Pontes de Amizade

Egon Heck *

"O protesto que campesinos de oito Departamentos de Estado do Paraguai pretendem realizar hoje com apoio do brasileiríssimo MST, tem o objetivo de forçar o governo brasileiro a pagar mais pela energia que é produzida por Itaipu e comprada, na sua maior parte, pelo Brasil.
Esta posição do incendiário movimento que se especializou em invadir propriedades rurais e espalhar o terrorismo pelo campo, sinaliza que o MST está se aproximando perigosamente do governo paraguaio."(O Progresso, Dourados, 26-03-09)

Um gesto histórico de "Brasil e Paraguai, dois paises castigados por séculos de dominação, por ditaduras e pela desigualdade Social".(Doc. Porque estamos mobilizados - Via Campesina, Assembléia Popular, Coordenação dos Movimentos Sociais). Os pobres começam romper as fronteiras da ambição, da dominação, da discriminação e da guerra. Pontes de amizade começam a ser construídas entre aqueles que foram divididos pela ganância, prepotência e exclusão. O capital e seus prepostos não tem fronteiras. Um lado e outro do rio, da fronteira são igualmente espaços de cobiça, de investimento, de destruição, de acumulação. Mas quando os pobres começam a pensar alternativas, justiça e garantia de direitos são logo taxados de terrorista. "Acreditamos numa integração dos povos que se coloque acima dos interesses do mercado. Integração sim! Mas dos povos e não apenas dos mercados", diz o documento de Foz.

Novas pontes de amizade vão sendo construídas pelos movimentos sociais, pelos povos dos dois paises irmãos, que foram construindo e integrando um vasto patrimônio comum. Terere, xipa, sopa paraguaia, xamamé são bebidas, comidas e sons da união.

Os Povos Guarani são talvez o ele mais visível, bonito e sofrido desse espaço de chão que foi sucessivamente invadido por interesses colonialistas de exploração e dominação. Foram sendo jogados de um lado para outro como gado tangido para o matadouro. Resistiram sabiamente e hoje estão aí para dizer que outra integração é possível e necessária nesse continente latino-americano. Não é por nada que na reunião do Parlamento do Mercosul, neste final do mês de abril em Assunção, estará na ordem do dia a língua Guarani como idioma oficial do Mercosul. Não será um folclorismo, mas um efetivo reconhecimento de uma língua indígena, que é a língua oficial do Paraguai.

O Povo Terena também é testemunho vivo da ampla dinâmica histórica nesse espaço de fronteira. Migraram, em séculos passados, nesta vasta região desde o Chaco Paraguai até o Pantanal. Lutaram nas guerras de fronteira e tiveram suas terras tomadas. Hoje, confinados em ínfimos espaços, buscam ter de volta pequenas porções de seu território histórico, para viver com dignidade e ajudar alimentar a população desta região do Mato Grosso do Sul.

É neste contexto que "acreditamos que é possível construir uma nova integração paraguaia e brasileira, uma outra integração latino-americana - a Pátria Grane - na qual os interesses dos povos devem estar acima dos interesses do capital e do lucro" (idem, doc. Foz)

Novo Despejo
Está previsto para hoje expulsão d e uma comunidade do povo Terena da Terra Indígena Cachoeirinha, que está lutando pelo avanço do processo de regularização de sua terra já identificada e com decreto de demarcação. São mais de 6 mil pessoas vivendo em 2.600 hectares. São 26 anos de luta, conforme relato feito pelos Terena no Encontro Regional do Cimi com os movimentos sociais do Mato Grosso do Sul. Os participantes do encontro expressaram sua total solidariedade ao direito do povo Terena em ter suas terras demarcadas e respeitadas, repudiando mais esse ato de violência.

Esse lamentável acontecimento foi qualificado pelos participantes como parte da estratégia do agronegócio, amplamente apoiado pelos políticos e governantes, no seu afã de impedir o direito constitucional dos povos indígenas às terras indispensáveis para sua sobrevivência física e cultural, garantidos por legislações nacionais e internacionais.

* Egon Heck, assessor do Cimi MS.

Fonte: Cimi MS

 

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