A preposição latina in denota o objeto indireto e implica adesão muito maior do crente.
Por Edson Luiz Sampel
Diz acertadamente o rifão: “todo tradutor é um traidor”! O latim pauta-se pela justeza. Mas, nem sempre é fácil vertê-lo em português ou em qualquer outro vernáculo. Além disso, na maioria das línguas modernas, as preposições costumam problematizar o texto. Não se encontram regras fixas para empregar essas palavrinhas.
Vejamos um exemplo. Considerável diferença há entre credo in Deum e credo Ecclesiam, ambas frases do Símbolo dos Apóstolos (o “creio” da missa). A preposição latina in denota o objeto indireto e implica adesão muito maior do crente, chamado a penetrar nas entranhas de Deus, a mergulhar no Criador. Já o credo Ecclesiam, com o acusativo, consigna a crença na Igreja Católica, mas sem maior ênfase retórica e semântica.
Posto isto, consideramos mais escorreito traduzir peregrinantes in spem por “peregrinos na esperança”; a propósito, escreveríamos com maior clareza: “peregrinos em a esperança” (como quando se fala, por exemplo, “isto está em o novo testamento). Em latim, não existe artigo. O nosso “na” importa a justaposição da preposição “em” com o artigo definido feminino “a”. Tanto podemos redigir “em a esperança” como “na esperança”.
Em suma, a locução “peregrinos na esperança” reflete com maior precisão a ideia da frase latina, porquanto não somos simplesmente peregrinos que vislumbramos uma esperança particular (da esperança), nem muito menos nos ancoramos numa esperança teórica (de esperança), mas “nadamos” na virtude teologal, metemo-nos nela por inteiro, confiantes. Por isso, somos peregrinos NA esperança. A esperança nos conduz, como consignou o saudoso cardeal Paulo Evaristo Arns em seu lema: ex spe in spem: de esperança em esperança.
