Layla Kamila, coordenadora de Redes Sociais do projeto Jovens Conectados fala sobre o uso das redes sociais para fortalecer a espiritualidade dos jovens.
Por Jilwesley Almeida
Pelo fato da juventude estar cada vez mais conectada ao ambiente virtual e se sentir atraída pelas inovações tecnológicas do mundo contemporâneo, a Igreja tem buscado utilizar-se dessas ferramentas para despertar e fortalecer a espiritualidade nos jovens. As redes sociais mudaram a forma como a juventude interage com o mundo à sua volta e também a forma como compartilham suas crenças e anseios.
Para discutir a relação do jovem com a religião nos dias atuais, em meio a tantas inovações digitais, a Adital entrevistou Layla Kamila, coordenadora de Redes Sociais do projeto Jovens Conectados, um canal criado pela Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O canal "Jovens Conectados” está presente nas principais redes sociais da Internet (Facebook, Instagram, Twitter, Youtube e outras), e é exclusivamente voltado para a juventude católica brasileira.
Na entrevista, Layla fala sobre a tolerância religiosa na juventude, a exposição excessiva nas redes sociais e os obstáculos que desviam a juventude do campo religioso, hoje em dia.
Adital - Como é que a coordenação dos Jovens Conectados avalia a busca da juventude pela espiritualidade, hoje em dia?
Layla Kamila: Acredito que a busca pela espiritualidade continua intensa porque os jovens estão na Igreja, querem ter um espaço, querem ter voz ativa também dentro da Igreja, e os meios de comunicação, em geral, contribuem para essa aproximação entre a juventude e a Igreja. Um exemplo forte dessa unidade e comunhão são os Jovens Conectados.
Adital - De que forma o jovem tem exercido a sua espiritualidade? E quais são os efeitos dela na juventude?
Nós, como uma comissão para a juventude (da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB), e também por lidarmos com várias expressões jovens, propomos, de diversas maneiras, o exercer da espiritualidade no ambiente digital. Principalmente, nos tempos especiais, como a Quaresma, Semana Santa, Quarta-Feira de cinzas, Corpus Christi. A participação dos jovens é integral e expressa a vivência desses tempos.
Adital - Quais são os obstáculos do mundo contemporâneo que impedem ou desviam o jovem do campo religioso? Como vencer esses obstáculos?
Todas as coisas (o tempo, as escolhas, a mídia, a sociedade) podem influenciar para que o jovem não tenha uma experiência com Deus. Procuramos vencer esses obstáculos com a Verdade, que é Jesus Cristo, que é a Palavra de Deus. Não oferecemos um "produto maquiado” e nem "vendemos felicidade”. Anunciamos [Jesus] Cristo de forma jovem, atrativa, criativa e alegre, como nos chama a viver o Papa Francisco. Tanto que o Perfil biográfico dos Jovens Conectados no Instagram é "Somos o rosto alegre da juventude do Brasil!”.
Adital - Qual tem sido o papel das tecnologias na busca do jovem por uma espiritualidade aflorada e saudável? Quais são os prós e os contras de ferramentas como a Internet?
O papa emérito Bento XVI disse, certa vez, que o ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas, especialmente dos jovens. Se, cada vez mais, a Igreja estiver integrada a esse novo tempo, levando um conteúdo eficaz, haveremos de formar os jovens também em uma espiritualidade concreta, e não puramente "virtual”.
Os benefícios que as tecnologias oferecem é a oportunidade de estar em unidade com todos os carismas pertencentes à Igreja Católica. Ter um contato direto e eficaz com o alvo. Fazer com que as pessoas tenham acesso a conteúdos, de forma rápida. Essas ferramentas favorecem a "cultura do encontro”, na qual o Papa Francisco nos chama a viver também no ambiente digital. Vale ressaltar que a Igreja não só dialoga com membros do mesmo segmento, mas atinge todos - católicos ou não.
Essas ferramentas digitais servem como canal de evangelização. Podemos levar o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo para um número bem maior de pessoas.
Por outro lado, essas mesmas tecnologias apresentam também ameaças, como a diminuição do contato presencial e visual, o vício pelos meios eletrônicos. Quando se faz mau uso dessas ferramentas, corre-se o risco de ter uma comunicação distorcida, risco de cair numa espécie de construção da auto-imagem que pode favorecer o narcisismo e também fazer com que os jovens se refugiem numa espécie de mundo paralelo, ou se exponham excessivamente ao mundo virtual.
Adital - Com o advento das redes sociais, percebe-se muito um costume dos internautas de fazerem os seus agradecimentos e orações a Deus através de postagens nessas plataformas. Como é que vocês avaliam esse tipo de comportamento e a necessidade de exposição nesses mecanismos?
Todo ser humano tem o desejo inerente de se comunicar e, com o advento das redes sociais, isto ficou mais expressivo. O ambiente online pode ser um importante e valorizado espaço de informação e compartilhamento, desde que se preze pela verdade e responsabilidade.
O importante é que não haja o anúncio de uma mensagem, seja agradecimento ou oração, sem um testemunho coerente por parte de quem anuncia. Esse padrão de comportamento consiste não apenas na expressão de fé explícita, mas também no modo como comunicam suas "escolhas, preferências, a vivência com o Evangelho.
Mas vale lembrar que o que você "é”, como ser humano, ecoa mais alto do que o que você "diz” com as palavras.
Adital - A juventude atual é tolerante com aquilo que difere dos seus conceitos e crenças? Como os jovens têm se comportado perante as outras religiões?
É fato que a Igreja sempre buscou uma promoção da "Cultura do Encontro” na comunicação. No panorama atual da sociedade, o individualismo tem prevalecido, ao invés de comportamentos solidários e fraternos. Em contrapartida, o Papa Francisco nos convoca a viver a comunicação autêntica, que serve ao próximo e possibilita o encontro solidário entre as culturas, conceitos e crenças diferenciadas. Porém, precisamos estar abertos e vazios dos preconceitos estabelecidos, do ego, das atitudes de discriminação e individualismo.
Por uma experiência pessoal de trabalho voluntário no canal dos Jovens Conectados, vejo que existe essa diferença, mas a luta para "sermos um só corpo” é mais forte e presente. Com certeza, cada um fazendo a sua parte, podemos colher, futuramente, uma sociedade mais tolerante, fraterna e de paz.
Adital- De que forma os grupos religiosos e igrejas podem atrair o jovem, atualmente?
Não há mágica, há o anúncio da verdade: que é Jesus Cristo, de forma autentica, criativa e eficaz. A mensagem de Jesus deve chegar a todos, sem exceção, seja pelos mais modernos recursos midiáticos e digitais, ou pelos simples, como jornais paroquiais e folhetos.