Tudo (ou nada) pode acontecer

Eleições dia 2 de outubro são imprevisíveis, há uma desconfiança quase geral.

Por Selvino Heck*

Do ponto de vista político e geográfico de onde, neste momento, vejo os acontecimentos – Venâncio Aires, Capital Nacional do Chimarrão, Rio Grande do Sul -, onde estou envolvido até a raiz dos cabelos na campanha eleitoral, chego à seguinte conclusão, dia 16 de setembro, a 15 dias da eleição municipal de 2 de outubro: estas eleições são imprevisíveis, tudo está em aberto, não se pode afirmar quem vai ganhar ou perder, salvo as exceções de sempre. `The roling stones`, as pedras estão rolando. Parece o momento do Brasileirão, no caso gaúcho. O Inter está cai não cai, na zona do rebaixamento. O Grêmio, que alguns diziam quase campeão, pode nem ficar nos times que vão para a Libertadores.

adital1Conversa-se com as pessoas e há uma desconfiança quase geral. Dúvidas, incertezas, uma opinião diferente a cada dia. Ninguém sabe em quem acreditar, separar a verdade da mentira, saber o que é joio, o que é trigo. O jogo midiático, as manchetes escandalosas, misturadas ao desemprego em crescimento, à falta de perspectivas e de futuro deixam o cenário turbulento, imprevisível, como talvez em nenhuma eleição anterior.

A sempre presidenta Dilma acaba de sofrer impeachment, o todo poderoso Eduardo Cunha é apeado do cavalo do poder de forma acachapante. O governo patrocinador do golpe ameaça acabar com as investigações da Lava-Jato, ao mesmo tempo em que todas políticas e programas sociais correm sério risco, na área da educação, da saúde, da agricultura familiar, dos jovens, dos negros, das mulheres, e diz que vai fazer de forma draconiana as reformas da previdência e trabalhista, com perda de direitos para os trabalhadores e as trabalhadoras. E há uma denúncia midiática e policialesca contra Lula, `sem provas, só convicções`, desconhecendo sua história e tentando impedir sua eventual candidatura em 2018.

Quem ganhará as eleições em São Paulo ou Porto Alegre, por exemplo? Quem irá para o segundo turno nas capitais e cidades maiores? Aumentarão os votos brancos e nulos?

Ao mesmo tempo, ouço notícias e avaliações de que, pelo menos nas cidades maiores do Rio Grande do Sul, o Partido dos Trabalhadores, ao contrário do que muitos vaticinavam, não está derrotado ou enterrado previamente, sem qualquer chance eleitoral. É o caso da própria Porto Alegre, de São Leopoldo, Caxias do Sul, Santa Maria, Rio Grande, Pelotas, Viamão, Sapiranga e outras tantas cidades. O caos previsto, a derrocada final não estão no horizonte, ao que tudo indica.

Mais que em outras oportunidades, tudo vai ser decidido nos últimos dias antes das eleições, senão no próprio dia 2 de outubro. Até lá, o debate sobre a conjuntura, os projetos de desenvolvimento, a memória do que fizeram os governos Lula e Dilma, a construção de propostas de participação popular, a defesa dos direitos dos trabalhadores ameaçados poderão dar fôlego ao campo popular e democrático.

Muito pé no barro, muitos apertos de mão, muita saliva gasta, como historicamente fazem lutadores e lutadoras do povo, militantes como Olívio Dutra e Raul Pont, só para dar dois exemplos, serão decisivos.

Que Brasil vai emergir das eleições? Difícil saber nesta altura do campeonato, quando o Grêmio acaba de ver a demissão de seu até então celebrado treinador, Roger Machado, e o Inter não consegue ganhar nem do Vitória no Beira Rio. 15 dias são apenas 15 dias, 2 semanas. Duas longuíssimas semanas em que tudo ou nada pode acontecer. Mas duas semanas para entrar para a história, num ano marcado pelo avanço do conservadorismo político e cultural, dos interesses antinacionais e antidemocráticos. Mas como disse Lula, falando dos estudantes que não deixaram fechar as escolas em São Paulo e que nos seus 71 anos são milhões de jovens a se multiplicarem Brasil afora, agora também são milhares de vozes, milhares de candidatas e candidatos do campo popular e democrático que vão para as ruas, conversam com a população, defendem Lula e Dilma e suas políticas a favor do povo e do Brasil.

As eleições de 2 de outubro poderão ser, mais que outras vezes, um espaço de resistência, uma oportunidade de dizer que os sonhos de liberdade, de justiça social, de igualdade não foram derrotados, que a democracia sobreviveu a todos os ataques, que a mídia golpista nem sempre tem a última palavra, que, afinal, ainda há esperança e futuro.

15 dias. Tudo (ou nada) pode acontecer. Mas a esperança sempre é a última que morre. Ou melhor, assim como os sonhos e a utopia, não morre nunca.

*Selvino Heck é deputado Constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).

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