A Campanha da Fraternidade 2025 tem uma programação que será desenvolvida não apenas ao longo do ano, mas também em anos subsequentes, tendo como premissa que precisamos, como cristãos e católicos despertar nossa consciência ecológica.
Por Juacy da Silva
A Campanha da Fraternidade de 2025, como já bastante anunciada e divulgada terá como Tema: Fraternidade e Ecologia Integral e como Lema “Deus viu que tudo era muito bom”.
A elaboração do Texto Base seguiu o Método da Igreja: VER, JULGAR/ILUMINAR e AGIR, o mesmo método também utilizado pelo Papa Francisco quando da elaboração e publicação da Encíclica LAUDATO SI, que neste próximo ano (2025), em 24 de maio estará completando DEZ ANOS, lamentavelmente ainda bastante desconhecida, tanto pela hierarquia eclesiástica da Igreja Católica quanto das Igrejas Evangélicas, quanto dos cristãos em geral, os fiéis que seguem o Cristianismo e que deveriam ou devem ter um CUIDADO ESPECIAL com as Obras da Criação e um zelo também especial com a Casa Comum.
Assim, em sendo a Campanha da Fraternidade uma programação que será desenvolvida não apenas durante a Quaresma, mas ao longo de 2025 e anos subsequentes, tendo como premissa que precisamos, como cristãos e católicos despertar nossa consciência ecológica e participar desta verdadeira cruzada que deve ser realizada para ajudar a salvar o que ainda resta de nosso planeta, começando pela realidade mais próxima onde estamos inseridos/inseridas: nossa vizinhança, nosso bairro, nossa cidade, nosso estado, nossa região, nosso país e, em assim agindo, estaremos conectando nossos esforços com dezenas ou centenas de milhões de pessoas que ao redor do mundo tem os mesmos propósitos e também estão engajadas e engajados nesta cruzada socioambiental.
A defesa da ecologia integral, nas dimensões em que é explicitada na Encíclica Laudato Si, conforme o Movimento Laudato Si, de nível mundial tanto enfatiza, está embasada em TRÊS PILARES, que devem orientar nossa caminhada enquanto cidadãos, cidadãs, cristãos/cristãs e também agentes da Pastoral da Ecologia Integral: Espiritualidade Ecológica; Ações Sociotransformadoras e MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA.
O Texto Base tem uma abordagem geral, cabe a nós, Leigos, Leigas, inseridas/inseridas nesta caminhada, bem como sacerdotes, religiosos e religiosas, um esforço e uma reflexão no sentido de adaptarmos o nível de análise e de ação para os distintos territórios nos quais estamos inseridos ou em que a Pastoral da Ecologia Integral esteja organizada, vale dizer, Arquidioceses, Dioceses, Paróquias e Comunidades Eclesiais.
Entretanto, cabe também destacar que o cuidado com a Ecologia Integral não deve ser apenas realizado pela citada Pastoral (da Ecologia Integral), mas por todas as demais pastorais, pois os desafios socioambientais atingem todas as faixas etárias e também todas as pessoas, grupos, instituições e organizações. A pastoral da Ecologia Integral não é “mais uma pastoral”, mas uma pastoral de conjunto, uma pastoral de integração, a quem cabe conduzir, orientar e implementar tais cuidados em relação à nossa casa comum.
Isto significa que devemos aplicar o Método: VER, JULGAR E AGIR, no âmbito de nossa realidade, ou seja, quais os problemas e desafios socioambientais que estão presentes no território considerado? Após esta etapa do VER; precisamos Iluminar/julgar/apreciar esses desafios e selecionar quais os mais urgentes, os mais pertinentes ou mais viáveis para sua superação; quais as organizações que já estão atuando no âmbito daquele território e estabelecer uma hierarquia de prioridades e possibilidades, elementos esses que deverão ajudar a definir o AGIR, ou seja, se existem inúmeros problemas, alguns mais simples de se resolver e outros mais complexos que demandam mais tempo, mais parcerias, mais recursos etc., então a definição das prioridades facilita a elaboração dos projetos que são as nossas ações ao longo de um determinado horizonte temporal.
Em diversos locais do Brasil as Pastorais da Ecologia Integral já vem realizando inúmeras ações, com impactos significativos na vida das pessoas e no ambiente, tais como hortas domésticas, escolares, comunitárias, reciclagem de resíduos sólidos/lixo, de óleo de cozinha; feiras agroecológicas, educação ecológica/ambiental; limpeza e recuperação de espaços degradados, de nascentes, de córregos, corredores ecológicos, estímulo às organizações de economia solidária, campanhas contra o desperdício, contra o consumismo, combate ao uso de plásticos e enfim, um grande número de iniciativas.
Cabe também uma reflexão sobre a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, que, da mesma forma que os profetas no Velho Testamento, denunciavam as injustiças, a opressão, os privilégios, a violência contra os pobres/excluídos e, ao mesmo tempo, anunciavam as boas novas da redenção e da superação dos pecados que denunciavam.
Assim também, em relação à ECOLOGIA INTEGRAL e o que devemos fazer para enfrentar os desafios e problemas socioambientais, que para a Igreja são PECADOS ECOLÓGICOS e para a sociedade são CRIMES AMBIENTAIS, também cabe a PEI – Pastoral da Ecologia Integral esta missão de promover MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA contra os PECADOS ECOLÓGICOS/CRIMES AMBIENTAIS que existem e estão bem presentes nos territórios em que atuamos, já que a solução real, cabal e concreta desses problemas/desafios cabe muito mais às autoridades constituídas através de políticas ambientais do que, propriamente uma ação particular ou mesmo comunitária. E neste sentido a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA pode exercer pressão para que as instituições públicas e os governantes atuem de uma forma efetiva.
Afinal, a nossa Constituição diz claramente no Artigo 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
O parágrafo primeiro e seus vários itens, bem como os demais 5 parágrafos estabelece uma série de mandamentos constitucionais para que o meio ambiente/ecologia integral sejam respeitados e aprimorados.
Como exemplo, visando despertar a consciência das pessoas, principalmente das crianças, adolescentes e jovens, existe a determinação constitucional relacionada com a Educação ambiental, tão importante neste processo, mas amplamente ignorada e descumprida.
O item VI do parágrafo primeiro estabelece claramente: promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
Exemplo, se nossos rios estão sendo poluídos por rejeitos urbanos, por mercúrio oriundo de garimpos ou mineração, ou por agrotóxicos, ou por desmatamento de suas margens, ou pela construção de barragens, a resolução para um problema deste tipo é de responsabilidade maior dos organismos federais, estaduais e municipais, seja pelo exercício do poder de polícia, seja por ações de recuperação ou um amplo programa de educação ecológica libertadora.
Aí é que surge a importância da Pastoral da Ecologia Integral como um mecanismo para agregar pessoas e promover ações sociotransformadoras ou de MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, tanto no âmbito da Igreja, quanto estabelecendo parcerias com organismos públicos e tambem organizações não governamentais, unindo esforços e recursos, evitando paralelismo, duplicidade ou descontinuidade de ações.
O Método utilizado pela Igreja e enfatizado no Texto Base da Campanha da Fraternidade na etapa do AGIR apresenta várias sugestões, todavia para que as mesmas sejam ou se constituam em um farol para as ações futuras e permanentes da Igreja em seu âmbito específico: Arquidiocesano, Diocesano, Paroquial ou das Comunidades Eclesiásticas, não podem ser ações individualistas, personalistas, isoladas e sem continuidade ou seja, voluntaristas, pois se assim acontecer as mudanças em dimensão social, econômica, política ou cultural serão extremamente insignificantes e o resultado será a manutenção do “status quo”, ou seja, da situação como ela se apresenta.
O Papa Francisco nos exorta na Encíclica Laudato Si de que a CONVERSÃO ECOLÓGICA, que é uma conversão integral, total, capaz de mudar nossos hábitos consumistas, de desperdício é importante, mas que as transformações estruturais só acontecem pela união de esforços, pela sinergia das ações, razões pelas quais ele aponta como o caminho a seguir a CONVERSÃO ECOLÓGICA COMUNITÁRIA.
Precisamos enfatizar em nossas formações em relação a CF2025, a importância desta conversão ecológica comunitária, nos âmbitos em que estamos atuando, e desde que ocorra este processo, ou seja, em que diversas pessoas sejam “tocadas”, sensibilizadas pelas mensagens contidas no Texto Base e nas Encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti e nas Exortações Apostólicas Querida Amazônia e Laudate Deum, com certeza estaremos em condições de agregar essas pessoas e organizarmos, estruturarmos a PEI nas localidades onde não existem ou fortalecer as citadas Pastorais onde elas já existem, mas que precisam aprofundar o compromisso em termos de um melhor cuidado com a Casa Comum.
Aqui cabe uma reflexão. No Brasil existem 45 Arquidioceses, Sete Prelazias, 219 Dioceses, mais de 12 mil paróquias e mais de 120 mil comunidades eclesiais, em torno das quais estão pelo menos 120 milhões de fiéis batizados. Convenhamos é uma força considerável em se tratando de realizar ações e mobilização profética voltadas para defender a ecologia integral e um melhor cuidado com a Casa Comum.
Todavia, apesar da Encíclica Laudato Si estar prestes a completar dez anos, a presença das Pastorais da Ecologia Integral, a quem caberia de uma forma especial e mais efetiva estimular, orientar e impulsionar as diversas ações para enfrentar a crise climática, o consumismo, o desperdício, a geração de resíduos sólidos, o aquecimento global, a produção de gases de efeito estufa, a destruição da biodiversidade, as mudanças dos modelos de economia baseados no que o Papa Francisco denomina de Economia da Morte por outra Economia da Vida, que é a Economia de Francisco e Clara, repito, as Pastorais da Ecologia Integral não estão presentes sequer em 3% das Paróquias da Igreja Católica.
Neste sentido, parece que Francisco continua pregando no deserto, pois nem sequer sua própria Igreja, da qual ele é o Sumo Pontífice, o líder mundial lhe dá ouvidos e, pior do que isso, alguns setores conservadores ainda discordam frontalmente de seu magistério imaginando que não seja função da Igreja preocupar-se com a ecologia integral, da mesma forma que também imaginam que não seja função da Igreja colocar-se ao lado dos pobres, excluídos e defender os Direitos humanos e a Justiça Social, a Justiça Climática, a Justiça Racial e a Justiça Intergeracional.
Diante desta realidade, creio que a Campanha da Fraternidade de 2025 poderá ajudar a romper esses obstáculos, fatores adversos, com o desinteresse, a omissão e até as resistência que existem quando se fala em Ecologia Integral, em meio ambiente e temas correlatos, possibilitando o surgimento de pessoas, fiéis (Leigos e Leigas) que se disponham a juntar-se nesta caminhada e decidindo pela estruturação das Pastorais da Ecologia Integral por este Brasil afora.
Em Mato Grosso, por exemplo, no âmbito da Regional Oeste 2, temos a Arquidiocese de Cuiabá e as Dioceses de Cáceres, Juina, Sinop, Barra do Garças, Primavera do Leste/Paranatinga e Rondonópolis/Guiratinga; além da Prelazia de São Felix do Araguaia, que é vinculada ao Regional da CNBB, em Goiás.
Neste amplo território, já que Mato Grosso é o terceiro estado com maior dimensão territorial, ficando atrás apenas dos estados do Amazonas e do Pará; onde três dos seis biomas brasileiros estão presentes: o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia Matogrossense, só existe uma Pastoral da Ecologia Integral organizada e iniciando sua caminhada há pouco mais de dois anos que é a Pastoral da Ecologia Integral da Arquidiocese de Cuiabá, mesmo assim, das 33 Paróquias pertencentes à Arquidiocese poucas tem seus Núcleos Ecológicos Paroquiais. Isto requer um trabalho bastante moroso e difícil, romper com tantos obstáculos, incluindo ainda um certo clericalismo que também dificulta este trabalho em prol da ecologia integral.
Cabe ressaltar que esses três biomas são os que mais sofrem com um processo intenso de degradação, com desmatamento, queimadas, grilagem de terras públicas, conflitos fundiários, principalmente em relação às terras indígenas, uso abusivo de agrotóxicos, poluição dos solos, das águas e do ar; descarte inadequado de resíduos sólidos/lixo, inexistência de esgotamento sanitário, destruição de nascentes e degradação dos diversos cursos d’água (rios, córregos etc.), falta de arborização urbana, uso e ocupação do solo urbano de forma irregular, inexistência de infraestrutura urbana, principalmente nos bairros periféricos, onde moram os pobres e excluídos, enfim, uma quantidade enorme de problemas e desafios socioambientais.
Oxalá, esta Campanha da Fraternidade de 2025 seja uma luz a iluminar a consciência de muitas pessoas e um instrumento para despertar a consciência ecológica/ambiental não apenas entre fiéis católicos, mas em todas as demais igrejas (Evangélicas) e outras religiões, principalmente se considerarmos que a degradação e destruição dos biomas e ecossistemas atingem todas as pessoas, independente da religião, cor da pele, nível socioeconômico, mas, de forma mais direta as maiores vítimas deste processo irracional são os pobres e excluídos, razão mais do que suficiente para que a Igreja Católica promova esta Campanha e estimule a organização das Pastorais da Ecologia Integral, tendo em vista que a Igreja Católica, desde o Concílio Vaticano II, concluído em 1965, fez e continua fazendo a “OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES”.
O Papa Francisco, neste sentido, não se cansa de dizer que “o grito da terra é também o grito dos pobres”, secundado por inúmeros estudos e pesquisas que comprovam tal assertiva em todos os países do mundo e no Brasil não é e nem tem sido diferente.
Se esta opção é verdadeira e não apenas de palavras, com certeza a Igreja não poderá se omitir diante dos desafios da ecologia Integral, no Brasil inteiro e deverá estar ao lado também das pessoas, dos ECOLOGISTAS que defendem as obras da criação e tem sido vítimas de violência, sofrimento e morte.
A defesa da ecologia Integral deve ser feita pela Igreja Católica não de forma isolada, mas tanto na perspectiva do ECUMENISMO quanto do DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO.
O próximo ano, 2025 é também o ANO DO JUBILEU, cujo tema é “Peregrinos da Esperança”, quando comemoramos os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, o Padroeiro da ECOLOGIA INTEGRAL, além das comemorações dos Dez Anos de publicação da Laudato Si, Dez Anos do Acordo de Paris, Dez anos do estabelecimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável pela ONU e a realização da COP30 – Conferência do Clima da ONU, em Belém, estado do Pará.
Como vemos, muitos desafios, muitas coisas deverão estar acontecendo neste 2025 e a Igreja não pode estar ausente, não pode se omitir (considerando que OMISSÃO É UM PECADO) diante de tantos momentos significativos da luta pela ECOLOGIA INTEGRAL, a partir de cada realidade concreta, a começar pelas nossas Arquidioceses, Dioceses, Prelazias, nossas paróquias e pelas nossas Comunidades Eclesiais, segundo o lema, às vezes tão esquecido, “pensar globalmente e agir localmente”, no contexto de que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”, como enfatizado pelo Papa Francisco na Laudato Si.