Você já ouviu falar em sequestro de carbono? Crise climática? Calendário ecológico? Preciso conversar com você.
Por Juacy da Silva e Aline Monçale
As florestas e os oceanos são os grandes mecanismos para o sequestro de carbono e demais gases de efeito estufa, estes grandes provocadores do aquecimento global e das terríveis mudanças climáticas, mudanças estas que já se configuram como uma grave crise climática.
Todavia, se as florestas são destruídas e queimadas; e os oceanos são degradados e transformados, cada vez mais, em uma grande lixeira planetária, esses mecanismos de sequestro de carbono se extinguem, trazendo ainda mais destruição das florestas e a degradação, poluição e o aquecimento de nossas águas num grande ciclo que aumenta assustadoramente o nível de gases de efeito estufa na atmosfera e se retroalimentam.
As florestas e os oceanos são essenciais para que a temperatura média da terra não exceda de 2º graus centígrados em relação à temperatura média existente no período pré-industrial, marco este que, ocorrendo, coloca exponencialmente em risco todas as formas de vida na terra, principalmente a vida humana e isto não é nenhuma novidade, posto que inúmeros relatórios científicos tem nos alertado nos últimos dez anos.
Anualmente, o Calendário Ecológico inclui alguns dias importantes para podermos refletir sobre aspectos significativos para o “nosso futuro comum”. Entre tais celebrações, está incluído o Dia Mundial de Proteção das Florestas, a ser comemorado anualmente em 17 de julho.
Além deste importante dia, podemos também mencionar outros que estão diretamente relacionados com a importância das florestas, tais como: 21 de março – Dia Internacional das Florestas; 28 de abril - Dia da Caatinga; 24 de junho - Dia da Araucária (praticamente já extinta); 27 de maio - Dia da Mata Atlântica (já destruída em mais de 90%); 05 de setembro - Dia da Amazônia (também ainda em processo de intenso desmatamento, queimadas e atividades ilegais de mineração e extrativismo vegetal); 11 de setembro – Dia do Cerrado (outro bioma que vem sendo sistematicamente destruído e degradado por um processo de uso muito intensivo do solo, afetando todos as nascentes e bacias hidrográficas brasileiras); 12 de setembro - Dia do Pantanal (que ao longo dos últimos 30 anos vem sendo destruído impiedosamente por queimadas, o que irá decretar a sua morte nas próximas décadas, se medidas eficazes não forem implementadas); 17 de setembro – Dia dos Pampas (outro bioma bastante degradado) e, 21 de setembro – Dia da Árvore (marco representativo, quando algumas autoridades, em gestos muitas vezes demagógicos e apenas simbólicos, costumam plantar algumas mudinha de árvores, enquanto bilhões de árvores são destruídas tanto no Brasil quanto no resto do mundo).
Um dos, talvez (ou com certeza) o maior desafio socioambiental que a humanidade está enfrentando nos dias atuais e que se agrava a cada dia mais, é a Crise Climática, que reclama uma urgência quanto ao seu enfrentamento.
Esta crise à fruto do aquecimento global que decorre de um processo muito intenso e acelerado de degradação de todos os biomas e ecossistemas, incluindo a destruição da biodiversidade, o desmatamento, as queimadas e o uso muito intensivo de todos os chamados “recursos naturais”, solo, água, minerais e a rica biodiversidade animal e vegetal.
Este processo tem se intensificado desde o início do período industrial, cujos modelos econômicos, políticos, sociais e culturais são movidos pela busca do lucro imediato e a qualquer preço, pela acumulação de riquezas em poucas mãos e grandes grupos econômicos, principalmente de âmbito transnacional, embasados no estímulo ao consumismo, ao desperdício, à obsolescência prematura dos produtos, enfim, uma economia do descarte e da morte.
Tais modelos não respeitam nem os limites da natureza, do planeta Terra, nem os direitos dos trabalhadores e dos consumidores e muito menos os direitos das próximas gerações poderem viver em um mundo sustentável e saudável.
É neste contexto que surge à questão da importância das florestas para, não apenas a mitigação da crise climática, mas também pelo papel que as mesmas, juntamente com outros ecossistemas, desempenham no equilíbrio socioambiental, enfim, da ecologia integral, onde, como tanto vem acentuando o Papa Francisco: “(…) tudo está interligado, nesta Casa Comum” e que na origem da destruição, da degradação dos biomas e dos ecossistemas e da crise climática estão as ações pecaminosas, criminosas e egoístas dos seres humanos.
A solução existe e precisa passar pela conversão ecológica, que tenham como horizonte uma cidadania ecológica plena, em que tanto os direitos das atuais gerações quanto e, principalmente, das próximas gerações estejam presentes e concretamente definidas através de políticas públicas tanto locais, quanto regionais, nacionais e internacionais, onde recursos sejam definidos e alocados para tais políticas e não apenas discursos vagos, demagógicos e manipuladores como, as vezes, sabemos que acontece.
Quando iniciou e se intensificou o processo da industrialização, principalmente na Europa, nos EUA e no Japão, em meados do Século XVIII, as florestas temperadas do hemisfério Norte, praticamente já tinham sido extintas.
Para alimentar a industrialização, ocorreu um processo muito intenso de ocupação, colonização e pilhagem por parte das potências colonialistas, principalmente por parte de países europeus tendo a África, a América Latina e partes do continente asiático como territórios a serem “conquistados, dominados e pilhados”, onde a destruição das florestas e outros recursos minerais eram os alvos preferidos dos colonizadores de outrora e parecem continuar sendo os objetivos das potências dominantes e hegemônicas da atualidade.
De acordo com o último relatório (2023) “O Estado das florestas mundiais”, da WWF, entre 1970 e 2018 a perda da biodiversidade florestal foi de 79% de toda a biodiversidade florestal do mundo.
Conforme relatório da UNEP, agência especializada da ONU para questões de meio ambiente de 2020, sobre a situação das florestas mundiais, entre 1980 e 2020 ocorreram a perda de 178 milhões de ha de florestas seja pelo desmatamento ou por queimadas/incêndios florestais, como vem ocorrendo nos últimos anos no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia brasileira e continental.
O Brasil contribui com assustadores 40% dessas perdas. Em 38 anos, entre 1982 e 2020 nosso país “perdeu” 15% da área de florestas, totalizando 87,4 milhões de ha.
Além do desmatamento e das queimadas que destroem as florestas, cabe ressaltar também que existem no mundo atualmente mais de um bilhão de ha de áreas degradadas, sendo a média anual em torno de 100 milhões de ha, o que demonstra a irracionalidade humana ao destruir as florestas.
Diante deste quadro de destruição das florestas e dos impactos que essa destruição representa para a manutenção do equilíbrio ambiental no planeta, é mais do que urgente que os países cheguem a um acordo internacional para que, realmente, as florestas nativas sejam preservadas de forma planejada e que também as florestas plantadas sejam estimuladas, inclusive as reservas, florestas urbanas e peri-urbanas.
Só assim, poderemos garantir o futuro da humanidade e mitigar a crise climática que se abate sobre o planeta Terra, a nossa Casa Comum.