Parece que nem nossos governantes, muito menos nossos empresários, nossas lideranças em todos os setores e a população em geral, têm percebido que ao destruirmos nossas florestas, nossas águas, degradarmos o meio ambiente.
Por Juacy da Silva
Para muitos um alívio, uma esperança, a chegada do tempo de semear os grãos, que se transformarão em “commodities” altamente lucrativas; para outros o medo, o desespero, o sufoco de que as chuvas possam provocar alagamentos de córregos e rios, que na verdade estão mortos e foram transformados em grandes esgotos a céu aberto, deslizamentos de encostas de morros, sofrimento, perdas materiais e mortes, como acontece todos os anos no Brasil, cuja culminância foi o “desastre” anunciado que destruiu boa parte do estado do Rio Grande do Sul no início deste ano.
Em relação àquele desastre que afetou o Rio Grande do Sul, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) estimou que as enchentes causaram prejuízos de 4,6 bilhões de reais, principalmente no setor habitacional, enquanto a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) classificou a catástrofe como o maior sinistro do setor de seguros provocado por um único evento na história, com mais de 1,6 bilhão de reais em pedidos feitos por segurados apenas até 27 de maio deste ano de 2024.
O impacto econômico, financeiro e humano do que aconteceu no Rio Grande do Sul apenas neste ano foi muito maior, se considerarmos os custos indiretos na economia tanto daquele estado quanto na economia brasileira.
De forma semelhante, também os prejuízos, custos diretos e indiretos, dos desastres naturais que praticamente todos os anos ocorrem no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Litoral do Estado de São Paulo, além de tantos outros que afetam diversos estados brasileiros, esses impactos estão sendo cada vez mais severos e catastróficos.
Entre meados de Maio até final de Setembro de 2024, repetindo o que tem acontecido com maior frequência nos últimos cinco ou dez anos, a população que vive principalmente na Amazônia, no Centro Oeste e no Pantanal, vinha sofrendo com altas temperaturas, às vezes ou por semanas seguidas, os termômetros chegando a 48 ou até 50 graus, como em Cuiabá, mais conhecida como “cuiabrasa”, baixos índices de umidade “relativa” do ar, piores do que em regiões de deserto, entre 10% e 20%, quando a própria Organização Mundial da Saúde estabelece que umidade abaixo de 60% é prejudicial `a saúde, tanto humana quanto dos demais animas.
Do elenco de problemas causados pelo descuido com o meio ambiente ou até mesmo os crimes ambientais, quase sempre impunes, não apenas as regiões mencionadas (Amazônia, Centro Oeste e Pantanal), mas todas as demais regiões, biomas e ecossistemas brasileiros, inclusive a região Leste, coração do capitalismo em nosso país, como o Estado de São Paulo, conviveram por meses seguidos, com o avanço do desmatamento, a destruição da biodiversidade, as queimadas, a fumaça, enfim, com um elevado índice de poluição do ar, altamente prejudicial à saúde humana, principalmente crianças e pessoas idosas.
Parece que nem nossos governantes, muito menos nossos empresários, nossas lideranças em todos os setores e a população em geral, têm percebido que ao destruirmos nossas florestas, nossas águas, degradarmos o meio ambiente, inclusive com o uso abusivo de agrotóxicos, destruindo a biodiversidade e as nascentes, estamos provocando mudanças profundas no clima, no regime de chuvas, nas temperaturas, na fertilidade do solo e tantos outros problemas.
Os chamados “rios voadores” que levavam ou ainda levam (se bem que praticamente bem menos) a umidade da floresta amazônica e do cerrado, para as demais regiões do país, principalmente para o Sudeste, deixaram de levar umidade e passaram a levar fumaça e poluição do ar tanto para o restante do Brasil e também para outros continentes como a África e outros países da América do Sul.
A seca terrível que afetou inúmeros e caudalosos rios da Amazônia, como o Madeira, o Solimões e diversos do Centro Oeste, principalmente os que alimentam outras bacias como a do São Francisco, do Paraná/Paraguai, está afetando e colocando em risco a própria existência do Pantanal, que a cada ano se apresenta com menor volume de água, estando condenado ao desaparecimento como a maior área alagável do planeta e patrimônio brasileiro e mundial, neste caso, decretado pela UNESCO.
Mas parece que todas essas desgraças vão ser esquecidas durante os próximos meses, pois, até que enfim, as chuvas estão chegando em Mato Grosso e demais estados do Centro Oeste e da Amazônia, áreas mais castigadas pelo desmatamento, pelas queimadas, pela fumaça e pela baixa qualidade do ar durante vários meses, todavia, é importante que saibamos que isto é apenas “um refresco” temporário, se a ganância e o descaso com o meio ambiente não pararem, não forem interrompidos, se a busca insensata por lucros imediatos, fruto da exploração predatória de todos os “recursos naturais”, a qualquer preço e a falta de visão de longo prazo continuarem sendo os paradigmas de um falso desenvolvimento, estaremos condenados a ver este mesmo filme todos os anos.
Se as relações de produção, de trabalho, de consumo, enfim, nosso estilo de vida enquanto sociedade e país não forem alteradas profundamente, continuaremos destruindo os dois maiores biomas do Brasil (a Amazônia e o Cerrado) e também destruindo totalmente o Pantanal.
É um fato já comprovado por milhares de estudos científicos que sem florestas, sem vegetação em geral e também nas cidades o nosso clima, principalmente na região Centro Oeste será, como já esta sendo, alterado profundamente, afetando o regime de chuvas , provocando altas temperaturas, inviabilizando a produção agropecuária, aumentando a degradação dos solos (atualmente o Brasil tem mais de 100 milhões de ha de áreas outrora agricultável, total ou parcialmente degradadas), enfim, tornando a nossa vida um sufoco permanente.
Essas mudanças climáticas, na verdade uma CRISE CLIMÁTICA, afetam diretamente o nível dos rios e dos reservatórios, tanto os destinados para a produção de energia/eletricidade quanto de água para o consumo humano,, enfim, impactando profundamente todos os tipos de vida, inclusive a vida humana.
Então, nada de tanta euforia com essas chuvas que estão chegando! Isto é apenas um refresco temporário. A luta por mudanças dos atuais paradigmas de uma ECONOMIA DE MORTE, precisam ser substituídos por novos paradigmas de uma ECONOMIA DE VIDA, com urgência, antes de atingirmos o chamado “ponto do não retorno”, quando tudo estará sem vida.
Estamos em um momento propício para agirmos de uma forma mais racional, mais efetiva em relação aos desafios, problemas socioambientais que estão nos afetando de uma forma terrível com mais frequência e com maior potencial de provocar danos materiais, sofrimento e morte, tanto de pessoas quanto de animais e também a destruição da biodiversidade.
Este momento é representado pelo início de “novas” ou antigas gestões municipais, quando prefeitos e vereadores tomarão posse em 01 de Janeiro de 2025. Mesmo que a grande maioria dos candidatos não tenha indicado que a questão socioambiental seja prioridade em suas propostas após serem eleitos, creio que cabe à população, as lideranças e organizações não governamentais e também o empresariado pressionarmos para que na definição das políticas públicas municipais, as questões ambientais estejam presentes, de fato, como uma prioridade.
De forma semelhante, cabe também aos governos estaduais e ao governo federal contribuírem para uma maior articulação no que concerne às ações públicas e privadas voltadas tanto para a prevenção quanto mitigação e resolução de problemas ambientais estruturais que nos afetam há décadas.