Responsabilidade da Igreja Local com a Missão

Por Esmeraldo B. de Farias*

A comunidade eclesial deve acolher a missão e deixar-se dinamizar permanentemente por ela. Sinodalidade e missão são aspectos inseparáveis do mistério da Igreja. Confira o artigo do terceiro dia de Conferência do 5º Congresso Missionário Nacional, realizado em Manaus, 10 a 15 de novembro de 2023.

Os Evangelhos revelam a vida missionária de Jesus. Em João 4,34 Ele diz aos discípulos: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e levar a termo sua obra”. Ele é o missionário do Pai, e a missão ocupa a centralidade na sua vida e na vida das primeiras comunidades. Após sua ressurreição, Ele diz aos apóstolos: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20,21). E acrescenta: “recebereis a força do Espírito Santo que virá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, até os confins da terra” (At 1,8). A Igreja recebe de Jesus o mandato missional, prepara discípulos missionários(as) e os envia para serem anunciadores da Boa Nova de Cristo a toda criatura pelos confins do mundo, mesmo em meio a sofrimentos e incertezas (cf. At 8,2ss; 20,22-32).

Nessa direção, o Concílio Vaticano II realiza o movimento de voltar às fontes (Sagrada Escritura e comunidades dos primeiros séculos), para renovar a experiência do encontro com Jesus, o verbo encarnado; a fé e o modo de vida despojado e comunitário dos apóstolos junto às comunidades. O Vaticano II fez ver que a missão é da natureza da Igreja e a configura. Por isso, a Igreja local, formada pelo Povo de Deus com seus pastores e suas comunidades, é chamada a anunciar Jesus Cristo e vivenciar a missão numa profunda comunhão com a Igreja Universal. “A Igreja de Jesus Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais de fiéis, mesmo que sejam pequenas e pobres, ou vivendo na dispersão” (LG 26). “Todas elas são formadas à imagem da Igreja universal, nas quais e pelas quais subsiste a Igreja Católica una e única” (LG 23).

A Igreja existe para evangelizar e este não é um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial (EN 14 e 60). Pelo batismo, somos incorporados em Jesus Cristo, assumimos a missão numa comunidade eclesial por meio da oração, da disponibilidade generosa com os vários serviços, da ajuda material e espiritual e da participação consciente em todos os setores da sociedade. Isso só será possível se a Igreja local tomar consciência de sua essência missionária. Ou seja, as pessoas batizadas, também reunidas em comunidades, devem viver e assumir suas responsabilidades eclesiais missionárias.

O Papa Bento XVI diz: “uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária (SC 84). E tudo o que nela se realiza, a fé, a eucaristia, a caridade, os dons espirituais, possui uma intenção universal, é articulado e inspirado pelo dinamismo do Espírito e visa edificar uma só Igreja, povo de Deus, Corpo de Cristo, templo do Espírito. Não é somente a presença do todo em cada parte, mas exige que as partes sejam ordenadas ao todo, observa Ives Congar.

Assim como a missão, a sinodalidade é uma dimensão constitutiva da Igreja. Ela se revela pela escuta, pelo diálogo fraterno. Sinodalidade e missão são aspectos inseparáveis do mistério da Igreja. A missão é de todos e deve ser assumida por todos (“caminhar juntos” do povo de Deus) e a sinodalidade se dá na e em função da missão (“caminhar juntos” na missão que vem de Deus). “Uma Igreja fechada em si mesma, sem abertura missionária, é uma Igreja incompleta ou uma Igreja enferma” (S. João Paulo II). E o antídoto para essa e outras enfermidades, como o clericalismo, passa justamente pela capacidade de a Igreja assumir sua própria natureza sinodal, missionária e ministerial, um modo de ser e agir que busca, pela Evangelização, tornar o Reino de Deus presente no mundo (EG 176).

Portanto, a comunidade eclesial deve acolher a missão e deixar-se dinamizar permanentemente por ela. E esse desafio vale também para a formação de ministros ordenados que, como sujeitos do processo, são chamados a vivenciar ações missionárias, descobrindo, a partir delas, que o Espírito Santo nos antecede, é o protagonista da missão e leva adiante a missão que é de Deus!

Dom Esmeraldo B. de Farias é Bispo de Araçuaí (MG)*

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