A organização Médicos Sem Fronteiras pede à União Europeia para "abordar urgentemente as questões que estão na raiz da violência" contra os migrantes, que só resultarão em "mais sofrimento e mortes desnecessárias".
A União Europeia (UE) está "cada vez mais excluindo as pessoas dos sistemas de acolhimento e proteção", e elas são "forçadas a viver em condições extremamente precárias", relata a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF), durante o lançamento de seu mais recente relatório sobre o tema, intitulado "Morte, desespero e miséria: os custos humanos das políticas de migração da UE", que documenta o que membros desse organismo internacional observaram entre agosto de 2021 e setembro de 2023.
Segundo a organização, países como Bélgica, França e Países Baixos estão implementando políticas de acolhimento cada vez mais hostis. Um paciente da MSF em Calais, França, relatou à organização as práticas policiais com as quais se deparou no último ano. "A polícia apreende todos os dias os cobertores e barracas fornecidos por organizações voluntárias. Dormi ao relento, no frio. Tentamos nos manter aquecidos acendendo uma fogueira, mas a polícia veio e a apagou com um extintor, jogando água sobre nós", contou.
A MSF indica que países como França, Bélgica e Reino Unido estão cada vez mais recorrendo à avaliação da idade das pessoas como uma forma adicional de negar-lhes o acesso ao estatuto de proteção. A MSF oferece apoio na França a menores não acompanhados que não são reconhecidos como tal durante a avaliação de idade. "Essas políticas hostis representam um grande fator de estresse, privando os menores de segurança, status administrativo e representação legal", aponta a organização.
De acordo com a MSF, na França, "esses menores são deixados de fora do sistema de proteção ou têm que esperar longos meses para ter acesso aos serviços sociais". "Sem acesso a moradia, enfrentam precariedade, isolamento e situações de rua. Essas condições de vida inseguras os expõem a riscos adicionais, como má nutrição, frio, violência, exploração sexual, tráfico e dependência", alerta a organização, acrescentando que "cerca de 15% das crianças não acompanhadas apoiadas pela MSF em Paris sofreram violência e relataram que isso ocorreu na França".
Médicos Sem Fronteiras afirma que a UE "precisa enfrentar urgentemente as questões que estão na raiz da violência", e que a "normalização da violência não impedirá as pessoas de virem, mas levará a mais sofrimento e mortes desnecessárias". O relato de um homem sírio resgatado no mar pela MSF no ano passado confirma isso. "Eu nem consigo descrever a Líbia. Se eu viver mais dez anos, não conseguirei descrever tudo o que vi na Líbia."