Direita, volver!

O que a população espera e deseja na verdade é que futuros prefeitos, prefeitas, vereadoras e vereadores definam políticas públicas, programas, projetos e ações que ajudem a equacionar os grandes desafios que angustiam os moradores, contribuintes e eleitores em cada município.

Por Juacy da Silva

Prefeitos/as e vereadores/as, eleitos/as em 2024, principalmente nos municípios com mais de 100 mil ou 200 mil eleitores serão importantes tanto como candidatos quanto cabos eleitorais nas eleições gerais de 2026, quando estarão sendo eleitos deputados estaduais, federais, duas vagas para o Senado em cada estado, governadores estaduais e também, a “joia da coroa” que é a Presidência da República.

Muita gente reclama que o atual Congresso Nacional (Senadores e Deputados Federais) tem um perfil muito conservador e que os partidos de centro, de direita e de extrema direita estão dominando o cenário político brasileiro; mas, com certeza o avanço deste conservadorismo que está sendo “desenhado” a partir dessas eleições municipais, indica que as eleições gerais de 2026 serão muito mais polarizadas do que foram as de 2022.

Nada garante que a “estratégia” de Lula, do PT e dos demais partidos de esquerda ao fazerem uma composição com os partidos do Centrão (centro e direita “tradicional”), dando um perfil bem conservador a este seu terceiro mandato, irá evitar o avanço da extrema direita (bolsonarismo), tendo em vista que em vários estados esses partidos do Centrão, como em Mato Grosso, são “localmente” bolsonaristas. Esta é uma constatação quando observamos o que foram e estão sendo ainda as disputas em inúmeros municípios, em todos os estados.

Este será um grande desafio para o Governo Lula e os partidos de esquerda, tendo em vista que com este avanço dos partidos de centro e de direita que integram o Governo federal, haverá muita pressão para que Lula caminhe mais para o centro e para a direita do que seu governo tem feito até agora.

Vamos ter que observar bem atentamente para ver “quem engana quem” ou “quem é mais esperto neste xadrez político”.

Apesar de que a grande maioria dos analistas políticos e também boa parte dos candidatos afirmarem que as eleições municipais de 2024 terem como foco principal as questões locais e que a polarizam esquerda x direita ou ainda extrema direita (bolsonarismo) x esquerda (principalmente PT e Lula), os resultados surgidos das urnas neste primeiro turno indicam que tanto a extrema direita quanto a direitona tradicional, boa parte da mesma que integra o governo Lula (MDB, PP, Republicanos, PSD, União Brasil).

Onze das 27 capitais elegeram seus prefeitos no primeiro turno ocorrido no último domingo. Os partidos de esquerda que integram o Governo Lula não conseguiram eleger nenhum desses onze prefeitos. No entanto, se considerarmos que este terceiro governo de Lula é uma “frente muito ampla”, indo da esquerda tradicional até alguns partidos de centro e da direita, podemos considerar que o Governo Lula saiu vencedor deste embate.

Vejamos: o PSD de Kassab que faz parte tanto da base do Governo Lula quanto ele próprio, o Presidente deste partido, é integrante como Secretário do Governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas em São Paulo, “abiscoitou” as prefeituras do Rio de Janeiro (onde o atual prefeito contou com o apoio de Lula e do PT, conseguindo derrotar o candidato de Bolsonaro), em São Luís e em Florianópolis, que, diferente do Rio de Janeiro o PSD contou com o apoio declarado do governador do Estado, um bolsonarista raiz.

O União Brasil, que também faz parte do Governo Lula, elegeu os prefeitos de Teresina e de Salvador; cabendo ao MDB capitais com menor densidade eleitoral Boa Vista e Macapá, o Republicanos elegeu o prefeito de Vitória e, finalmente, o PL (partido que representa a extrema direita bolsonarista) elegeu os prefeitos de Maceió e Rio Branco.

Cabe ressaltar que o PSD foi o partido que mais prefeituras conquistou neste primeiro turno, sendo que a grande maioria cidades/municípios com menos de 200 mil eleitores e onde não haverá segundo turno. De 664 prefeitos eleitos em 2020 o PSD governará (dados relativos ao primeiro turno, podendo aumentar no segundo turno) 888 municípios a partir de 01 de janeiro de 2025.

O PT também aos poucos vai se recuperando em termos de prefeituras sob sua gestão. Depois do auge de 651 prefeituras em 2012, o “inferno astral” do Partido de Lula passou para 257 prefeitos eleitos em 2016 e apenas 182 em 2020; chegando em 2024 (resultado deste primeiro turno) a 251, o que demonstra ainda uma certa fragilidade do partido e um grande desafio para seus principais estrategistas quanto ao futuro.

Para “compensar” esta fragilidade, a estratégia adotada nessas eleições foi apoiar candidatos de outros partidos de esquerda ou mesmo de centro e direita, que fazem parte da base do atual governo federal, para tentar manter a “Governabilidade” no Congresso, o que nem sempre tem sido fácil, apesar de tantos pleitos partidários vindo desses partidos do centrão e direita serem atendidos pelo governo Lula, que cada vez mais “entrega os anéis, para não perder os dedos” e vai aos poucos perdendo sua característica e identidade ideológica de esquerda.

O segundo turno dessas eleições municipais terão confrontos ideológicos mais acirrados, apesar de que muitos dos questionamentos, principalmente oriundo dos partidos de direita e da extrema direita, não serem de competência das municipalidades, mas que serão “jogadas” para o “colo” do governo Federal.

Das 15 capitais em que ainda vão decidir quem será o futuro prefeito, o PL (partido de Bolsonaro) irá disputar em nove delas: Fortaleza onde vai enfrentar o PR; em Goiânia onde vai enfrentar o União Brasil; em Manaus contra o Avante; em Cuiabá onde enfrentará o PT (federação Brasil Esperança), mais rede/PSOL e também o PSD (de Kassab e do ministro de agricultura do governo Lula); em Belo Horizonte onde enfrentará o PSD (também do Presidente do Senado); em Belém contra o MDB; em João Pessoa onde o ex ministro da saúde de Bolsonaro, Marcelo Quiroga vai enfrentar o PP (de direita, mas que faz parte do Governo Lula); em Aracaju contra o PDT e em Palma contra o Podemos.

Dessas nove capitais os candidatos do PL chegaram na frente no primeiro turno em seis delas; sendo que o PT chegou ao segundo turno em apenas 4 capitais e, mesmo assim, apenas em segundo lugar.

O MDB chegou ao segundo turno em primeiro lugar em três capitais; o União Brasil em quatro; o Podemos em duas, e o PP e PDT em uma cada partido.

Interessante e ao mesmo tempo complicado para o Governo pois com certeza Lula terá que realizar em breve uma reforma ministerial e em cargos do segundo ou terceiro escalão para atender o “apetite” desses partidos que sairão mais fortalecidos dessas eleições. E pensar que o chamado “toma lá, dá cá” seria coisas do passado.

Um exemplo deste “xadrez político” ocorre tanto em São Paulo, capital quando nos 39 municípios da chamada “Grande São Paulo”, onde se concentram mais de 20 milhões de eleitores e que ao longo dos governos Lula e Dilma, ou mesmo antes do PT chegar com Lula a Presidência conseguia eleger prefeitos/prefeitas nessa região, incluindo cidades do ABC, Osasco e inclusive a Capital de São Paulo, por três vezes governada pelo PT, com Luiza Erundina, Marta Suplicy e Haddad.

No entanto, nessas eleições municipais o PT talvez não consiga vencer sequer em uma única cidade dessa região, o mesmo acontecendo em diversos outros municípios maiores, principalmente nos Estados das regiões Sul e Sudeste.

Como tem sido enfatizado por diversos analistas e institutos de pesquisas de opinião, os resultados das eleições municipais deste ano nos 103 municípios com mais de 200 mil eleitores tem um peso significativo nos resultados das eleições gerais de 2026, pois nesses municípios estão concentrados 60,5 milhões de eleitores ou 38,8% do eleitorado total do Brasil neste ano.

Talvez para as eleições de 2026 esta relação dos 103 maiores colégios eleitorais poderá ter um acréscimo de mais 5 ou 10 municípios tanto o total quando o percentual dos eleitores nessas localidades seja bem maior.

Desses 103 maiores colégios eleitorais 51 elegeram seus prefeitos em primeiro turno e 52 terão uma disputa bem acirrada no segundo turno, em 27 deste mês de outubro.

Dos 51 prefeitos eleitos o PL venceu em 10; o União Brasil em 8; o PP em 7; o PSD em 6; o MDB em 5; o Republicanos em 4, o Podemos em 3 e o PSB, o PT, o PSDB em 2 cada e o Avante e o Novo em um cada.

Dos 52 municípios que terão segundo turno, serão na verdade 104 candidatos, sendo que o PL tem 22; o PT 14 ( os partidos de Esquerda em conjunto terão 21 candidatos); o União Brasil 11; o MDB e o PSD 7 cada; o Podemos e o PP 6 cada; o PSDB 5; o PDT 3; e o PSB e PSOL 2 cada; o AVANTE, o Cidadania, o PMB e o Solidariedade um cada.

Se analisarmos também o desempenho dos candidatos a vereador/vereadora tanto nesses 103 maiores colégios eleitorais, quando nas cidades com mais de cem mil eleitores e menos de 200 e, finalmente, nos demais municípios brasileiros, com certeza este mesmo panorama de “avanço” dos partidos de centro, de direita e da extrema direita estará sendo desenhado em nosso país.

Diante deste cenário e panorama, podemos aguardar dois anos de intensas articulações políticas e eleitorais, bem como um acirramento nos debates sobre todos os temas, assuntos e problemas que afetam a vida do povo brasileiro.

O que a população espera e deseja na verdade é que futuros prefeitos, prefeitas, vereadoras e vereadores definam políticas públicas, programas, projetos e ações que ajudem a equacionar os grandes desafios e problemas que tanto angustiam os moradores, contribuintes e eleitores em cada município.

Da mesma forma, que os futuros gestores municipais contribuam para uma melhor articulação entre as ações, programas e políticas públicas entre os três níveis de governo: federal, estaduais e municipais, sem o que estaremos sendo sempre manipulados durante o período eleitoral com promessas que jamais serão cumpridas.

Defender a democracia não se faz apenas pelo ato de votar, mas sim, acompanhar e fiscalizar as ações e omissões dos futuros prefeitos, prefeitas, vereadoras e vereadores, exigir que os mesmos cumpram com suas promessas e “planos” de governo que apresentaram durante o período eleitoral.

Afinal, o dinheiro que custeiam seus mandatos, suas regalias e as políticas públicas tem sua origem nos impostos, taxas e “contribuições” que recaem no bolso, nos ombros e lombos dos contribuintes.

Realizar uma boa, ótima gestão não é favor que os gestores municipais fazem em favor do povo, mas uma obrigação pelo bem comum!

Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral. Email profjuacy@yahoo.com.br Instagram@profjuacy Whats app 65 9 9272 0052

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