Egon Heck *
As brasas ainda fumegantes testemunham mais um tempo que passou. Um junho, junino de festas, de surpresas, de lutas e de avanços. Um mes em que as águas no Amazonas atingiram o maior nível dos últimos cem anos e a Amazonia um dos massacres mais infames das últimas décadas.
Vários povos indigenas e a população da região de Bagua, na amazonia peruana, protestaram durante dois meses contra a agressão imperialista que signifaram os tratatados de livre comercio assinado pelo governo Alan Garcia.
Tiveram como resposta uma brutal repressão, que acabou em inúmeras mortes
Para os povos indigenas do Mato Grosso do Sul, o horizonte da terra parece ter ficado um pouco mais proximo. Após as fortes cobranças na Aty Guasu de Takuara:"Como vamos acreditar, se já deram vários prazos para terminar a demarcação das nossas terras e nunca cumpriram. Voces fizeram as leis, nos ensinaram a ler, agora vão ter que nos engolir...Vamos cobrar, vamos agir..."(Jorge Kaiowá, aldeia Pirakuá), aumentou a confiança na união e luta, para vencer as resistências e a burocracia. Mas ficou também o alerta "a nossa paciência acabou".
Os entravados caminhos burocráticos e interesses eleitorais
Apesar das boas vontades manifestas por várias personalidades do governo e reforçada em diversos momentos pelo proprio presidente Lula, o avanço efetivo das demarcações tem dois obstáculos perigosos pela frente. O primeiro é a propria burocracia do Estado. Esta só poderá ser vencida por pressão efetiva dos índios e da sociedade aliada á decisão, vontade e ação polítca das diversas instâncias desde o presidente da República, até o presidente da Funai e os funcionários públicos encarregados da excecução dos trabalhos.
A outra é a conjuntura eleitoral, que implica nas composições e alianças políticas, onde se juntam os diversos interesses e se fazem os mais diversos cálculos. Infelizmente nesta equação os direitos dos índios acabam ficando em segundo plano.
Esperança, apesar de tudo
A polícia federal - diálogo, interesse do delegado Alcidio, em conhecer e dialogar. Sua primeira experiência foi com a comunidade Larahjeira Nhanderu, por ocasião do prazo de reintegração de posse, em maio. Demonstrando interesse em conhecer melhor a realidade indígena, participando de encontros, e recebendo mais informações sobre a realidade. Apesar de informar que, caso solicitados, dariam cobertura ao trabalho dos antropólogos, disseram também que as cotas de diárias para esse ano já haviam acabado.
A CRB Campo Grande, fez um importante seminário sobre a questão indígena no Mato Grosso do Sul, publicando uma carta aberta em apoio aos direitos indígenas, "Exigimos ação imediata e decisiva para garantir o processo de identificação e demarcação de todas as terras indígenas neste Estado. Que suas "terras sagradas" sejam reconhecidas, conforme determina a Constituição Federal.
Sabemos que soluções existem, mas o que falta é a vontade política e o respeito às reivindicações desses povos no que tange a terra, produção, alimentação, saúde e educação.
(Conferência dos Religiosos do Brasil - CRBregional Campo Grande, junho 2009)
Meio ambiente inteiro, antes que seja tarde - "Ou restabelecemos a reciprocidade entre natureza e ser humano e rearticulamos o contrato social com o natural ou então aceitamos o risco de sermos expulsos e eliminados por Gaia. Confio no aprendizado a partir do sofrimento e do uso do pouco bom senso que ainda nos resta."(Reciprocidade ou Morte, Leonardo Boff, junho 2009)
Neste primeiro de julho continua a rodada de conversações intermediadas pelo Ministério da Justiça. Sete lideranças Kaiowá Guarani estarão ouvindo mais uma vez a proposta do governo e estarão cobrando agilidade na conclusão dos trabalhos dos GTs, acompanhados com a polícia federal.
A próxima semana será muito importante para os Kaiowá Guarani. Terão uma extensa agenda em Brasília, em Ministérios, CNBB.
* Cimi MS, Rio Brilhante-MS, 26 de maio de 2009.