COP28 aprova acordo histórico visando reduzir combustíveis fósseis, mas desafios persistem para a ação climática global.
Por Redação
Foto: LUSA
Pela primeira vez, uma cúpula sobre o clima aprovou um acordo que menciona a redução dos combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás. Esses são considerados os principais responsáveis pelas emissões que causam mudanças climáticas, representando cerca de 80% da energia global.
O texto mais complexo proveniente da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP28) foi aprovado após extensas negociações. O acordo "reconhece a urgência de reduções significativas, rápidas e contínuas das emissões de gases do efeito estufa" e insta as partes a contribuírem para uma "transição para a eliminação dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia, de maneira justa, organizada e equitativa, acelerando as ações nesta década crucial para alcançar emissões líquidas nulas até 2050, em conformidade com a ciência". O documento também delineia medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e destaca a necessidade de triplicar as energias renováveis.
Após o acordo, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável – divulgou um comunicado alertando que o texto da COP28 não aborda "especificamente a eliminação gradual e a mitigação dos combustíveis fósseis de maneira que realmente represente a mudança radical necessária". A associação lamenta que o documento apresente lacunas que poderiam ser aproveitadas por países não alinhados com a ação climática.
A COP28 ocorreu em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro, reunindo representantes de mais de 200 países. Logo no início do evento, foi tomada uma decisão histórica: a criação de um fundo de "perdas e danos" para apoiar nações vulneráveis às mudanças climáticas. O fundo prevê um financiamento de 100 bilhões de dólares por ano, com início oficial em 2024. Portugal deve contribuir com cinco milhões de euros, porém, essa quantia pode ficar aquém do necessário.
O Primeiro-ministro português, António Costa, destacou durante a COP28 que Portugal atingiu um marco significativo: "por seis dias consecutivos, toda a eletricidade consumida foi proveniente de fontes renováveis". Ele também anunciou a meta de que até 2030, 85% da eletricidade do país será de fontes renováveis e enfatizou o compromisso com a reforma florestal para prevenir incêndios.
No entanto, a ZERO elogiou a comunicação de António Costa, mas ressaltou questões não abordadas em seu discurso, como o "aumento previsível das emissões de gases do efeito estufa em 2023" e preocupações com investimentos em grandes centrais de energia renovável e mineração de lítio, bem como o investimento em um gasoduto para exportação de hidrogênio.
Durante a COP28, nos Emirados Árabes Unidos, onde o evento aconteceu, as manifestações eram proibidas por lei. Os protestos associados à cúpula ocorreram em uma área específica, sem identificação de empresas ou bandeiras nacionais, e foram usados para apelar ao cessar-fogo na Palestina e ao abandono dos combustíveis fósseis.
Um relatório da ONG Equidem expôs que os trabalhadores migrantes que construíram as instalações da COP28 estiveram expostos a altas temperaturas e ao sistema de kafala, uma forma de exploração tradicional desses trabalhadores na região.
Houve questionamentos sobre possíveis conflitos de interesses, já que o presidente da COP28 foi Sultan Ahmed Al Jaber, ministro da indústria nos Emirados Árabes Unidos e presidente de empresas de petróleo e energias renováveis. Além disso, pela primeira vez, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) teve um pavilhão na Cimeira do Clima, levantando debates sobre a influência da indústria dos combustíveis fósseis.
O Papa Francisco, que planejava participar, acabou cancelando sua viagem por recomendação médica. Seu discurso, lido pelo cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, destacou a necessidade de olhar para o impacto das nações mais ricas sobre as mais pobres, tanto financeiramente quanto em termos de dívida ecológica.
Ele fez um apelo por uma vontade política clara na busca por fontes de energia mais eficientes e sustentáveis, eliminando os combustíveis fósseis. Francisco concluiu seu discurso pedindo união e esforço para transformar o futuro comum em um amanhecer de luz.