Só um grande amor nos garantirá o fruto de nossos trabalhos e esforços. (José Allamano)
Por Carlos Roberto Marques
No passado, esperávamos o sinal para entrar na classe e permanecíamos em pé, ao lado da carteira, até que a professora nos autorizasse a sentar. Qualquer visitante era recebido de pé. Às quartas-feiras, perfilados no pátio, cantávamos o Hino Nacional; vez ou outra, o Hino à Bandeira ou o Hino da Independência, já decorados. Assim, além de Aritmética, Linguagem e Ciências, aprendia-se o respeito, e éramos despertados para o patriotismo e a cidadania. Nas pequenas cidades, o professor e a professora gozavam do mesmo prestígio do padre e do prefeito.
O presente
Hoje, os alunos entram nas salas, reúnem-se em grupos ou se isolam com seus celulares. A entrada do professor quase nem é notada; é preciso esforço para perceberem sua presença. Com os pais saindo para o trabalho, a educação ficou hoje por conta dos empregados domésticos e das próprias escolas, mas nenhuma autoridade lhes foi delegada. Com autoridade reprimida, e o receio de represálias, muitos professores e muitas escolas optam pelo laisser faire, o “deixe pra lá”. Corre-se o risco da escola fazer de conta que ensina e o aluno fazer de conta que aprende.
O futuro
Quem hoje quer ser professor? Estatísticas mostram menos de 2% de estudantes com este objetivo. O resultado é a enorme carência destes profissionais, especialmente em escolas públicas, e um excessivo número de períodos vagos, e prorrogação do ano letivo para recompor o currículo. Sem contar o sucateamento dos prédios e equipamentos, fartamente noticiado pela mídia. O que esperar deste país que se diz em desenvolvimento? Estamos, na verdade, retornando ao status de terceiro mundo, e não só pelos problemas econômicos, mas, principalmente, pelo comportamento de nossas autoridades, que reflete no comportamento do povo. Voltaremos às “repúblicas das bananas”?
No dia 15 de outubro comemora-se no Brasil o Dia do Professor. O que estes mestres têm hoje a comemorar? Baixos salários, desestímulo, perda de prestígio, ameaças de alunos, de pais, de gente do tráfico que quer transformar em clientes os alunos das escolas? Darão um grito de revolta ou celebrarão a esperança?
O sonho
O professor atendeu, sim, a uma vocação. Tem um pouco de bom samaritano, quando se preocupa com problemas até pessoais e familiares de um aluno. Tem muito de bom pastor, socorrendo aquele que se atrasou e não consegue acompanhar a maioria. É também um missionário, porque visa a independência e o crescimento do outro. Mas é, antes de tudo, um profissional, que se preparou para cumprir seu papel na sociedade; dedicou tempo e dinheiro em sua formação, esperando justa recompensa por seu trabalho, com salário que lhe garanta uma vida digna e um futuro tranquilo, embora seja uma profissão que se escolhe e se desempenhe por amor. Nosso respeito e nossa homenagem a todas as professoras e professores, alicerces de nossas vidas. Obrigado a todos!