Podemos combater a corrupção sem quebrar a ordem democrática.
Por Roberto Malvezzi (Gogó)
Seria interessante que os cristãos preocupados com a paz e a justiça se voltassem essa semana santa para o jejum e oração pelo Brasil. Não nos esqueçamos que essas foram as grandes armas dos maiores pacifistas do mundo, como Gandhi, Luther King, Mandela, D. Hélder e o próprio Jesus.
Não cabe a nós cristãos jogar gasolina no ódio que divide a sociedade brasileira. E corremos o risco de ver voltar regimes autoritários que tantas desgraças trouxeram ao país.
Lembremo-nos que a Igreja Católica colocou o povo na rua em 1964, com a Marcha da Família. Hoje não é mais preciso que Igreja cumpra esse papel. Setores da grande mídia e as redes sociais se encarregam de organizar e inflamar as paixões que estão nas ruas.
Lembremo-nos que nesse momento da história, todos os elementos que estiveram nos outros golpes continuam na praça: setores da grande mídia, a classe média branca, os empresários. Mas, esse golpe ainda não tem a digital da Igreja e dos militares.
Pelas declarações, a CNBB pede serenidade nesse momento, inclusive alertando continuamente sobre o risco de quebrarmos nossa frágil ordem democrática.
As multidões nas ruas estão divididas. De um lado setores privilegiados que querem a qualquer custo a derrubada da presidenta, de outro os grupos que fazem a defesa da democracia, ainda que não das mazelas do atual governo.
No fundo não está apenas o combate à corrupção, mas o pretexto da corrupção para interesses subterrâneos de poder, tanto em nível nacional como internacional. Podemos combater a corrupção sem quebrar a ordem democrática.
Lembremo-nos das vítimas da ditadura civil-militar de 1964: Frei Tito, Pe. Henrique, os dominicanos, tantas lideranças populares e de comunidades presas, torturadas e mortas durante esse período.
Lembremo-nos também dos jornalistas, dos líderes operários e sindicais, a exemplo de Santo Dias da Silva.
Lembremo-nos do sofrimento imposto a tanta gente de Igreja ou pessoas de boa vontade que pagaram na pele e na sua família o peso do ódio cego.
Lembremo-nos que a ditadura não precisa ser necessariamente militar – “O avanço da ditadura civil brasileira” http://www.robertomalvezzi.com.br/visao/index.php?pagina=3&artigo=82 -, mas pode ser simplesmente civil, decretada por um ou mais juízes, por um grupo de parlamentares, com a legitimação de profissionais e organismos de mídia.
Um pouco de oração e jejum pelo Brasil fará bem a todos nós.