem. Milhares de famílias têm um único filho.

Os jovens estão se perdendo em experiências distanciadas de Deus. O materialismo, as drogas e a indiferença os atingem. Os europeus tornaram-se pouco a pouco uma sociedade hedonista, consumista e altamente egoísta. Por outro lado, milhares de migrantes chegam à busca de trabalho. Também se acentuou o racismo.

A Europa está passando de evangelizadora a evangelizada. Logo precisará, em médio prazo, da nossa cooperação missionária, da nossa oração e, sobretudo, dos nossos missionários, para ser, novamente, evangelizada.

Ademais, prevê-se que deixará de ser a provedora de recursos econômicos para a execução de milhares de projetos de ajuda a outros continentes, especialmente a África e a América Latina.

A África, a nova Pátria de Cristo?
A Igreja Católica experimentou um crescimento espetacular na África. Vive um momento de especial importância, no qual está em jogo a autenticidade de seu seguimento evangélico e de seu serviço.

Dos 750 milhões de habitantes africanos, 123 milhões são católicos, número que supõe um crescimento espetacular, se se comparar com o milhão que eram nos inícios do século 20, ou os 24 milhões de 1960. Desde esse ano ao ano de 2000, os cardeais passaram de 1 a 14, os bispos nativos, de 40 a 405, os sacerdotes, de 2 mil a 15.535. Os seminaristas maiores são quase 17 mil, e os catequistas, 343 mil.

A Bíblia foi traduzida para muitas línguas locais, foram formados milhares de líderes, foram abertas escolas, hospitais, centros de formação agrícola, organizaram-se estruturas paroquiais, diocesanas e internacionais.

A África, cujos habitantes se distinguem especialmente por seu amor à vida e por sua capacidade de desfrutá-la, é hoje como Israel que exige a libertação do Egito das guerras, das epidemias, do analfabetismo, da falta de respeito, dos direitos humanos, das multidões de refugiados. A Igreja Católica assumiu o grito pela vida, ao afirmar em sua mensagem sinodal: "Cristo, nossa Esperança, está vivo, e nós viveremos."

A Igreja Católica vive na África um momento de especial importância, no qual se questiona a autenticidade do seguimento evangélico e de seu serviço. No entanto, ela precisa de nosso apoio, para converter-se na nova pátria de Cristo. Nossa oração e contribuição econômica são vitais para se alcançar este objetivo.

A Ásia, evangelização e desafios do 3° Milênio
A Europa conheceu o Evangelho no 1° Milênio; a América e África, no 2° Milênio. Agora, no 3° Milênio, a Igreja espera uma abundante colheita. O continente asiático é o maior desafio que a Igreja tem adiante. A evangelização da Ásia não é de forma alguma algo fácil. Basta pensar um pouco nos números - que neste continente são sempre de grandes dimensões -, para descobrir a magnitude da Missão.

A Ásia significa, antes de tudo, inúmeras pessoas. Asiática é 60% da humanidade, quase a metade dela tem menos de 15 anos, e a imensa maioria vive em extrema pobreza. E Ásia significa, sobretudo, variedade, pluralismo, multiplicidade.

Desigualdades físicas e geográficas, variedade de raças e grupos étnicos, diversidade de línguas (só na China existem mais de 800), sistemas políticos e estruturas sociais. A Ásia é composta não só de países, mas de diversos países e mundos diferentes.

Existem, portanto, muitas Ásias. Cada uma delas tem sua própria e forte riqueza espiritual. Ásia também significa religião. Nela surgiram, além do Cristianismo, outras grandes religiões: Hinduísmo, Judaísmo, Islamismo, além de muitas outras tradições religiosas, como o Taoísmo, o Confucionismo, o Xintoísmo e inumeráveis crenças e visões de mundo indígenas.

Na Ásia vivem 85% de todos os não-cristãos do mundo, ao passo que os católicos - cerca de 100 milhões - são apenas 2,9% dos 3,7 milhões de asiáticos. Estes números mostram claramente a enorme tarefa que a Igreja tem pela frente.

A Oceania ainda espera colaboração
A Oceania, com seus 30 milhões de habitantes, dos quais 8 milhões são católicos, enfrenta grandes dificuldades, pois as populações estão muito distantes umas das outras, razão pela qual complica-se a atividade evangelizadora da Igreja. A isso se soma a escassa presença de missionários. Sem dúvida, existe uma grande esperança: os cristãos atuais são muito comprometidos.

Este compromisso tornou-se realidade, quando enviam, apesar do escasso número de agentes de pastoral, "além-fronteiras" muitos dos seus melhores evangelizadores. O Equador é um país que recebeu numerosos missionários da Oceania.

Os primeiros missionários católicos chegaram à Oceania em 1827, bem depois da chegada dos missionários protestantes, em 1793.

Dentre os grandes missionários que trabalharam na Oceania, destacamos o Pe. Damião de Veuster (1840-1889), missionário comboniano, que viveu 16 anos entre os hansenianos na Ilha de Molokai, no Havaí, e morreu como leproso.

A Oceania espera nossa cooperação. É um continente que mal conhecemos, mas que está à espera de nossa presença missionária.

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