Somente a Bíblia é inspirada por Deus? E o Alcorão? Santo Agostinho responde

A Bíblia, por si só, não logra comprovar sua peculiar origem divina. Os muçulmanos também consideram o Alcorão inspirado, uma vez que Maomé teria recebido as suras (capítulos do alcorão) ditadas pelo anjo Gabriel.

Por Edson Luiz Sampel

Pergunto ao amado irmão separado, ou seja, ao protestante, tão cioso e devoto das Sagradas Escrituras: como se pode afirmar que a Bíblia é diretamente inspirada, fruto da Revelação de Deus na história? E por que, a título de exemplo, o Alcorão não gozaria da mesma credibilidade? Em outras palavras, é possível encontrar na própria Bíblia a prova de sua origem divina? Afinal de contas, todos os cristãos são concordes em asseverar que “Deus escolheu homens, dos quais se serviu (...) a fim de que escrevessem, como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que ele [Deus ] próprio queria” (Dei Verbum, n. 11).

A Bíblia, por si só, não logra comprovar sua peculiar origem divina. Os muçulmanos também consideram o Alcorão inspirado, uma vez que Maomé teria recebido as suras (capítulos do alcorão) ditadas pelo anjo Gabriel. Sobre os escritos de diversas religiões, não descartamos completamente a inspiração divina. Contudo, trata-se da atuação de Deus no “numinoso” (experiência religiosa), vertida em textos de variegados tipos e diferentes matizes. Afinal de contas, Deus sempre atua com a graça nas obras meritórias. O aparentemente intrincado problema da exclusiva inspiração divina da Bíblia obteve a resposta lapidar de Santo Agostinho: “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (Catecismo da Igreja Católica, n. 119). Desta feita, a Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo (Lumen Gentium, n. 18a), ensina-nos que a Bíblia – e só ela! – é divinamente revelada. Deveras, a Igreja Católica antecede a composição da Bíblia. O primeiro livro escriturístico data aproximadamente do ano 50 D.C. (Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses). Além disso, coube à Igreja Católica deliberar acerca de quais livros deveriam integrar a Bíblia, descartando muitos deles, os apócrifos, por exemplo. Demais, a Igreja, mediante o diuturno trabalho dos monges copistas, preservou a Bíblia em papiros por 1500 anos, até a invenção da imprensa.

Em suma, a prova da inspiração divina da Bíblia não se encontra nela própria, mas no testemunho da Igreja Católica, que no século IV, consumou o cânone das Sagradas Escrituras, vale dizer, a lista dos 73 livros que integram a Bíblia.

Edson Luiz Sampel é Professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina.

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