São Nicolau, o papai-noel

Nicolau ajudou um homem a casar as filhas, pois este não possuía dote, então, tornou-se conhecido por sua generosidade.

Por Edson Luiz Sampel

Todos gostamos da figura do papai-noel, porque essa pessoa anosa e afável alastra a generosidade, uma vez que dá presentes e gesta contentamento. Desta feita, na quadra natalina, surgem homens munificentes, travestidos do “bom velhinho” que assumem o mister de ofertar regalos, sobretudo brinquedos às crianças pobres. Mas, em tempos de tanta penúria, os adultos também ganham cestas básicas e outros itens imprescindíveis à subsistência.

São Nicolau, personagem do século II, foi bispo, isto é, sucessor dos apóstolos de Jesus. Conforme seu mais renomado biógrafo, São João Damasceno, Nicolau realizou muitíssimos milagres. Porém, sua fama e ulterior transformação em papai-noel deve-se a um fato histórico específico. Conta-se que um pobre homem não conseguia casar as três filhas, por falta de dote e, destarte, temia que as moças passassem a levar vida devassa. Sabendo do infortúnio, o então padre Nicolau, possuidor de imane riqueza, dirigiu-se, de noite, à residência do desfortunado pai e, à chucha calada, por uma fresta na janela, depositou ali uma bolsa com moedas de ouro. Fez isso por duas vezes, sem que ninguém o visse. Mas, na terceira vez, o dono do casebre, solerte, surpreendeu Nicolau e cobriu-o de afetuosos amplexos à guisa de agradecimento. O santo suplicou segredo, todavia, debalde, porque no dia seguinte, o vilarejo inteiro tomou conhecimento da beneficência de Nicolau. Daí para frente, conhecemos o desenrolar da história.

Deveras, o papai-noel hodierno ainda provê e socorre os menos aquinhoados. De certa forma, não se dissociou de seu protótipo da antiguidade, São Nicolau, que se pautava estritamente no discipulado de Jesus. O Divino Mestre identifica-se plenamente com os pobres, quando diz que a ele próprio acudimos, toda vez que dermos de comer a quem tem fome, abrigarmos um sem-teto, vestirmos quem não dispõe de vestuário, visitarmos um doente ou um preso, entre outros gestos de caridade. O rol de Mt 25, 31-46 não é numerus clausus, exaustivo!

Neste diapasão, se lograrmos penetrar a essência da missão do papai-noel, deparamo-nos de chofre com Jesus. Ouçamos o padre Antônio Vieira, SJ: “[Cristo] sacramentando-se em pão para nos sustentar a nós, se quis também sacramentar nos pobres, para que nós o sustentássemos a ele” (Sermão das Obras de Misericórdia, pregado em Lisboa, em 1647). Assim, o papai-noel coevo, se solícito com as agruras dos empobrecidos e inermes, comunica diretamente (não só indiretamente) o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Então, que sejamos todos papais e mamães noéis, nos nossos trajes comuns, é claro, cidadãos empenhados em emular São Nicolau, pondo em prática o amor aos pobres, preferidos de Jesus Cristo, o salvador dos homens que festejamos no Natal!

Edson Luiz Sampel é professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina. Presidente da Comissão Especial de Direito Canônico da 116ª Subseção da OAB-SP.

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