Leigos Missionários da Consolata: entre o seguimento e os desafios atuais

Como teólogo e pesquisador, compartilho reflexões feitas ao longo de meus estudos, buscando contribuir para uma compreensão teológica e missionária sobre o papel dos leigos no processo de evangelização.

Por Adamo Fernando Valeque

Quero abordar os desafios enfrentados pelos Leigos Missionários da Consolata no contexto social contemporâneo, destacando sua relevância como verdadeiros sujeitos eclesiais, conforme sublinhado pelo documento da Comissão Teológica Internacional, que ressalta sua participação ativa na vida da Igreja e na tomada de decisões.

O Discipulado Missionário

O conceito de discipulado missionário, tão enfatizado na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida, caracteriza os Leigos Missionários da Consolata, alinhando-se ao carisma da missão ad gentes. Esse chamado é fundamentado na vida e nos ensinamentos de Jesus, que retrata o discípulo como alguém profundamente unido ao mestre. O Evangelho de João exemplifica isso no encontro em que os discípulos perguntam: "Rabi, onde moras?" Jesus responde: "Venham e verão" (Jo 1,38-39), convidando-os a partilhar de sua vida. Ser discípulo de Cristo não se limita à adesão intelectual, mas implica um compromisso de vida. É fazer de Jesus o centro e o ideal da existência, como afirmou São Paulo: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21). Desde o início de sua missão pública, Jesus chamou homens e mulheres para segui-lo e participar de sua vida, conformando-se a seus ensinamentos e assumindo as responsabilidades que isso exige (cf. Lc 9,23-24).

Características do Discipulado
No Evangelho de Lucas, Jesus apresenta as condições para o discipulado: disponibilidade, renúncia e persistência. Ele afirma: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Lc 9,23). Essas exigências refletem o engajamento missionário, essencial para anunciar o Reino de Deus. O envio dos 72 discípulos (cf. Mt 10) reforça a necessidade de uma missão urgente e contínua, onde ser discípulo e missionário são dimensões inseparáveis. Jesus, ao contrário dos mestres da Lei, era um mestre itinerante. Ele não formou discípulos sedentários, mas ensinou-os a estarem em estado permanente de missão. Como registrado em Marcos, Jesus disse: “Vamos a outros lugares, às aldeias vizinhas, para que eu também pregue lá. Foi para isso que eu vim” (Mc 1,38-39).

O Carisma dos Leigos Missionários da Consolata
Os Leigos Missionários da Consolata, ligados ao carisma do Instituto fundado por São José Allamano, vivem o chamado missionário de forma singular. Inspirados por Allamano, que enfatizava a itinerância e a configuração com Cristo, esses leigos não apenas deixam sua zona de conforto, mas também testemunham a Palavra onde quer que estejam, seja geográfica ou espiritualmente.

Esse espírito missionário foi bem compreendido pelos primeiros missionários da Consolata, que implementaram métodos de evangelização baseados na inserção nas comunidades. A Conferência de Muranga ilustra essa prática, destacando visitas às famílias, formação de catequistas, promoção da educação e da saúde. No XIII Capítulo Geral dos Missionários da Consolata (2017), houve um apelo para revitalizar esse espírito e qualificar ainda mais a missão.

Desafios Atuais
Na realidade urbana contemporânea, a disponibilidade é um dos maiores desafios para o engajamento missionário. O ritmo intenso da vida cotidiana – dividido entre trabalho, trânsito, responsabilidades familiares e pressões econômicas – muitas vezes deixa pouco espaço para a oração, meditação e contemplação. Rudy (2019) descreve essa rotina como uma “roda que gira sem parar”, marcada por alegrias e esperanças, mas também por cansaço e angústias. Para que os Leigos Missionários da Consolata possam renovar seu compromisso missionário, é fundamental atualizar os métodos de evangelização, tornando-os mais acessíveis e relevantes para os desafios atuais.

Conclusão
A missão dos Leigos Missionários da Consolata permanece enraizada no seguimento de Cristo e no compromisso com a evangelização ad gentes. No entanto, para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, é necessário reavivar o espírito missionário com criatividade e fidelidade ao carisma original. Assim como Jesus e São José Allamano, é essencial formar discípulos itinerantes, comprometidos com o anúncio do Evangelho e com a transformação do mundo à luz do Reino de Deus.

Adamo Fernando Valeque é Mestrando e pesquisador em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, São Paulo. E-mail: valequeadam@gmail.com

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