Enfermeira, psicóloga, apaixonada por Moçambique: esta é Simona Brambilla
Por Clara Raimundo
Sorridente e sensível, organizada e trabalhadora, humilde e discreta. Eis os adjetivos que se repetem quando o pedido é descrever Simona Brambilla, a primeira mulher a chefiar um dicastério na História da Igreja. Foi enfermeira antes de se tornar freira, e tornou-se psicóloga, já depois de ter ingressado nas Missionárias da Consolata, onde viria a assumir o cargo de superiora geral por dois mandatos. Mas quando lhe pedem a ela que fale de si própria, há uma experiência que invariavelmente destaca, porque a “transformou profundamente”: a dos anos passados em Moçambique, entre o povo Macua.
Nascida em 1965, em Monza (Itália), a nova Prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica fez a primeira profissão religiosa em 1991 e após a profissão perpétua, em 1999, rumou ao norte de Moçambique, onde integrou a equipe que traduziu a Bíblia para a língua local Macua-Xirima e produziu o Catecismo para as Crianças. Aí, a irmã Simona Brambilla trabalhou com o padre Giuseppe Frizzi, seu conterrâneo e também ele Missionário da Consolata. Foi “um tempo que constituiu uma experiência missionária apaixonante”, assinala o atual bispo de Tete, Diamantino Antunes, que então teve oportunidade de acompanhar esse trabalho.
O bispo moçambicano acrescenta que esse tempo foi “uma extraordinária oportunidade de transformação e crescimento na sua vocação como Missionária da Consolata e dentro dessa vocação o seu interesse pela investigação na frente etnográfica, etnológica, linguística e teológico missionária”. De tal modo que, depois de ter regressado a Itália, Brambilla lecionou no Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana – onde havia tirado a licenciatura em 1998 – e, em 2008, concluiu o doutoramento em Psicologia com uma tese baseada na sua experiência missionária em Moçambique. Como professora, insistiu sempre na importância de evangelizar respeitando as raízes culturais de cada povo e aprofundando as ligações com tradições locais.
“A sua competência, capacidade de análise, profundidade, dedicação e seriedade, a par da sua discrição, não terão passado despercebidas” ao Papa Francisco, sublinha Diamantino Antunes, recordando que, ainda em 2023, este também a escolheu para participar no Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, e que, em outubro do mesmo ano, a designou secretária do Dicastério que agora passou a dirigir. Na altura, Simona Brambilla foi a segunda mulher a ocupar esse cargo na Cúria Romana, após a nomeação em 2021 da irmã Alessandra Smerilli para o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.
Recorde-se que, alguns anos antes, em julho de 2019, a irmã Brambilla e outras seis mulheres foram os primeiros elementos femininos a integrar esse mesmo Dicastério. De lembrar ainda que, já no mês passado, a Missionária da Consolata foi nomeada pelo Papa como membro do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo.
Nessa altura, Brambilla afirmou: “Acredito profundamente no caminho sinodal. Vivemos e viveremos uma experiência do Espírito, que impulsiona a Igreja a caminhar juntos, na escuta mútua e na edificação recíproca, num movimento espiral que, com força e gentileza, nos leva à essência de quem somos como cristãos: irmãos e irmãs em Cristo, iluminados, desarmados e libertos das diversas armaduras e adornos que podemos usar”.
O fato de Francisco a ter escolhido para chefiar o dicastério que supervisiona os institutos religiosos em todo o mundo, considerado uma das suas decisões mais arrojadas, parece ser a prova disso mesmo.
“Esta nomeação enche-nos a todos de alegria e demonstra que neste mundo tão cheio de contradições e conflitos a esperança nunca desilude. As qualidades da Irmã Simona, a sua humildade, organização, autodomínio, seriedade, capacidade de trabalho e acima de tudo fidelidade e sensibilidade (…) que estarão agora mais ainda ao serviço da Igreja, ao serviço de todos, e esta perspectiva enche-nos de esperança”, conclui o bispo de Tete.
Fonte: Sete Margens