Cardeal Marengo defende a preservação da singularidade do primeiro anúncio do Evangelho na missão da Igreja

É vital reconhecer a especificidade do primeiro anúncio do Evangelho, que não deve se diluir em discursos genéricos sobre a missão", afirma o cardeal Giorgio Marengo.

Por Redação

O cardeal Giorgio Marengo, Prefeito Apostólico de Ulan Bator e missionário da Consolata, destacou a importância de preservar a especificidade do primeiro anúncio do Evangelho em meio aos desafios atuais da missão da Igreja. Em uma entrevista, Marengo alertou que essa particularidade não deve se perder em discursos genéricos sobre a missão, especialmente no contexto de um mundo globalizado.

"Em nosso tempo, é fundamental reconhecer que existe uma especificidade no primeiro anúncio do Evangelho, proclamado àqueles que ainda não o conhecem. Essa singularidade não pode ser diluída em discursos amplos demais sobre a missão", afirmou o cardeal.

A entrevista ocorre no início de outubro, mês dedicado pela Igreja ao Rosário e à missão, em um contexto onde o "Outubro Missionário" se entrelaça com os trabalhos do Sínodo dos Bispos em Roma, do qual Marengo também participa. O Sínodo reflete sobre o horizonte missionário da Igreja, alinhado ao tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Missão "ad gentes" e o papel dos batizados

Marengo ressaltou o redescobrimento do chamado de todos os batizados para serem missionários, mas expressou preocupação com a perda de visibilidade da vocação missionária "ad gentes" — a missão dirigida aos povos que ainda não conhecem o Evangelho. Segundo ele, a globalização e a redução das distâncias geográficas parecem ter ofuscado o valor dessa dimensão da missão, que envolve sair de seu próprio contexto e inserir-se em realidades humanas diferentes.

O cardeal destacou que, apesar da diminuição no número de membros de institutos missionários nas últimas décadas, a necessidade do anúncio do Evangelho permanece viva. "Talvez não precisemos de grandes números como antes, mas a urgência do Evangelho que deu origem a esses Institutos continua a ser vital", explicou.

Especificidade da missão no "Sul global"

Marengo também comentou sobre a relevância da "missio ad gentes" nos antigos "territórios de missão", hoje muitas vezes referidos como o "Sul global". Ele alertou para o uso de definições sociopolíticas como "norte" e "sul" e afirmou que, ao invés disso, a Igreja deve se concentrar em critérios eclesiais. O cardeal explicou que a missão deve estar atenta à exposição concreta ao anúncio do Evangelho, verificando se em diferentes contextos sociais o Evangelho é efetivamente proclamado.

A missão na Mongólia e o exemplo apostólico

Como Prefeito Apostólico em Ulan Bator, Marengo testemunhou o primeiro contato de muitos mongóis com o Evangelho. Ele comparou a experiência missionária da Mongólia à dos primeiros Apóstolos, que testemunharam Jesus em meio à minoria social e cultural de seu tempo. "Nossa pequena Igreja na Mongólia, com sua experiência de marginalidade e novidade, pode oferecer inspiração para sociedades pós-cristãs onde o cristianismo quase desapareceu do horizonte comum", observou.

O cardeal também enfatizou a importância da paciência no trabalho missionário, que envolve aprender novas línguas, imergir-se em culturas locais e estabelecer relações de confiança com as comunidades. Ele destacou que a missão da Igreja não pode ser apressada pelas dinâmicas rápidas do mundo atual, e que o Evangelho não deve ser comunicado como uma simples ideia ou produto de marketing.

"É sempre o Espírito Santo que torna possível o encontro com Cristo, e não nossas metodologias ou estratégias. A missão exige discrição e proximidade, como o padre lazarista Joseph Gabet observou em 1840 ao falar sobre os primeiros contatos com os mongóis", concluiu o cardeal.

Marengo finalizou comentando sobre a necessidade de uma renovação teológica da missão e sugeriu que universidades católicas, como a Pontifícia Universidade Urbaniana, poderiam desempenhar um papel crucial ao promover uma reflexão acadêmica profunda sobre a urgência do anúncio do Evangelho.

Com informações da Agência Fides.

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