“O jornalismo é assunto de interesse geral, como toda atividade com alguma exposição pública - a política, a engenharia, a arquitetura, a gastronomia, a funilaria e as religiões e suas promessas de transcendência e suas aberrações”. (Moisés Mendes, jornalista Jornal Zero Hora)
Por Nei Alberto Pies*
Todo profissional deve defender os seus interesses intrínsecos ao seu ofício. Os jornalistas, assim como os professores, trabalham com temas de interesse geral, a educação e a informação. Por isso mesmo, precisam toda hora justificar o seu trabalho e legitimar a função social do seu trabalho. Os jornalistas, em especial, lutam pela qualidade da informação, apresentando slogans como este: “Sem jornalista não tem informação”.
A democratização da informação, através da internet e das redes sociais, acabou, definitivamente, com a ideia do monopólio da informação. Desta forma, todos se sentem no direito legítimo de produzir e comunicar informação, o que é um grande avanço civilizatório. O que é reservado aos profissionais da comunicação, no entanto, é o seu compromisso ético com a verdade e com a veracidade dos fatos comunicados ou produzidos. O que é reservado aos profissionais da educação (professores) é a realização de processos pedagógicos que permitam aos alunos a sistematização das informações para que estas se tornem conhecimento (tenham valor e utilidade prática e reflexiva).
Não nos iludamos, toda informação é seletiva. Os blogueiros, os cronistas, os jornalistas e os professores que escrevem (embora poucos) apresentam abordagens por conta de suas motivações pessoais e convicções políticas e ideológicas. Na educação, assim como na informação, não há neutralidade, pois quem ensina e quem escreve ou comunica interpreta os fenômenos educativos e sociais à luz de seus valores, de suas convicções, de seus ideais de ser humano, mundo e humanidade.
Fico pensando como é ser jornalista atuando em meios (ou redes) de comunicação com linhas editoriais direcionadas para favorecer as estruturas sociais dominantes - para manter tudo como está (status quo). Fico imaginando o sentimento daqueles que simplesmente se submetem ao script, sem questionamentos. Fico imaginando como devem sentir-se aqueles que foram escolhidos (ou contratados) para ocupar espaços como “reserva de informação crítica”. Ser jornalista, nesta condição, deve ser um exercício interessante e intenso para demonstrar, permanentemente, os contrapontos da informação.
Penso que a especificidade do fazer jornalístico deveria traduzir a realidade dos fatos sempre contrapondo as diferentes fontes e os verdadeiros interesses de todos os sujeitos envolvidos. Deveria ainda contemplar, ao máximo, o universo da existência de suas informações e fontes para subsidiar os leitores na formação de uma opinião ou do conhecimento. O jornalista deveria evitar juízos de valor ou julgamentos sumários de sua informação, mas sempre indicar caminhos para o aprofundamento do tema para que o próximo passo seja a busca da verdade.
O fato de não ser jornalista me dá mais liberdade para produzir reflexões sobre seus interesses. Permite-me sugerir que talvez fosse mais coerente que jornais, rádios, revistas e redes de televisão assumissem publicamente as suas posições políticas e ideológicas no tratamento de suas informações. Permite-me sugerir que estamos num mundo com intensa comunicação, mas cada vez mais distantes das possibilidades de conhecimento. Finalizo citando pensador Peter Drucker para destacar a importância do jornalismo: “o conhecimento e a informação são os recursos estratégicos para o desenvolvimento de qualquer país. Os portadores desses recursos são as pessoas”.