CIMI *
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) encontra-se estarrecido com o assassinato de mais de 60 pessoas, dentre elas 30 indígenas do povo Awajun, que vive na Amazônia peruana. Parece impossível imaginar que, em pleno século 21, ocorra tal massacre genocida. No entanto, os fatos dos últimos dias no Peru revelam a face mais cruel de um processo colonialista continuado e atualizado com toda infâmia e violência contra os povos originários destas terras, os povos indígenas.
Infelizmente, o ataque contra os Awajun não é um fato isolado. Esse massacre é revelador da barbárie que a civilização das armas e da morte utiliza para continuar o saque dos recursos naturais, a invasão dos territórios indígenas e a negação dos direitos fundamentais desses povos. Trata-se de uma afronta às leis peruanas e aos acordos internacionais que garantem a esses povos suas terras e o usufruto dos recursos naturais.
Os indígenas foram assassinados durante mobilizações contra o Tratado do Livre Comércio (TLC) do Peru com os Estados Unidos, que possibilitará a invasão de terras indígenas e a exploração indiscriminada dos recursos ambientais. O governo do presidente Alan Garcia desrespeitou a Convenção n.169 da Organização Internacional do Trabalho, ao aprovar leis para o Tratado sem consultar os povos indígenas. Em protesto, os indígenas fizeram um ato numa estrada, onde foram violentamente reprimidos.
Esse fato é uma demonstração inequívoca do processo de criminalização e violência a que estão sendo submetidos a maior parte dos povos indígenas nas Américas, em Abya Yala. No Brasil, também há lideranças indígenas sendo assassinadas, presas e levadas aos tribunais, apenas por defenderem os direitos de seus povos.
O Cimi, como entidade solidária aos povos indígenas e defensor de uma outra América possível, externa sua total solidariedade ao povo Awajun e a todas as vítimas da atrocidade do Governo peruano. O Conselho se compromete a lutar para que esse genocídio seja julgado em fóruns internacionais. Nesse sentido, reforça a denúncia aos organismos internacionais e solicita, em especial à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) a tomar as providências cabíveis em relação a mais esse atentado contra à vida dos povos indígenas.
Esse fato também nos compromete cada vez mais a lutar contra todas as injustiças e violências a que estão submetidos os povos indígenas no Brasil, na Abya Yala e no mundo.
* Conselho Indigenista Missionário
Brasília, 7 de junho de 2009