Uribe Uribe e Uribe, para quebrar a unidade dos povos indígenas

CRIC *

"É paradoxal que um governo como o presente, preocupado em desconhecer os processos sociais indígenas, camponeses, afros ou de associações, se apresente agora como propulsor da participação cidadã e legitime a criação da OPIC que se apresenta como uma Organização de Povos Indígenas, quando, na realidade, é uma agremiação de indígenas protestantes, dirigidas por porta-vozes religiosos indígenas e de autodefesa camponesa não politizada, sem o apoio oficial de qualquer capataz político, assim como foi demonstrado na reunião realizada em Popayan, no 21 de março de 2009".

No ano de 1907 o General Uribe Uribe expôs como a república, desde seu início, esteve diretamente comprometida com o projeto de extermínio dos povos indígenas: "Em nossa condição de raça conquistadora, já que arrancamos o solo ao índio e cada dia vamos expulsando-o mais para interior da selva, temos o dever, se de verdade somos cristãos, de arrancá-los da bárbara situação em que vivem, para trazê-los à comunhão de fé, ao trabalho e à sociedade (...). O dinheiro investido nisto nos trará altos juros diante de Deus, assim como fala o Evangelho (...). É necessário que a República haja já diretamente sobre aqueles núcleos (...). É urgente que assimilemos aqueles grupos, sua inserção em nossa vida orgânica. É necessário acabar com aqueles costumes ancestrais (...). É necessário transformar em colombianos capacitados aqueles representantes da inutilidade nativa. (Rafael Uribe Uribe, Redução de Indígenas, fevereiro 1907).

Cem anos após, o preocupado governo nacional encabeçado pelo ministro Valencia Cássio se reúne com os representantes das comunidades indígenas (Comuneros) que apóiam a política do Uribe atual (Presidente da Colômbia); daquele Uribe que mantém seu exército de ocupação nos territórios indígenas; daquele Uribe que castiga os pequenos cultivadores de coca, enquanto o poder dos narcotraficantes cresce; daquele Uribe que favorece leis que eliminam os direitos humanos e históricos dos povos indígenas e defende os excessos das forças armadas; daquele Uribe que assina leis de desapropriação como a do Tratado de Livre Comércio - TLC e o Estatuto de Desenvolvimento Rural, no entanto descumpre os acordos e compromissos que o Estado Nacional tem para com os povos indígenas e setores sociais do país; daquele Uribe que invoca Deus, no entanto mente, discrimina e favorece a delação, o ódio e o rompimento do tecido social.

Fica evidente para o país e para o mundo que o atual governo colombiano mantém uma política discriminatória e seletiva contra os povos indígenas da Província do Cauca, a qual se manifesta no seguinte:

1.A proibição nos POT municipais de vender terras aos resguardos indígenas; lei improvisa recolhida e inserida no inexecutável estatuto de desenvolvimento rural.

2. Os discursos mediáticos onde o governo habilmente liga os territórios indígenas ao terrorismo e ao narcotráfico.

3. A corrupção: oferecer recompensa para quebrar a unidade dos povos indígenas do Cauca num conselho comunitário na cidade de Popayan.

4. A detenção arbitrária dos líderes e representantes indígenas que pertencem às comunidades que participam da liberação da Mãe Terra.

5. O uso excessivo da força contra as comunidades indígenas que reivindicam seu direito à terra num ato parcial do governo com os grandes proprietários.

6. Enganar a opinião pública para justificar os excessos do ESMAD contra as comunidades indígenas na localidade de La Maria, Piendamó, onde negou que a polícia fez uso das armas de fogo e não convencionais, no mês de outubro de 2008, contra a evidência dos meios de comunicação internacionais. Naquela ocasião um indígena foi assassinado, nove famílias foram expulsas e 150 pessoas foram feridas gravemente, muitas delas ficaram com sequelas por toda a vida.

7.O atentado, no mês de dezembro de 2008, contra o Conselho Regional Indígena do Cauca - CRIC, através duma cilada organizada pelo exército colombiano em Totoró contra o carro da CRIC, onde foi assassinado Edwin Legarda, esposo da Conselheira Maior, Ainda Quilcue.

8. A perversa decisão de manter a guerra nos territórios indígenas, onde a guerrilha, satisfeita, intimida, sob a tese de que quem defende a política de segurança democrática será alvo militar, e por outro lado o governo ameaça todos aqueles que reclamam da falta de garantia dos direitos humanos com o argumento de que são aliados dos guerrilheiros.

É paradoxal que um governo como o presente, preocupado em desconhecer os processos sociais indígenas, camponeses, afros ou de associações, se apresente agora como propulsor da participação cidadã e legitime a criação da OPIC que se apresenta como uma Organização de Povos Indígenas, quando, na realidade, é uma agremiação de indígenas protestantes, dirigidas por porta-vozes religiosos indígenas e de autodefesa camponesa não politizada, sem o apoio oficial de qualquer capataz político, assim como foi demonstrado na reunião realizada em Popayan, no 21 de março de 2009.

Deliberadamente, o Ministro do Interior e da Justiça desconhece que os povos indígenas, neste departamento, têm procedimentos de ordem coletiva, onde os porta-vozes principais são os chefes das comunidades, cuja capacidade de interferir e decidir abrange só seu território de origem. Caso o problema toque ou implique mais dum território, precisa recorrer às instâncias superiores: zonal ou regional. É o caso do CRIC, que responde às políticas fixadas nos Congressos Regionais, o qual, aliás, realizará sua 13ª reunião entre os dias 26 e 30 de abril de 2009, em La Maria, Piendamó.

A existência do Congresso Regional Indígena do Cauca chegou aos 38 anos no seu processo organizativo, sendo que os chefes das comunidades, num Congresso Extraordinário, por meio duma Resolução Própria, em 1999, definiram o tipo de Autoridade Tradicional do CRIC; e eles mesmos exigiram do Estado colombiano seu registro legal para facilitar as relações dos Indígenas do Cauca com as Instituições em matéria de política pública, o qual ficou estabelecido através da Resolução 029 do Ministério do Interior em junho desse mesmo ano.

Tristemente notamos a má intenção das instituições, pois neste mesmo ato tornou-se a difamar e insultar o bom nome do CRIC com a conivência do Governo, e de passagem, de forma cínica os funcionários do Estado fomentam velhos atritos religiosos que as comunidades trataram de superar com procedimentos comunitários que dão vida à autonomia interna do governo. Insiste-se na velha aspiração conquistadora exigindo que as autoridades das comunidades renunciem à propriedade coletiva dos resguardos e à observância das regras internas, no momento presente através de propinas econômicas oferecidas por pessoas que ainda fazem parte dos recenseamentos e gozam das decisões da comunidade.

Dado que o Governo não conseguiu facilitar sua política de propina em territórios indígenas; as comunidades não aceitaram o conflito armado, nem apoiaram nenhum dos dois atores da guerra nem aceitaram o mono-cultivo, muito menos quando se trata de plantas que o governo considera ilícitas, então deu início a uma velha estratégia: propôs a idéia de que, diante da comunidade, é o CRIC o responsável dos direitos que constitucionalmente deveria garantir o Estado colombiano através do governo nacional e se apóia em pessoas que, como afirmou uma de seus líderes, não querem mais fazer parte da estrutura interna dos resguardos nem aceitam a autoridade dos chefes das comunidades.

É urgente que os organismos de controle observem as atitudes do governo nacional e departamental, pois continuam favorecendo a quebra do tecido social e da unidade dos indígenas; em especial, que se investiguem os atos dos funcionários públicos: Valencia Cossio e Guilherme Alberto González, sendo eles chefes de delegações que participaram do evento político-religioso que se realizou no Coliseu "La Instância" da cidade de Popayan no passado 21 de março.

Dirigimo-nos à comunidade Internacional, defensora dos direitos humanos, para que vigie os acontecimentos do Cauca, dado que o governo está usando todo tipo de luta contra os povos indígenas (Conflitos armados, ocupação militar, atos judiciais, cultivos ilegais, descumprimento de acordos, sinalização, desinformação mediática, atentados, leis que contradizem os avanços universais em matéria de direitos humanos, intervenção para quebrar a estrutura interna dos povos indígenas) : tudo isso pode causar o desaparecimento forçado de diversos povos indígenas que por mais de cem anos habitam este território.

* Conselho Maior - Conselho Regional Indígena do Cauca - CRIC

Popayan, 24 de março de 2009.

Tejido de Comunicación y Relaciones Externas para la Verdade e la Vida
Asociación de Cabildos Indígenas do Norte del Cauca - ACIN
Telefax: 0928 -290958 - 293999
Email: acincauca@yahoo.es
Web: nasaacin.org
Dirección: Calle 3 No 7ª-20
Santander de Quilichao Cauca - Colômbia.

Fonte: CRIC - Conselho Regional Indígena do Cauca, Colômbia

 

Deixe uma resposta

catorze − três =