Alessandra Munduruku denuncia na ONU a invasão de empresas e bancos nas terras indígenas e a poluição das águas por mercúrio

Alessandra Korap Munduruku se dirigiu à 24a Sessão do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas em uma tarde dedicada ao protagonismo das mulheres indígenas

Alessandra Korap Munduruku se dirigiu à 24a Sessão do Fórum Permanente da ONU sobre Questões Indígenas e denunciou a invasão de empresas, bancos e atividades ilegais nas terras indígenas do povo Munduruku, no Pará, além da poluição das águas por mercúrio.

“Eu venho da minha aldeia para dizer aqui que as nossas mulheres na Amazônia têm o útero doente, o leite materno está contaminado com ouro e mercúrio”, disse. A intervenção da indígena ocorreu no dia 21 de abril, na tarde de abertura do Fórum Permanente, na sede da ONU em Nova Iorque, com trabalhos que seguem até o dia 2 de maio.

O tema desta sessão é a “Implementação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP, na sigla em inglês) nos Estados-Membros das Nações Unidas e no sistema das Nações Unidas, incluindo a identificação de boas práticas e a abordagem de desafios”.

Antes de chegar a Nova York para o Fórum Permanente, a Munduruku estava com o povo em um bloqueio na BR-163, que teve início no dia 25 de março e avançou pelo mês de abril. Os Munduruku protestaram contra a Lei 14701, a Lei do Marco Temporal, que além da tese inconstitucional libera as terras indígenas para grandes empreendimentos sem consulta prévia.

Alessandra se juntou a mulheres indígenas de todo o mundo em uma tarde do Fórum Permanente dedicada ao protagonismo que elas exercem nas lutas de seus povos

 

Leia a declaração na íntegra:

Meu nome é Alessandra Korap, sou do povo Munduruku do Brasil, na Amazônia. Eu venho da minha aldeia para dizer aqui que as nossas mulheres na Amazônia têm o útero doente, o leite materno está contaminado com ouro e mercúrio.

Um estudo da Fiocruz constatou que 56% das mulheres e crianças de Maturuka, na Amazônia, estavam contaminadas; não é um problema exclusivo do povo Munduruku. Indígenas, pescadores e até mesmo aqueles que vivem nas cidades também estão adoecendo. Esses minerais saem para enriquecer ainda mais os homens ricos.

Agora enfrentamos outro problema: a seca. Os rios estão secando, os peixes estão morrendo, os animais não têm água para beber, há incêndios por toda parte, respiramos fumaça. Mas tudo isso tem um nome: o desenvolvimento do agronegócio para plantar soja que alimenta porcos e galinhas, e que muitas vezes não deixa espaço para nossas crianças, nossas mulheres, nossas florestas e nossos rios. Até quando vamos vir aqui na ONU denunciar o que estão fazendo com o nosso direito de viver no território? Até quando vamos continuar morrendo?

Nós, os povos indígenas, estamos implorando por ajuda aqui diante de vocês, que apenas nos ouvem, mas não fazem nada para resolver nossos problemas. Onde estão as soluções? Há países ricos e bancos entrando em nossos territórios e financiando nossas mortes, destruindo nossos direitos. Mineração, soja e outros projetos mortais não respeitam a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, a Convenção 169 da OIT ou nossos protocolos de consulta.

Até o Supremo Tribunal Federal é contra os povos indígenas quando desrespeita a Constituição e quer que a gente se sente à mesa para discutir o Marco Temporal, colocando invasores dentro das nossas terras.

Estou aqui para dizer que não negociaremos a vida dos nossos filhos. Não negociaremos nossos direitos!

Venho a este Fórum para solicitar uma pesquisa e uma recomendação sobre os impactos do mercúrio em nosso povo.

Obrigada!

Fonte: CIMI

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